Terreiros de Santo Amaro se unem contra o racismo religioso


no ano seguinte à promulgação da Lei Áurea, que acabou com a escravidão legal no Brasil, em 1889, João de Obá organizou uma celebração em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano: o Bembé do Mercado. A festa reuniu os pescadores e os terreiros de candomblé para denunciar, no dia 13 de Maio, as condições em que a chamada abolição deixou a população negra, sem nenhuma reparação pelo sequestro das populações africanas e pelos anos de trabalhos forçados.

Santo Amaro (BA), 28/02/2023 - Terreiros de Santo Amaro (BA) se unem contra racismo, Babá Sérgio, da Associação religiosa Ilê Yá Oman posa para foto em eu terreiro. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Joédson Alves/Agência Brasil

“Não é a comemoração do 13 de Maio, da suposta abolição da Princesa Isabel. O Bembé do Mercado é a afirmação da resistência do nosso povo. Quando houve a suposta abolição no 13 de Maio de 1888, eles [negros] não tinham terra. Ficaram todos à deriva. E muitos se submeteram a continuar com a vida de escravo porque não tinha terra, não tinha como comer”, explica Babá Sérgio, do Ilê Oman, que é diretor de comunicação da associação que reúne 60 terreiros do município para cuidar da organização do Bembé do Mercado.

Os pescadores que construíram essa manifestação eram, segundo Sérgio, aqueles que buscavam formas de sobrevivência sem ter acesso à terra. “Eles tiraram [o sustento] do mar, porque o mar não tem dono”, conta.

Patrimônio cultural

Santo Amaro (BA), 28/02/2023 - Terreiros de Santo Amaro (BA) se unem contra racismo, māe Lidu (c), posa para foto com suas filhas de santo em eu terreiro Ilê Axé Igbalé. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Māe Lidu (c), posa para foto com suas filhas de santo no terreiro Ilê Axé Igbalé. Joédson Alves/Agência Brasil

O Bembé foi reconhecido como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, em 2012, e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2019. A celebração envolve a realização de obrigações religiosas, com dedicações a Exu, Iemanjá e Oxum, e também manifestações culturais afro-brasileiras, como a capoeira e o samba de roda. As festas ocorrem em pontos centrais da cidade de Santo Amaro, município fundado no século XVI em um local que era habitado originalmente por povos indígenas.

Mais do que uma festa histórica, o Bembé é uma organização dos terreiros de Santo Amaro para preservar a cultura local e fazer resistência contra a violência do racismo que afeta as religiões de matriz africana. Um processo que, segundo Babá Sérgio, se aprofundou no último governo, do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“A gente lutou, pediu a Deus e aos orixás, aos voduns e aos encantados. No último governo, houve muitos ataques aos nossos terreiros. A gente quase foi banido pela forma de sacralização dos animais por uma perseguição à nossa religiosidade. Os frigoríficos, os abatedouros, [matam] milhares de aves. Mas o problema é porque é o candomblé, porque é de negro”, critica o responsável pelo terreiro fundado em 1933.

O Ilê Oman está atualmente fechado, em luto de um ano pela morte da matriarca mãe Lydia, em dezembro de 2022. Lydia ficou 48 anos à frente da casa e dedicou 70 dos 86 anos que viveu ao candomblé.

Babá Sérgio reconhece a delicadeza de lideranças religiosas se posicionarem politicamente. No entanto, ele enxerga que certos momentos exigem atuação. “A gente não pode colocar a religiosidade em política de homem, em política partidária. Mas, de uma forma ou de outra, a gente tem que falar, porque é a política que nos move”, enfatiza.

Por isso, ele espera que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva traga um respiro para o povo de santo. “A nossa esperança era viver com menos perseguição. Isso nós vamos conseguir, eu tenho certeza”, diz.

“Botar pé firme e lutar”

Santo Amaro (BA), 28/02/2023 - Terreiros de Santo Amaro (BA) se unem contra racismo, māe Williana de Odé, posa para foto em eu terreiro Ilê axé Ojú Igbô Odé. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Māe Williana de Odé, em eu terreiro Ilê axé Ojú Igbô Odé – Joédson Alves/Agência Brasil

A iaquequerê (mãe pequena) do Ilê Axe Igbalê, mãe Lyndu se assusta com a proporção da perseguição aos terreiros e seguidores do candomblé nos últimos anos.

“Muito preconceito religioso. A gente se veste com a roupa do santo para poder fazer as coisas que tem que fazer. E muita gente desfaz da gente, da nossa religião, da nossa matriz africana. A gente faz as caminhadas aqui para ver se acaba com isso”, diz em referência às manifestações contra o preconceito organizadas pelos terreiros na cidade.

Os fiéis, segundo a mãe de santo, se esforçam para conciliar as práticas ancestrais com o respeito à comunidade e ao meio ambiente. “A gente não mexe com ninguém. Cumpre as obrigações. A gente não polui o rio. Quando a gente leva um presente para a praia, a gente não joga frasco de perfume. A gente não joga saco plástico. Nada disso nós fazemos, temos todos os cuidados”, explicou.

Apesar da discriminação, mãe Lyndu defende que os costumes têm que ser mantidos. “A resistência da gente é botar pé firme, chamar por deus e lutar”, resume. “O povo fale ou não fale, critique ou não critique, nós temos que continuar. Não podemos parar com nossa cultura, com nosso axé, com nossas raízes. Temos que continuar lutando”, acrescenta sobre a disposição em manter viva a religião.

“Sofremos muitos ataques, discriminação. As pessoas não nos respeitam. E, depois do governo passado, ficou pior a situação”, avalia Williana de Odé do terreiro Ilê Axé Oju Igbo Odé e que também faz parte da diretoria da associação do Bembé do Mercado. Mas a mãe de santo também não se intimida com a hostilidade racista. “Eu visto minha roupa, boto minhas contas e saio pela rua. Mas tem muitas pessoas que nem falam que são do candomblé”, diz.

Para enfrentar essa situação, Williana tem confiança na união dos praticantes da religião. “Estamos nos unindo cada vez mais. E temos sempre reuniões, através do pai Pote [presidente da associação] e do Bembé do Mercado. Estamos sempre nessa questão de nos unir para estarmos nos setores, fazendo os trabalhos, para viajar, [e para a] caminhada contra a intolerância religiosa”, ressalta.




Fonte: Agência Brasil

Estações de transporte em SP terão programação para o Dia da Mulher


A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e o Metrô de São Paulo terão uma programação especial para o Dia Internacional da Mulher, comemorado na quarta-feira (8).

No Metrô, na terça-feira (7), a Estação Santana será palco da exposição Viver é Morrer, com 48 imagens da artista Silvia Husek, que convida à reflexão sobre o envelhecimento e a invisibilidade da mulher acima dos 50 anos de idade.

Na quarta-feira, na Estação Brás do Metrô, haverá uma roda de conversa entre ferroviárias e estudantes do ensino fundamental e médio para falar sobre profissões. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) levará à Estação Tatuapé a ação Descubra-se, que abordará temas como inteligência emocional e empoderamento feminino nos negócios. E no Terminal Metropolitano da EMTU, passageiras terão à disposição oficina de costura e orientações sobre empreendedorismo.

Ainda na quarta-feira, na Estação República, ocorre uma ação organizada pelo Centro de Reestruturação para a Vida, que promoverá o diálogo sobre gravidez inesperada, violência e abuso contra a mulher, entre outros assuntos debatidos pela instituição.

Para reforçar o combate ao assédio sexual, as agentes femininas do Metrô entrarão nos vagões para mostrar que qualquer mulher pode contar com a ajuda delas em caso de assédio. Além disso, a ação divulgará o X na mão, campanha mundial que orienta a mulher a sinalizar que está em perigo.

Já a CPTM promove a apresentação da Banda 710, formada por maquinistas das linhas 7-Rubi, 10-Turquesa e 11-Coral, na Estação Barra Funda. Na Estação Jardim Helena-Vila Mara, a companhia inaugura mais um Espaço Acolher para atender mulheres que sofrem importunação sexual.

Na quinta-feira (9), a Estação Santa Cecília do Metrô contará com sessão de cinema, em parceria com a Academia Internacional de Cinema, para exibição de curtas-metragens que apoiam iniciativas focadas no tratamento terapêutico das mulheres presas.

Na quarta-feira (22), um grupo de grafiteiras, composto por mulheres brasileiras e refugiadas, vai revitalizar a Estação Jardim Romano da CPTM, em uma parceria com o artista plástico Ziza, o Centro de Integração e Cidadania do Imigrante e a Secretaria de Cultura.

A programação completa pode ser encontrada site do governo de São Paulo.




Fonte: Agência Brasil

InfoDengue lança e-book sobre dengue e mudanças climáticas


O sistema InfoDengue, de monitoramento de arboviroses desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Fundação Getulio Vargas (FGV), lançou um e-book (livro digital) gratuito sobre dengue e mudanças climáticas em territórios periféricos. O livro mostra que temperaturas altas, mudanças no ciclo de chuva e a incidência de secas, decorrentes do processo de mudanças climáticas e intensificadas, muitas vezes, por ações humanas, favorecem a expansão de doenças transmitidas por mosquitos, como Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.

Segundo a pesquisadora da Fiocruz e coordenadora do InfoDengue, Cláudia Codeço, o livro digital pode ser utilizado também como material de apoio em sala de aula e em ações de educação em saúde. Ela disse que a ferramenta vem preencher uma necessidade de materiais didáticos para uma grande parcela da população que vive em locais vulneráveis aos eventos extremos do clima. O e-book busca trazer a reflexão sobre esse tema e, também, ações que podem ser realizadas para enfrentamento do problema, disse Cláudia à Agência Fiocruz de Notícias.

Relatório

As análises do InfoDengue reforçam o relatório Contagem regressiva sobre a saúde e as mudanças climáticas, feito em parceria com 35 instituições, entre as quais a Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório salienta que o aquecimento global promove a expansão dos mosquitos responsáveis pela transmissão da dengue, oferecendo um ambiente quente e de chuvas, propício à reprodução dos insetos e vírus.

O documento foi publicado na revista The Lancet e mostra que a pluviosidade eleva a quantidade de criadouros aptos para o desenvolvimento das larvas dos mosquitos, propiciando condições ambientais apropriadas para o alastramento dos insetos já adultos. Da mesma forma, acelera a transmissão do vírus entre mosquitos e humanos.

De acordo com dados do segundo volume do Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC/ONU), habitantes de regiões vulneráveis em todo o mundo morreram 15 vezes mais em decorrência de secas, enchentes e tempestades do que aqueles que vivem em áreas seguras.

InfoDengue

O sistema InfoDengue monitora, atualmente, dados de dengue, zika e chikungunya em todo o país de forma integrada. São analisados dados epidemiológicos de notificação, dados climáticos e dados de menção às doenças nas redes sociais, corrigindo atraso das notificações dos dados para agilizar a tomada de decisão. As informações são enviadas semanalmente, em boletins, para as secretarias de Saúde.

Aplicativo

Ao identificar o aumento do acesso ao site e visando otimizar o tempo dos usuários do sistema de monitoramento online de arboviroses InfoDengue, o coordenador do projeto e pesquisador da Escola de Matemática Aplicada da FGV, Flávio Coelho, desenvolveu o primeiro aplicativo para celulares Android e IOS do InfoDengue. A partir desse aplicativo, é possível buscar a situação das arboviroses na região de interesse de cada cidadão.




Fonte: Agência Brasil

São Sebastião transfere desabrigados para rede hoteleira


A Prefeitura de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, informou, neste domingo (5), que foram concluídas as transferências para rede hoteleira local de 938 pessoas desabrigadas pelas fortes chuvas que atingiram a região em 19 de fevereiro.

Elas estavam abrigadas em dez escolas públicas e agora foram levadas para cerca de 30 hotéis e pousadas da costa sul e central do município, onde continuarão a receber três refeições diárias. A administração municipal ressaltou que, com a transferência dos desabrigados, as escolas agora estão liberadas para retomar as aulas.

No sábado (4), a Defesa Civil começou a realizar a Operação Desmonte no município, para averiguar as edificações que estão condenadas. Até o momento, já foram interditadas definitivamente 70 casas na Vila Sahy, região que sofreu os maiores danos pelas chuvas, e nove no bairro Itatinga.

De acordo com a prefeitura, o número de residências condenadas ainda é impreciso já que muitos imóveis ainda precisam ser avaliados pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA). A demolição das casas consideradas irrecuperáveis também não tem data para ocorrer.

“O desmonte das residências condenadas é considerado complexo e não há uma previsão para a sua conclusão, uma vez que, em muitos casos, o trabalho será feito de forma manual”, informa boletim divulgado pela prefeitura.

A administração municipal informou ainda que, desde quinta-feira (2), está realizando terraplenagem em três dos oito terrenos indicados ao governo do estado para construção de casas que serão destinadas às vítimas da catástrofe. São dois terrenos em Topolândia, de 8,9 mil metros quadrados e 3,5 mil m²; e um na Vila Sahy, de 10,6 mil m².

“Este último [Vila Sahy], trata-se de uma área plana e segura onde a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) implementará um programa habitacional para famílias de baixa renda, destinado ao atendimento de moradores de áreas de risco afetadas e que perderam suas casas na catástrofe”, informou a prefeitura.

Segundo o governo do estado, até o momento, 65 óbitos foram confirmados: 64 em São Sebastião e um em Ubatuba (SP). Já foram identificados e liberados para o sepultamento 57 corpos: 21 homens adultos, 17 mulheres adultas e 19 crianças.

A Secretaria de Estado da Saúde informou que quatro pessoas ainda estão internadas no Hospital Regional do Litoral Norte (HRLN), em Caraguatatuba. O estado de saúde delas é estável. Já receberam alta hospitalar 19 pacientes e cinco foram transferidos para outras unidades hospitalares.




Fonte: Agência Brasil

Famílias de baixa renda podem solicitar parabólica digital gratuita


Famílias de baixa renda de 439 municípios podem solicitar o agendamento e a instalação de uma parabólica digital. A instalação é gratuita. De acordo com o Ministério das Comunicações, a família precisa estar inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e ter em casa uma parabólica tradicional instalada e em funcionamento.

Veja a lista de cidades

A troca da parabólica tradicional pela digital é para garantir que não haja interferência (chuvisco, chiado e imagem travada) nos canais abertos de TV por satélite com a chegada do 5G, pois o sinal é transmitido pela mesma frequência, segundo a pasta. Além disso, a parabólica digital oferece som e imagem com mais qualidade e 100 canais gratuitos.

Estima-se que 1,5 milhão de pessoas serão beneficiadas. São Paulo é o estado com mais municípios com kits de instalação, 163. Em seguida, aparecem Santa Catarina (36) e Paraná (33).

Como fazer o agendamento

Para agendar a instalação da antena de TV parabólica digital, a família deve entrar em contato pelo telefone 0800 729 2404 ou pelo site sigaantenado.com.br. É preciso informa dados pessoais, CPF e o NIS.




Fonte: Agência Brasil

Operação resgata três trabalhadores em condições análogas à escravidão


Em operação inédita, 23 servidoras públicas federais resgataram três trabalhadores que se encontravam em condições degradantes de trabalho, uma das modalidades do trabalho análogo ao de escravos, no Sítio Serra Verde, em Bom Jardim de Minas (MG). A operação foi organizada em alusão ao Dia Internacional da Mulher, comemorado no próximo dia 8.

“A ação foi exclusivamente feminina. As motoristas das viaturas, toda a composição da equipe foi feminina”, informou hoje (5), à Agência Brasil, a auditora fiscal do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Andréia Donin, coordenadora da ação. Também participaram da operação a Polícia Federal, Ministério Público do Trabalho e Defensoria Pública da União.

Segundo a auditora, as três pessoas estavam em situação de extrema miserabilidade. “Eles estavam ganhando entre R$ 400 e R$ 500 por mês. Estavam em condições muito precárias, principalmente em questões de alimentação, moradia. Já trabalhavam lá há muito tempo”, disse. Quando a equipe chegou ao local, no horário do almoço, comprovou que os três trabalhadores não tinham carne, só dispunham de arroz e feijão para comer. E se quisessem comer ovo, tinham que pagar R$ 1 por ovo à proprietária do sítio. “Eles não tinham ideia do valor do salário mínimo”. Quando souberam que o mínimo tem valor de R$ 1.302, mostraram surpresa, porque recebiam R$ 100 por semana.

Andréia informou que a dona do sítio está respondendo administrativamente ao Ministério do Trabalho. “Ela vai receber os autos de infração; não fez o pagamento das verbas rescisórias dos trabalhadores”. Pelo cálculo efetuado pelas servidoras públicas, só de verbas salariais rescisórias do período trabalhado deu R$ 177 mil. “Como ela não fez o pagamento, a Defensoria Pública da União vai ajuizar uma ação para cobrança desses valores”.

Acordo

Por meio de um representante, a proprietária do sítio fez acordo com o Ministério Público do Trabalho para o pagamento de indenização de R$ 5 mil, para cada trabalhador, a ser paga em dez parcelas de R$ 500. Ela vai responder administrativamente.

A auditora disse que o procurador do Ministério Público Federal que ficar responsável pelo caso pode também fazer uma queixa-crime contra a dona do sítio, que estará sujeita, inclusive, à prisão por trabalho análogo à escravidão. O período de detenção vai variar de acordo com os agravantes.

Ela disse que “administrativamente, ela já está respondendo por trabalho análogo ao de escravo, porque foi caracterizada condição degradante de trabalho”. A proprietária não é repetente na infração. Essa é a primeira situação dela, informou a auditora.

Dois dos três trabalhadores são irmãos e trabalhavam no sítio desde 2015, quando venderam uma casa que possuíam por R$ 12 mil e adquiriram um lote de terra de 200 metros quadrados no Sítio Serra Verde. Como não tinham nenhum documento que comprovasse a compra e garantisse a posse da terra, decidiram ficar vinculados ao local, porque tinham muito receio de deixar o sítio, ir trabalhar em outra propriedade e perder o único bem que tinham, que era aquele lote comprado em 2015 por R$ 12 mil. Foi firmado no termo de ajustamento de conduta um acordo com a empregadora para regularizar a situação desse lote de terra.

O terceiro trabalhador, de 74 anos, é aposentado e recebia R$ 100 por semana. Trabalhava no sítio desde 2008 como caseiro e cuidando do gado.




Fonte: Agência Brasil

CCBB RJ apresenta Festival Internacional Cinema e Transcendência


O Festival Internacional Cinema e Transcendência fez sua estreia no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ), comemorando 10 anos, com uma seleção de dez filmes que marcaram sua trajetória. Há também a Mostra Brasil Profundo, com 16 títulos que revelam ao público o sertão brasileiro, com suas características mitológica, poética, indígena, africana, encoberto por lendas, festejos e cordéis. Estão aí incluídas obras de Geraldo Sarno e Glauber Rocha.

O evento estreou no Rio de Janeiro este mês, depois de oito edições em Brasília e duas online e fica no CCBB RJ até o dia 19, seguindo depois para o CCBB SP, de 26 de março a 16 de abril. Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia entrada) e são disponibilizados às 9h do dia da sessão na bilheteria física, ou no site do Banco do Brasil. A Sala de Cinema 1 do CCBB RJ tem 102 lugares, sendo quatro para cadeirantes.

Considerado o único festival de cinema no Brasil que investiga a subjetividade dos caminhos da consciência e do autodesenvolvimento por meio da arte cinematográfica, o evento terá programação especial no Dia Internacional da Mulher, nesta quarta-feira (8). Serão exibidos dois longas-metragens que abordam os legados da filósofa e ativista popular indiana Vimala Thakar (In the Fire of Dancing Stilness), às 15h; e de Gloria Arieira, professora brasileira de Vedanta, conhecimento ancestral da Índia (Kamala, Caminhos da Gloria), às 17h. Às 18h30, será exibido o episódio Marieta, Mãe do Mundo, da série de TV Resto de Mundo, seguido de bate-papo sobre a natureza feminina, com Gloria Arieira, Diego Zanotti, seu aluno e diretor da série, e Carina Bini.

O festival apresenta também, além dos filmes, atividades culturais que incluem aulas de yoga, de frevo, contação de estórias, apresentações musicais, nos fins de semana, no salão do cinema, com entrada franca.

Retrospectiva

Criado em 2013, o Festival Internacional Cinema e Transcendência reúne filmes que exploram a experiência da transformação pessoal a partir das suas narrativas. De acordo com os organizadores, os títulos selecionados promovem uma relação transformadora entre o cinema e a realidade de cada pessoa, abordando temas como a espiritualidade, práticas de autoconhecimento, meditação, biografias de estudiosos, sábios ou gurus, ancestralidade, expansores alucinógenos, terapias, xamanismo e outras questões que abordam o caminho de busca pela consciência.

Para o curador André Luiz Oliveira, a possibilidade de promover a relação do cinema como arte mediadora entre o sentido estético e a experiência introspectiva de autoconhecimento é a tônica do festival. Durante os primeiros anos da pandemia do novo coronavírus, o festival teve edições online gratuitas que atingiram 60 mil pessoas no Brasil e no exterior.

A programação retrospectiva do décimo aniversário do festival no CCBB Rio traz, entre outros, documentários como Psicomagia, o mais recente filme do chileno Alejandro Jodorowsky, para quem o cinema é capaz de “transformar almas e mentes”; Meeting the Beatles in India, no qual o cineasta Paul Saltzman refaz sua jornada de 50 anos atrás, quando conviveu com os Beatles na casa do guru Maharishi Mahesh Yogi; Orin – Música para os Orixás, de Henrique Duarte, sobre a influência das cantigas sagradas dos terreiros de candomblé na música popular brasileira, entre outros.

Brasil profundo

Entre os destaques da Mostra Brasil Profundo, está o clássico O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, obra-prima de Glauber Rocha, premiado com melhor direção no Festival de Cannes em 1969, que apresenta um estrato da sociedade brasileira injusta e violenta do Nordeste, ao mesmo tempo, rica e poderosa na sua essência cultural. O filme é conhecido internacionalmente como Antonio das Mortes, nome do protagonista, que apareceu em outro filme do diretor, Deus e o Diabo na Terra do Sol, de 1964.

São relembradas também obras do cineasta Geraldo Sarno (1938-2022), diretor e roteirista baiano, que abordou temas como o movimento migratório brasileiro, as religiões e cultura populares. Serão exibidos três curtas clássicos, filmados na década de 1970 (Jornal do Sertão, Padre Cícero e Vitalino), além de seu último longa-metragem Sertânia, lançado em 2020.

Estão na programação ainda dois filmes do cineasta cearense Hermano Penna, que têm como tema o cangaço e a arte cabocla, o média-metragem Nhô Caboclo e o elo perdido, baseado nas manifestações culturais do encontro entre negros e índios; e o longa José de Julião – Muito além do Cangaço, que recupera a figura de um homem que passou de cangaceiro a político, no sertão de Sergipe. Tendo como referência também o sertão e o cangaço, o festival apresenta o curta-metragem de ficção Porta de Fogo, do cineasta baiano Edgard Navarro, e um documentário sobre a vida do sanfoneiro e compositor Dominguinhos, dirigido por Mariana Aydar e Eduardo Nazarian.

Consta do programa também o documentário Mito e Música – A Mensagem de Fernando Pessoa, da cineasta luso-brasileira Rama de Oliveira, em parceria com o cineasta e músico André Luiz Oliveira. Do diretor baiano será exibido o curta de documentário É Dois de Julho, filmado em 1979, que terá exibição inédita no festival, com cópia restaurada, retratando a festa cívica baiana do caboclo e da cabocla, que relembra a guerra de independência do Brasil na Bahia, que resultou na expulsão definitiva dos portugueses.




Fonte: Agência Brasil

Falta de pessoal e de verba é desafio para defesas civis municipais


As chuvas extremas que assolaram o litoral norte de São Paulo no último carnaval, com deslizamentos de encostas, alagamentos e bairros isolados por interdição de vias de acesso, evidenciou o trabalho da Defesa Civil e os esforços que este órgão precisa fazer para salvar vidas e reduzir danos. Mas, uma pesquisa mostrou que as defesas civis municipais do país enfrentam falta de verba, de pessoal e de estrutura.

Responsável pelo mapeamento de áreas de risco, prevenção e contenção de desastres ambientais, as defesas civis municipais devem alertar e assessorar a população. Porém, em 67% desses órgãos, o déficit de recursos é o principal entrave para a realização do trabalho (26% corresponde à falta de dinheiro; 22% de equipe e 19% de equipamentos).

Com base em questionário aplicado em 1.993 cidades que participaram da Pesquisa Municipal em Proteção e Defesa Civil , 72% dos municípios responderam não ter orçamento próprio para a área, não contando com dinheiro de outras secretarias ou, às vezes, nem sequer da própria prefeitura.

Os dados estão no artigo Fundos Públicos Federais e Implementação da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil no Brasil, publicado na Revista de Informação Legislativa do Senado e assinado pelos advogados Fernanda Damacena e Luiz Felipe da Fonseca Pereira e pelos pesquisadores Renato Eliseu Costa, doutorando em Políticas Públicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC), e Victor Marchezini do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

A reportagem da Agência Brasil conversou com Victor Marchezini, que atualmente faz seu pós-doutorado no Natural Hazards Center, Universidade do Colorado-Boulder, EUA, com apoio da Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo.

Para o pesquisador, o que mais surpreendeu na pesquisa foi a falta de orçamento próprio nas defesas civis municipais. “Isso implica, por exemplo, no planejamento de ações de prevenção junto às comunidades, até mesmo em não ter combustível ou um veículo para ir às comunidades realizar as ações educativas, de prevenção ou mesmo de verificação das áreas consideradas de risco de inundação ou de deslizamento”, apontou o pesquisador, que atua desde 2004 na área de sociologia dos desastres, com olhar para o envolvimento de comunidades locais na prevenção.

Na opinião do pesquisador, o problema não é só dos municípios. “Em muitos casos, falta de apoio dos governos estaduais e federal para ajudar em um orçamento para estruturar essas defesas civis municipais. Existem muitas ações de capacitação do governo federal, mas falta um plano nacional que ajude a estruturá-las. É efeito cascata, por exemplo, se você não tem uma defesa civil bem estruturada, vai implicar na falta de criação de núcleos comunitários de defesa civil. A pesquisa acabou revelando também isso, que existem poucos núcleos comunitários de defesa civil”.

Recursos humanos e estrutura

Os agentes de defesas civis municipais apontaram a alta rotatividade nos cargos como o principal fator de retrocesso na redução do risco de desastres, aliada às precárias condições de trabalho, falta de treinamento e responsabilidades pouco claras na gestão de risco. Alguns órgãos relataram que chegam a ter apenas um ou dois funcionários disponíveis para o trabalho e, quanto ao espaço físico, 65% das defesas civis dividem com outra secretaria.

“Mais de 50% das defesas civis no Brasil são constituídas de uma a duas pessoas na equipe e até acumulam funções em outras secretarias. Muitas vezes, essa equipe é de pessoas de indicação política e a cada eleição há uma nova equipe. Com isso, o investimento feito na capacitação desses agentes de defesa civil tem que ser feito novamente, isso é um sintoma dessa crise no sistema”, alertou Marchezini.

No estudo, os pesquisadores apontam que a falta de definição dos papéis dos atores envolvidos na gestão de riscos compromete a governança, reforçando a importância de profissionalizar a área. Em resposta a esse ponto, no ano passado, o Ministério do Trabalho incluiu o agente de proteção e defesa civil na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sendo o primeiro passo para o reconhecimento e habilitação da profissão.

Atribuições

Às defesas civis municipais cabe a gestão de riscos e de desastres, atribuições que vão desde a análise e monitoramento de áreas de risco, com ações de prevenção e mitigação, até o socorro e atuação em projetos de recuperação. O Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec) congrega todas as competências para a gestão dos riscos e desastres e deve ter ênfase na prevenção.

No caso de chuvas, o Cemaden emite um comunicado com diagnóstico para defesa civil nacional encaminhar à estadual e ou municipal. A defesa civil, por sua vez, envia mensagens à população local avisando da previsão de chuvas, alagamentos e deslizamentos. Em algumas cidades, há sirenes instaladas para o alerta.

Geralmente, entre os problemas desse sistema de comunicação estão o número de cadastrados no alerta, que pode ser baixo, e os textos das mensagens por SMS, genéricos para uma região e até mesmo para o tipo de evento previsto.

Na pesquisa do diagnóstico de capacidades, 25% dos órgãos responderam usar o SMS para comunicar os alertas. Para outros tipos de comunicação, 56% responderam usar as redes sociais (Facebook, Instagram) e 43% aplicativos de mensagens (WhatsApp, Telegram).

Bons exemplos

Para o pesquisador, as defesas civis municipais podem também desenvolver diversas ações de prevenção e de mitigação de desastres climáticos. Ele ressalta que tanto a comunicação como o envolvimento da população podem ser os diferenciais para salvar vidas em casos de desastres.

Marchezini cita dois exemplos: um deles é da Defesa Civil do Recife, com Programa Parceria. “Envolve ações de mitigação de riscos de deslizamentos nas encostas do Recife, em parceria com a defesa civil, equipe de engenharia e moradores locais, de forma a tentar reduzir o risco de deslizamento na encosta, para que ela não se deteriore a cada estação chuvosa. Aliado a isso tem também a formação dos núcleos comunitários de defesa civil pelo órgão no Recife”.

O pesquisador cita como exemplo de investimento de longo prazo a Defesa Civil da cidade do Rio de Janeiro. “Há muitos anos [a Defesa Civil] vem trabalhando junto as comunidades nos sistemas de alerta. A comunidade é envolvida não só para receber um alerta SMS, mas em toda etapa de planejamento do sistema: no mapeamento participativo dos riscos do bairro, como definir rota de fuga, pontos seguros e ainda na identificação de líderes comunitários que possam ajudar a coordenar essas ações e trabalhar junto com as escolas do bairro”.

Marchezini alerta para a necessidade de um programa para criar e fortalecer os sistemas municipais de alerta e alarme. “Não é só investir em rede observacional de pluviômetros e radares, mas sim, na capacitação dos municípios para que eles mesmos fortaleçam esses sistemas municipais no momento de uma emergência, já que quem vai responder no primeiro momento são sempre os moradores e depois os órgãos locais. Esse fortalecimento da capacidade local é muito importante”, destacou.




Fonte: Agência Brasil

Imperatriz mostrou o Brasil que nos interessa, diz carnavalesco


Em seu título anterior no Grupo Especial, o carnavalesco Leandro Vieira havia cruzado a Sapucaí com uma Mangueira que empunhou a bandeira brasileira em verde e rosa, com a frase Índios, Negros e Pobres no lugar do Ordem e Progresso. O ano era 2019, um governo de extrema direita estava recém-empossado e o assassinato da vereadora Marielle Franco não havia completado um ano. O rosto da vereadora estampou bandeiras no desfile, e seu nome estava no samba-enredo que se tornou um grito de resistência. Ao levantar a taça na Sapucaí novamente este ano, pela Imperatriz Leopoldinense, Leandro Vieira fez carnaval em um Brasil que empossou um governo progressista e que nomeou Anielle Franco, irmã de Marielle, ministra da Igualdade Racial, para reduzir a exclusão dos índios, negros e pobres.

“O carnaval de 2023 da Imperatriz também é uma marca de seu tempo. É uma marca de orgulho da brasilidade, é uma marca de retomada de um Brasil que nos interessa visualmente, conceitualmente, um Brasil regional, e do quanto o regionalismo e a pluralidade artística são fundamentais nesse aspecto de brasilidade”, disse Leandro Vieira.

Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, por telefone, durante suas férias, o carnavalesco, que soma cinco títulos em oito anos, disse que sentido tentou dar ao seu carnaval nesses dois momentos, e como busca em seu estilo de trabalho aproveitar o que cada escola de samba tem como essência.

Carioca do Jardim América, na zona norte do Rio de Janeiro, Leandro Vieira tem 39 anos de idade e é formado em Belas Artes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu primeiro desfile como carnavalesco foi com a Caprichosos de Pilares, em 2015. No ano seguinte, ele estreou com título no grupo especial, com a Mangueira, e um enredo sobre a cantora Maria Bethânia.

O carnavalesco continuou à frente da Verde e Rosa, conquistando também o título de 2019, com o carnaval Histórias de ninar gente grande. Em 2020, veio seu primeiro título com a Imperatriz, na Série A, garantindo a volta da escola da Leopoldina ao Grupo Especial.

No carnaval do ano passado, fez seu último desfile com a Mangueira, quando terminou em sétimo lugar e ficou de fora do Desfile das Campeãs pela primeira vez. Apesar disso, na Série Ouro, antiga Série A, veio outro título, garantindo a volta da Império Serrano para o Grupo Especial de 2023, de onde foi novamente rebaixada após o último desfile.

Neste ano, o carnaval da Imperatriz Leopoldinense contou uma criativa versão de como seria a vida após a morte de Lampião, recusado pelo inferno e pelo céu. O enredo se conecta com a forte presença da cultura nordestina nos complexos de favelas da região da Leopoldina, incluindo os complexos do Alemão e da Penha, e a Imperatriz fez um desfile quente e cheio de autoestima.

Rio de Janeiro (RJ), 26/02/2023 - A escola de samba Imperatriz Leopoldinense, campeã do Grupo Especial com enredo sobre Lampião, faz o Desfile das Campeãs no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.

Escola de samba Imperatriz Leopoldinense, campeã do Grupo Especial com enredo sobre Lampião – Fernando Frazão/Agência Brasil

Quais características definem o seu trabalho e por que você acha que ele tem sido tão bem-sucedido?

Eu acho que me interessar pela cultura brasileira, e me debruçar sobre ela na produção daquilo que eu faço, faz com que o meu trabalho encontre uma receptividade que tem a ver com a aceitação da brasilidade. A comunicação com o público se dá de uma maneira muito orgânica, porque eu acredito que a simplicidade pode conquistar grandes coisas. Meu carnaval comunica de maneira simples, e minhas escolhas estéticas e narrativas são baseadas na simplicidade. Isso comunica. Outro aspecto é que eu não tenho interesse em reproduzir esse estereótipo do luxo, do exagero, do deslumbrante como algo pautado pela riqueza. Por eu não ter esse interesse, acabo produzindo um visual de fantasias e alegorias que eu acho que são alternativas. E as pessoas acham ou creem que são um certo ineditismo visual. Uma terceira coisa, e talvez a mais importante, é a minha obsessão por apresentar enredos que respeitem os interesses comunitários, entendendo interesses comunitários como as vocações individuais das comunidades para quem eu ofereço meu trabalho. Embora eu tente manter as minhas predileções artísticas, quando eu fui carnavalesco da Mangueira, eu fui um, quando eu fui carnavalesco do Império Serrano, eu fui outro, e quando sou carnavalesco da Imperatriz, eu estou sendo um terceiro. É sob medida.

Você participou da volta da Imperatriz ao Grupo Especial e agora foi campeão desse grupo com a escola. O segundo título foi, de alguma forma, consequência do primeiro? Como vê a relação entre esses dois carnavais?

Eu acho que com o título de volta ao grupo especial e o título que encerra o jejum de 22 anos, eu acho que eu começo a construir alguma coisa bonita com a Imperatriz, alguma coisa que num sentido inicial é vitoriosa. Eu enxergo isso como algo bonito, eu acho que isso é um começo de história feliz. Eu acho que são dois títulos de retomada e são dois títulos dão um novo fôlego à escola, são títulos que viram páginas e acho que tudo que vira página e dá fôlego é bem recebido de alguma forma.

Rio de Janeiro (RJ), 26/02/2023 - A escola de samba Imperatriz Leopoldinense, campeã do Grupo Especial com enredo sobre Lampião, faz o Desfile das Campeãs no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.

Imperatriz Leopoldinense, campeã do Grupo Especial com enredo sobre Lampião, no Desfile das Campeãs no Sambódromo da Marquês de Sapucaí – Fernando Frazão/Agência Brasil

E o enredo do ano que vem já está claro na sua mente? Como é esse processo?

O enredo do ano que vem está começando a ser iluminado pelas minhas ideias. Não tem soberba nisso, mas é inevitável que a Imperatriz, que é a campeã do carnaval de 2023, crie expectativas para o carnaval em 2024. Eu adoraria que não criassem expectativa nenhuma para a Imperatriz, mas é quase que inevitável, né? A campeã do carnaval anterior sempre vai gerar uma expectativa. E é evidente que o profissional responsável pela construção da narrativa e do visual seja cobrado. Então, eu tenho que pensar alguma coisa que tenha a capacidade de mostrar que a Imperatriz continua trabalhando, que o campeonato fez com que a Imperatriz trabalhasse mais, e não que tenha sentado em cima do título e se acomodado. Então, eu preciso apresentar um evento que esteja à altura do que a comunidade espera para 2024. E ninguém espera que a Imperatriz 2024 seja inferior à de 2023. É muito difícil você superar essas coisas, mas o meu trabalho é esse. Então, eu tenho que continuar lapidando as ideias, aumentando a qualidade da pesquisa e trabalhando com a expectativa de produzir algo que seja à altura de uma escola que atualmente é a campeã do carnaval.

E existe uma expectativa sobre o seu trabalho também, né? Você se cobra muito para superar o que você já criou?

Eu não me cobro nesse sentido. Eu entendo que, como artista, tendo um trabalho público, a cobrança pública é natural, mas enquanto homem e entendedor dos meus limites e entendedor da construção do que é um processo artístico, eu não posso entrar nessa cobrança externa. Eu tenho que ter a cobrança da pessoa que crê que tem que fazer um bom trabalho, que tem que desenvolver uma pesquisa, mas nunca com a ideia disso de me superar. O meu processo é muito mais um processo de construção, artística e criativa, em que um carnaval convida o outro a surgir. As pessoas têm a tendência a enxergar essa escalada como uma escada, eu enxergo isso muito mais com uma rampa, sabe? Eu não tenho a sensação de que eu tenho que subir um degrau. As pessoas geralmente fazem um comparativo como se você estivesse em um degrau, e, no carnaval seguinte, você tivesse que subir outro degrau. Eu, não. Eu já enxergo como uma rampa, em que, enquanto anda para frente, você já tá subindo, entende?

Rio de Janeiro (RJ), 26/02/2023 - A escola de samba Imperatriz Leopoldinense, campeã do Grupo Especial com enredo sobre Lampião, faz o Desfile das Campeãs no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.

Imperatriz Leopoldinense, campeã do Grupo Especial com enredo sobre Lampião, no Desfile das Campeãs no Sambódromo da Marquês de Sapucaí – Fernando Frazão/Agência Brasil

Você foi campeão com um enredo sobre resistência na Mangueira em 2019, num momento político muito diferente do que o país está vivendo agora. Como foi fazer carnaval naquele momento e como foi fazer agora?

Eu acho que o carnaval da Mangueira de 2019 fica como um carnaval que serve ao seu tempo, um carnaval que funciona como um avanço contra algo que na esfera política retrocedeu. Ele fica como um farol democrático, um farol de resistência em um tempo em que sofríamos ataques de um pensamento antidemocrático, de uma certa valorização do autoritarismo, um certo desprezo pelas questões indígenas e quilombolas. Ele tem o interesse de sinalizar que é preciso seguir na resistência. E o carnaval de 2023 da Imperatriz também é uma marca de seu tempo. É uma marca de orgulho da brasilidade, é uma marca de retomada de um Brasil que nos interessa visualmente, conceitualmente, um Brasil regional, e do quanto o regionalismo e a pluralidade artística são fundamentais nesse aspecto de brasilidade. Não se constrói brasilidade sem passar pela pluralidade produzida pelo povo brasileiro. A arte é uma marca de seu tempo, e tento fazer dos carnavais um reflexo do tempo em que eu vivo.

Nesse momento em que o país está tão dividido politicamente, você vê o carnaval como um momento de encontro ou de disputa de visões de mundo?

Eu não gosto muito dessa coisa taxativa de “o carnaval é”. Quando você diz que “o carnaval é”, você acaba dando um recorte que é um recorte tolo, porque não dá para você recortar o carnaval como algo pré-definido. Acho que o carnaval também é. Também é um momento de encontro, de celebração, de disputa, também é um momento de luta, também é um momento de festa. Acho que o carnaval também é uma série de coisas. Ele não é exclusivamente isso ou aquilo.

E você também se diverte muito no carnaval de rua, né?

Aprendi a gostar de carnaval, e da atividade carnavalesca, aprendi a ter contato com o lúdico e com a fantasia em função do carnaval que acontece na rua. Esse carnaval livre que não está sob o julgamento do certo e do errado, não está sob o julgamento do que é pontuado ou despontuado.

Como você vê a contribuição de cada tipo de carnaval, de rua, da Sapucaí, para o sentido do que é o carnaval do Rio de Janeiro?

Eu acho que são práticas que se complementam e em alguns aspectos são antagônicas, mas a rua e a avenida dão o que é a totalidade da experiência carnavalesca. Não há como limitar o carnaval com a expressão de que o carnaval é. O carnaval é também. Essa ideia da não domesticação do corpo se torna muito evidente na rua. Essa ideia da prática carnavalesca e da fantasia, da construção da identidade da rua, complementa essa ideia de escola que desfila na avenida. É preciso entender também as múltiplas maneiras e aspectos musicais no carnaval da cidade. A avenida é marcada pelo carnaval do samba, e a rua também é marcada pelo carnaval da marcha. E existe hoje, de maneira mais moderna, a carnavalização de outros ritmos, que são mola propulsora para a alegria. É um contato múltiplo com a cidade que entra em festa, essa transformação da rua em terreiro, esse contato múltiplo em que a cidade não fica domesticada.

Rio de Janeiro (RJ), 26/02/2023 - A escola de samba Imperatriz Leopoldinense, campeã do Grupo Especial com enredo sobre Lampião, faz o Desfile das Campeãs no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.

Imperatriz Leopoldinense, campeã do Grupo Especial com enredo sobre Lampião, no Desfile das Campeãs no Sambódromo da Marquês de Sapucaí – Fernando Frazão/Agência Brasil

A Imperatriz é de uma região da cidade em que as comunidades sofrem muito com a violência urbana e a exclusão social. Como esse cotidiano da comunidade afeta o carnaval da Imperatriz e como o carnaval que a Imperatriz afeta o cotidiano e a vida dessas pessoas?

A Imperatriz é uma escola intimamente ligada à zona da Leopoldina, a esses bairros da periferia, que são os bairros do subúrbio carioca. Dentro da territorialidade da Imperatriz Leopoldinense está o maior complexo de favelas da cidade do Rio de Janeiro, que são os complexos do Alemão, da Penha e aquela região toda. E a Imperatriz tem produzido nos últimos anos um processo de aproximação com esses territórios, e isso se dá através de projetos sociais, engajamento da escola com a comunidade na produção de atividades artísticas. Isso, de imediato, possibilitou que tivéssemos um desfile muito quente, onde a presença da comunidade foi fundamental e mola propulsora para a construção desse campeonato que há 22 anos não acontecia. Esse entendimento da Imperatriz como representante do território, e o entendimento do território que enxerga a Imperatriz como uma bandeira, isso passa pela visita do presidente Lula ao complexo do Alemão [em 2022] com a presença da Imperatriz, passa pelos projetos sociais, e representa o desejo da Imperatriz de representar a zona da Leopoldina e os complexos de favelas que se aproximam dela.




Fonte: Agência Brasil

Fevereiro registra 11 disputas armadas no Rio de Janeiro


O mês de fevereiro, com o carnaval e menos dias, registrou 11 disputas armadas entre facções de milícias e tráfico no Grande Rio, sendo que quatro delas ocorreram em Campinho, bairro da zona norte da cidade do Rio de Janeiro. O dado consta do relatório mensal divulgado pelo Instituto Fogo Cruzado.

No bairro de Campinho, na Avenida Ernani Cardoso, denominada Nova Intendente, aconteceram os desfiles das divisões de acesso do carnaval carioca. A região está há mais de seis meses em disputa entre traficantes e milicianos, especialmente no Morro do Fubá. O Instituto Fogo Cruzado aponta que mesmo com mortes, nenhuma medida foi tomada para garantir a vida da população local, e que crianças e adolescentes foram proibidos pela Justiça de desfilar nas agremiações devido ao risco de balas perdidas. As escolas de samba União de Vaz Lobo e Urubu Samba, inclusive, desistiram de desfilar por causa de tiroteios nos arredores da Nova Intendente.

O relatório aponta que outro caso grave de violência armada marcou o carnaval, dessa vez em Magé, na Baixada Fluminense. No dia 19, uma briga entre um miliciano e um policial civil terminou em tiroteio, resultando em duas pessoas mortas, incluindo uma menina de 9 anos de idade, e 19 feridas, sendo uma mulher grávida, duas crianças e um adolescente.

Desigualdade

Para o coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro, Carlos Nhanga, impedir escolas de samba de desfilar em razão de tiroteios mostra como a violência armada aumenta a desigualdade de uma cidade, uma vez que parte da população tem mais direitos garantidos do que aqueles que vivem nas áreas mais afetadas. Ele disse que, em dia de tiroteio, muitas pessoas não conseguem sair de casa para trabalhar, há interrupção no transporte público e escolas e clínicas fecham. “O poder público não pode tratar isso como normal”, disse o coordenador, no relatório.

Segundo Nhanga, os dados apurados são importantes para o planejamento de políticas públicas que sejam eficazes para trazer segurança à população. O Instituto Fogo Cruzado conta hoje com um Mapa Histórico dos Grupos Armados, que ajuda a compreender as diferentes dinâmicas da violência armada no Rio de Janeiro.

Com esses dados, é possível saber, por exemplo, que a milícia controla 49,9% das áreas dominadas por grupos armados. Carlos Nhanga acredita que o trabalho do Instituto, feito em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), pode servir de base para que projetos sejam pensados com o objetivo de conter os avanços dos grupos armados na região metropolitana do Rio de Janeiro. Sem esses dados, avaliou que qualquer operação policial não terá qualquer efeito prático.

A Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro não comenta dados não oficiais. Do mesmo modo, a Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) aponta que a atuação da instituição se baseia no tripé inteligência, investigação e ação e em dados oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP).

Fevereiro

No mês de fevereiro, ocorreram 243 tiroteios na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, segundo o Instituto Fogo Cruzado, revelando queda de 14% nos registros em comparação com o mesmo período do ano passado (282 tiroteios). Do total mapeado, 96 tiroteios (39,5%) aconteceram durante ações ou operações policiais, contra 89 em fevereiro de 2022.

Ao todo, 209 pessoas foram baleadas no Grande Rio em fevereiro, sendo que 90 morreram e 119 ficaram feridas. O número de mortos caiu 6% em comparação a fevereiro do ano passado, mas houve aumento de 78% na quantidade de feridos. Entre os 209 baleados, 127 (61%) foram atingidos durante ações ou operações policiais: 43 deles morreram e 84 ficaram feridos. Em fevereiro de 2022, dos 163 baleados, 96 (59%) foram atingidos durante ações ou operações policiais, resultando em 48 mortos e 48 feridos.

Em comparação com janeiro, que acumulou 296 tiroteios, 81 mortos e 84 feridos, fevereiro teve queda de 18% dos tiroteios, embora com aumento de 11% nos mortos e de 42% nos feridos.

Mapa

O relatório do Instituto Fogo Cruzado aponta que os municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro mais afetados pela violência armada em fevereiro foram Rio de Janeiro, com 159 tiroteios, 54 mortos e 53 feridos; São Gonçalo, 14 tiroteios, sete mortos e nove feridos; Duque de Caxias, 13 tiroteios, três mortos e dez feridos; São João de Meriti, 11 tiroteios, cinco mortos e dois feridos; Nova Iguaçu, 11 tiroteios, três mortos e sete feridos. Já entre os bairros do Grande Rio, o mais impactado foi Praça Seca, com 16 tiroteios, dois mortos e dois feridos.

A violência armada entre as seis regiões que compõem o Grande Rio foi mais intensa na zona norte da capital, com 79 tiroteios, 15 mortos e 31 feridos, e na zona oeste, com 72 tiroteios, 34 mortos e 21 feridos. Em seguida, aparecem a Baixada Fluminense com 53 tiroteios, 19 mortos e 49 feridos; o Leste Metropolitano, 31 tiroteios, 17 mortos e 17 feridos; a região central do município do Rio, sete tiroteios, quatro mortos e um ferido. Na zona sul, houve registro de apenas um tiroteio, com uma pessoa morta.

Perfil

Em casos de roubos ou tentativas de roubo no mês de fevereiro, 20 pessoas foram baleadas no Grande Rio, das quais quatro morreram e 16 ficaram feridas. Dez agentes de segurança foram baleados em fevereiro na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sendo que sete morreram e três ficaram feridos. Em fevereiro de 2022, nove agentes de segurança foram baleados, sendo que cinco morreram e quatro ficaram feridos.

Também em fevereiro, 14 pessoas foram vítimas de balas perdidas no Grande Rio, sendo que três morreram e 11 ficaram feridas. Nove das 14 vítimas foram atingidas durante ações ou operações policiais. No mesmo mês de 2022, sete pessoas foram vítimas de balas perdidas.

O Instituto Fogo Cruzado contabilizou sete chacinas na Região Metropolitana do Rio em fevereiro deste ano, que resultaram em 24 mortos. Quatro dessas chacinas aconteceram durante ações ou operações policiais. Em fevereiro de 2022, foram registradas cinco chacinas, com 31 mortos.

Em relação a crianças, cinco foram baleadas no Grande Rio em fevereiro. Uma delas morreu e quatro ficaram feridas. Em fevereiro do ano passado, não houve crianças baleadas. Dos dez adolescentes baleados no Grande Rio em fevereiro de 2023, três morreram e sete ficaram feridos. Em igual mês de 2022, três adolescentes foram baleados: um morreu e dois ficaram feridos. Dois idosos foram baleados na Região Metropolitana do Rio em fevereiro: um morreu e um ficou ferido. Em fevereiro de 2022, dois idosos foram mortos a tiros.

No ano

Somando os meses de janeiro e fevereiro deste ano, houve 539 tiroteios/disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sendo que 212 desses registros ocorreram durante ações/operações policiais, revela o Instituto Fogo Cruzado. Ao todo, 374 pessoas foram baleadas nos dois primeiros meses do ano, com 171 mortas e 203 feridas. No mesmo período de 2022, que concentrou 510 tiroteios, sendo 161 em ações/operações policiais, 285 pessoas foram baleadas, com 160 mortos e 125 feridos. No acumulado janeiro e fevereiro deste ano, houve aumento de 6% nos tiroteios em geral, de 32% nos tiroteios ocorridos durante ações/operações policiais, de 7% nos mortos e de 62% no número de feridos.




Fonte: Agência Brasil