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MÍDIAS SOCIAIS
TV quilombola ajuda comunidade a preservar memória de lutas
“Cuidado com meu pé, vocês não estão vendo que eu tô fazendo uma reportagem? Podem parar só um minutinho? Não vão cortar o meu pé.” É com essa mistura de humor e franqueza que o repórter Raimundo Quilombo aborda os entrevistados nos arredores da igreja do Quilombo Rampa, em Vargem Grande, Maranhão, onde vivem cerca de 500 pessoas. O grupo capina o chão para os festejos de São Bartolomeu e entra no clima descontraído do repórter. Todos já estão acostumados com o estilo de cobertura da TV Quilombo, que desde 2017 acompanha o dia a dia da comunidade. ![]() ![]() Raimundo Quilombo (foto) e o primo William Cardoso tiveram a ideia de criar um sistema de comunicação do Quilombo Rampa – TV Quilombo/DivulgaçãoCansados de serem invisíveis para a mídia tradicional, Raimundo e o primo William Cardoso decidiram criar um sistema de comunicação local. Havia muitas histórias para contar. Desde as ancestrais, que remetem ao início do século 19, quando os quilombos eram centros de resistências de escravizados fugitivos, até os dias atuais, em que a população local enfrenta novos desafios de acesso aos serviços públicos. No dia em que se comemoram os 190 anos de surgimento da imprensa negra no Brasil, é preciso lembrar também de outras formas de comunicação que ajudam a preservar a memória e divulgar as lutas do povo negro.
Criatividade e improvisaçãoNo começo de tudo, Raimundo e William não tinham equipamentos para gravar as coberturas que faziam no quilombo. Nada de celular, computador, microfone ou câmera de vídeo. Nas palavras deles, o que tinha era só a força de vontade mesmo. Era usar a imaginação e a criatividade para interagir com as pessoas. Quando conseguiram o primeiro celular, ele foi adaptado a uma câmera de papelão. ![]() ![]() “Bambu drone” usado pela equipe da TV Quilombo – TV Quilombo/DivulgaçãoVieram outros materiais improvisados e ancestrais da comunidade. Microfones de graveto, que, mesmo sem captar áudio, davam mais credibilidade às entrevistas. O bambu foi usado para construir um tripé para a câmera e o “bambu drone”, uma vara de 10 metros em que o celular é amarrado com cipó. Os recursos ajudaram tanto a estabilizar a imagem quanto a gravar eventos por uma perspectiva do alto. “Esses materiais modernos é que têm que se adaptar à nossa realidade e não o contrário. E, quando você inverte a lógica, indica que a maior tecnologia sempre foi e sempre será a ancestral. Porque é a única comunicação que não falha. A gente coloca os materiais ancestrais no meio da TV como uma forma das pessoas mais velhas olharem e se sentirem representadas”, diz Raimundo. ![]() ![]() Cerca de 500 pessoas vivem no Quilombo Rampa, em Vargem Grande (MA) – TV Quilombo/DivulgaçãoEssa escolha ajudou a quebrar a resistência da comunidade, que no começo olhava desconfiada para a iniciativa dos jovens. Com o tempo, as pessoas passaram a chamá-los para fazer as coberturas e registrar os eventos. Mais um sinal de sucesso da iniciativa é que a equipe aumentou de dois para 40 jovens. Eles trabalham tanto na TV, quanto na Rádio Quilombo e nas redes sociais. Formação profissionalNa equipe da TV Quilombo, não há jornalistas profissionais, com diploma universitário. A possibilidade de estudar e ter esse tipo de formação está no horizonte, até para que o trabalho continue crescendo e surjam outras oportunidades de trabalho. A maior limitação nesse momento é ausência de determinadas instituições e serviços na região. Enquanto não podem contar com uma universidade mais acessível, os comunicadores do quilombo recorrem aos aprendizados ancestrais.
![]() ![]() Criatividade é uma das marcas da equipe da TV Quilombo – TV Quilombo/DivulgaçãoO grupo não usa uma linguagem técnica, nem tem um manual de redação. O estilo de comunicação vai se desenvolvendo junto com a comunidade, no próprio processo de construção das reportagens. Isso ajuda a criar uma identificação maior com a TV e até a inspirar outros quilombos, que chamam a equipe para participar de coberturas, festas e entrevistas com anciãos locais. Recentemente, a equipe da TV Quilombo também teve a oportunidade de ir além do estado, cobrindo a Marcha das Margaridas em Brasília. Lá, além do evento, participou de um encontro para falar sobre racismo ambiental e trazer experiências da relação da comunidade com a natureza. Para aperfeiçoar o trabalho que vem sendo feito, os jovens pedem doações via Pix no site oficial. No momento, não contam com nenhum tipo de patrocínio ou apoio mais consistente. Mas isso não impede que mantenham a missão de documentar, preservar e divulgar a cultura quilombola. “É muito difícil as pessoas apoiarem esse tipo de projeto que denuncia racismo, violação de direitos, racismo ambiental e todas as formas de preconceito que existem contra comunidades quilombolas. Se fosse depender de ajuda financeira, o projeto nem tinha nascido. Nesse mundo moderno, para ter equipamento e internet melhores, temos nossos desafios. Ainda mais quando não temos acesso a políticas públicas de financiamento”, analisa Raimundo. “O mais importante é que a gente vem crescendo sem mudar o nosso jeito de fazer comunicação popular.” Fonte: Agência Brasil |

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