Ministérios pedem apuração de possíveis crimes em remoção de mulher


Os ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e da Cidadania enviaram solicitações ao Ministério Público Federal e para a Polícia Federal no sentido de que sejam apurados os crimes que podem ter sido cometidos na retirada de uma passageira de um voo na madrugada de sábado (29), em Salvador (BA). Em vídeos divulgados nas redes sociais, policiais federais retiram a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Samantha Vitena, uma mulher negra, de um avião da Gol durante uma discussão a respeito do despacho de uma mala.

Racismo

Os ministérios afirmam que receberam com “indignação” as notícias da situação ocorrida no voo que tinha como destino o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. “Notificamos a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para adoção de todas as medidas cabíveis no sentido de prevenir, coibir e colaborar com a apuração de casos de racismo praticados por agentes de empresas aéreas, aprimorando seus mecanismos de fiscalização”, diz publicação das pastas divulgada no Twitter.

No vídeo, um dos policiais argumenta que a decisão foi tomada por determinação do comandante da aeronave. No vídeo, também é possível ver o apoio que Samantha teve de outros passageiros. Em sua página no Instagram, a jornalista Elaine Hazin, que estava no mesmo avião que levava Samantha, classifica o episódio como “um caso extremamente violento de racismo”. Segundo ela, os passageiros embarcaram no voo 1575 da Gol Linhas Aéreas com uma hora de atraso e a mulher não conseguia lugar para guardar a mochila, que continha um laptop.

“Conseguimos um lugar para a mochila de Samantha e, nem mesmo assim, o voo decolaria. Mais uma hora de atraso, nenhuma satisfação da companhia área, gente passando mal no avião e eis que três homens da Polícia Federal entram de forma extremamente truculenta no avião para levar a ‘ameaça’ do voo – a Samantha. Ela se defende, mas não reage. Alguns pedem pra ela não ir (na maioria mulheres),” disse Elaine.

“Esta história não termina aqui, queremos justiça e respeito para todos, queremos que a Gol, este comandante e a tripulação paguem por este crime e os policiais também respondam por tamanha violência”, concluiu a jornalista no post.]

Nota da Gol

Em nota, a Gol Linhas Aéreas informou que, durante o embarque do voo 1575 com destino ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, havia muitas bagagens a serem acomodadas a bordo. “Muito clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente. Mesmo com todas as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e, por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo”, argumentou a empresa.  

“Lamentamos os transtornos causados aos clientes, mas reforçamos que, por medidas de segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções. A companhia ressalta ainda que busca continuamente formas de evitar o ocorrido e oferecer a melhor experiência a quem escolhe voar com a Gol e segue apurando cuidadosamente os detalhes do caso.”

Polícia Federal

A superintendência da Polícia Federal na Bahia informou que instaurou, neste domingo (30), inquérito policial para apurar crimes de preconceito racial na retirada “compulsória” da passageira do voo  Gol 1575. Segundo a corporação, a investigação permanece em sigilo até a conclusão.

A reportagem da Agência Brasil entrou em contato como o Ministério Público Federal, na Bahia, e com a Anac, e aguarda resposta sobre o posicionamento a respeito do caso.




Fonte: Agência Brasil

Trabalho rural: mudanças climáticas “expulsam” jovens do campo


Quando o caju começa a brotar na área rural de Camocim (CE), não é apenas o cheiro da fruta que se espalha. Vem junto o gostinho que vai ter colheita e mais recursos para o assentamento “PA Torta”, onde mora a trabalhadora rural Olivia Serafim, de 28 anos.

O caju é o que dá sabor de esperança para as 90 pessoas que moram ali. “O problema é que os mais jovens estão indo embora. A agricultura se tornou uma atividade difícil. Não chove como antes e não rende mais o que é necessário. Por isso, os mais jovens vão construir suas famílias em outros lugares. Ficam só os mais velhos”, lamenta.

Brasília (DF) 29/04/2023 - Olivia Serafim posa para fotografia para Agência Brasil durante o 4º Festival Nacional da Juventude Rural, com o objetivo de fazer um debate político sobre o desmonte das políticas públicas da juventude, da agricultura familiar.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Olivia Serafim vive em assentamento na cidade de Camocim (CE). Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Na última semana, Olívia foi uma das mais de 5 mil trabalhadoras que participaram do 4º Festival da Juventude Rural, em Brasília. No evento, no pavilhão do Parque da Cidade, discutiram demandas, reivindicações e trocas de experiências para pensar alternativas para fixar os mais novos no campo.

Olívia recorda, por exemplo, que os colegas de escola foram partindo para outros lugares. “Ao invés de plantar o arroz, o feijão, o caju, terminam o ensino médio e vão tentar trabalhar no comércio de cidades maiores. Não fui embora porque meu pai me convenceu sobre a luta social”. Hoje, ela tenta influenciar outras pessoas da faixa etária a trabalhar no campo. Dos 24 jovens da sua comunidade, ficaram somente cinco.

Nesse período “invernoso”, Olívia explica que vai crescer o caju rosado. “A festa no assentamento, a colheita e o cultivo nos dão renda para sobreviver. A castanha é muito simbólica, principalmente pra juventude, porque é o que dá o dinheirinho para comprar as nossas coisas”. Mas a produção caiu. A estiagem assusta tanto quanto os temporais. “A gente já entendeu que isso é mudança climática”.

Condições

A agricultora familiar Vânia Marques, secretária de políticas agrícolas da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), entende que faltam políticas públicas. “A falta de acesso a melhores condições faz com que os jovens saiam do campo. Na nossa avaliação, os jovens devem ser estimulados a permanecer”. 

Um caminho, no entender da secretária da Contag, seria a garantia do acesso à terra, mais créditos para plantar e colher, assistência técnica e extensão rural. “Para poder elaborar esses projetos e desenvolver o trabalho no campo, assistência técnica e tecnologias são fundamentais para acessar os mercados e escoar a produção”. Ela avalia a necessidade que a educação chegue ao campo a fim de que as pessoas não percam o vínculo com a terra e com a própria comunidade. “O estímulo das cooperativas pode ajudar a permanência dos jovens no campo”.

Engajamento

Uma fatia de melancia vermelhinha, sem agrotóxico, tem gosto especial de infância para a trabalhadora rural Roseli Silva, hoje com 25 anos, moradora da cidade de Joca Marques, no sertão piauiense, a 250 km de Teresina.

Brasília (DF) 29/04/2023 - Roseli Silva posa para fotografia para Agência Brasil durante o 4º Festival Nacional da Juventude Rural, com o objetivo de fazer um debate político sobre o desmonte das políticas públicas da juventude, da agricultura familiar.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Brasília (DF) 29/04/2023 – Roseli Silva no 4º Festival Nacional da Juventude Rural. Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Na vida adulta, porém, tudo ficou mais complicado. A melancia sumiu da cidade. A família dela, que sobrevive da produção do arroz e do milho, tem visto o cultivo com menos vigor. Tudo em volta está diferente. E isso a estimulou a virar secretária da Juventude no sindicato rural da cidade.

Na caatinga, o cenário seco acompanha os olhos de Roseli que, ao mesmo tempo que luta pela agricultura, faz um curso semipresencial de técnico de enfermagem em Luzilândia para ter outras opções de serviços. 

Para participar do evento em Brasília, viajou quase dois dias, e veio dormir em colchões no pavilhão. Não se incomoda. “É importante para a gente estar aqui e trocar experiências”. Nas cercanias do grupo de visitantes do Piauí, estavam os maranhenses. 

Brasília (DF) 29/04/2023 -  Elias Novaes (e) e Daniel Silva Sousa (d) posam para fotografia para Agência Brasil durante o 4º Festival Nacional da Juventude Rural, com o objetivo de fazer um debate político sobre o desmonte das políticas públicas da juventude, da agricultura familiar.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Brasília (DF) 29/04/2023 – Elias Novaes (e) e Daniel Silva Sousa (d) trabalham com gado no Maranhão. Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Entre eles, os colegas Daniel Silva, de 19 anos, e Elias Novaes, de 20, são de Feira Nova do Maranhão, a 800 km de São Luís. Eles são criadores de gado e também acostumados a trabalhar do nascer do sol ao poente. “A falta de chuvas deixou tudo mudado. Ração para os animais, vacinas, o arame… tudo fica caro no campo”, diz Elias. 

Para tentar não sair do trabalho rural, a dupla de amigos resolveu apostar no ensino superior em cursos semipresenciais na cidade de Balsas, a 120 km dos sítios em que trabalham. Elias foi fazer curso de enfermagem. Daniel, de agronomia. “Muitos de nossos amigos foram embora sem perspectivas”.

Do outro lado do pavilhão, Naiara Lima, de 26 anos, veio de Dormentes, no sertão pernambucano. Ela e o marido trabalham com caprinos. Naiara diz que, apesar das estiagens prolongadas e dos temporais extremos dos últimos anos, nada faz que eles saiam do campo. 

Brasília (DF) 29/04/2023 - Naiara Lima Barbosa posa para fotografia para Agência Brasil durante o 4º Festival Nacional da Juventude Rural, com o objetivo de fazer um debate político sobre o desmonte das políticas públicas da juventude, da agricultura familiar.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

A pernambucana Naiara Barbosa diz que não pretende sair do campo. Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

“A colheita para dar de comer ao animal está em baixa, mas a gente resiste”. A resistência tem a ver com a vida que o casal quer para os filhos. “Tranquilidade total no nosso lugar. As crianças vivem soltas por lá, brincando com os bichos, subindo nas porteiras. Cabe a gente a lutar para que tudo fique melhor”, diz. 

Há soluções?

A luta passa pela necessidade de convivência com os efeitos das mudanças climáticas, conforme avalia a pesquisadora e climatóloga Francis Lacerda. Ela explica que o ciclo hidrológico está alterado devido ao aquecimento global. “Os trabalhadores rurais constatam, de forma nítida, a mudança das estações. A chuva se apresenta diferente do que era antes. Eu também sou filha e neta de agricultores nordestinos, e temos visto essas mudanças diante de nós”.

Professora da área de agroecologia, Francis Lacerda avalia que os efeitos das mudanças climáticas são estudados desde o final do século passado. “No final da década de 1990, a gente começou a observar essas alterações no ciclo hidrológico na forma como as precipitações iam ocorrendo principalmente no semiárido”.

O semiárido nordestino é uma das regiões mais vulneráveis a essas alterações, tanto do ponto de vista do clima como socialmente, destaca a pesquisadora. Ela acrescenta que, apesar dos agricultores constatarem essas mudanças como “seca”, ocorre que as chuvas continuam acontecendo, mas em períodos menores. 

Com a devastação das matas originárias, o solo aproveita pouco das chuvas fortes em tempos reduzidos, nesse clássico cenário de eventos extremos, com revezamentos de secas e temporais. “O jovem não quer mais ficar no campo porque hoje, além de inúmeras questões de políticas públicas, há particularmente a mudança das estações chuvosas”

Um alerta é que o êxodo rural pode acabar com cidades pequenas. “Se nada for feito, até o ano de 2050, a gente vai ter 80% da população em áreas urbanas, o que vai criar um problema complexo nesse futuro próximo”, diz a professora. Ela recorda que fez um trabalho há dois anos na cidade de Ibimirim (PE) de convivência com a seca com aulas de tecnologia social e importância da biodiversidade.

Ela pôde constatar que ensinamentos de agroecologia e valorização dos produtos originais de uma região ajudam a reflexão dos mais jovens sobre o trabalho no campo. “A gente pediu para que eles olhassem ao redor e procurassem o umbu, que era vasto na região. E encontraram uma árvore velha. Isso mexeu com eles”. 

Ela defende que os municípios e Estados, pela própria sobrevivência, devam rever políticas de promoção de desmatamento. Os jovens que plantavam caju, melancia, umbu passam a ser cooptados pela indústria da madeira ou por trabalhos precários em áreas urbanas. “É possível ter um cenário de convivência com as limitações, mas também um futuro distópico. É isso o que precisamos decidir”, alerta a professora.




Fonte: Agência Brasil

Mulher e filhos são vítimas de violência doméstica na Vila Furquim, em Presidente Prudente




Marido afirmou ter ‘pedido a cabeça’ e ficado nervoso por ciúmes, segundo Boletim de Ocorrência. Homem é preso por violência doméstica neste domingo (30) em Presidente Prudente (SP)
Arquivo/g1
Um homem, de 43 anos, foi preso em flagrante por violência doméstica a esposa, de 34 anos e enteados, na madrugada deste domingo (30), na Vila Furquim, em Presidente Prudente (SP).
Segundo o Boletim de Ocorrência, a Polícia Militar foi acionada para averiguar a ocorrência de agressão entre marido e mulher.
Na residência, vítima e filhos relataram que o homem ficou com ciúmes da esposa em uma petiscaria da cidade e acabaram discutindo em casa, onde o suspeito a agrediu com socos e chutes, jogando-a no chão.
Os filhos da mulher, de 15 e 17 anos, entraram no meio da briga para tentar defender a mãe e acabaram sendo agredidos.
O indiciado assumiu as agressões e alegou que teria “perdido a cabeça” e ficado nervoso e, que quando os filhos tentaram separar, ele somente os empurrou. Também disse que está arrependido.
A esposa manifestou o desejo de ver o companheiro processado pelas agressões a ela e aos filhos, contudo, afirmou que não o queria preso.
A vítima requereu medida protetiva de afastamento do suspeito.
Sem direito a fiança, o homem foi preso em flagrante e permanece à disposição da justiça.

Veja mais notícias em g1 Presidente Prudente e Região.




Fonte: G1

Homem leva suspeito para casa, bebe com ele e é furtado enquanto dormia, no Jardim Marisa, em Presidente Prudente




Segundo Boletim de Ocorrência, vítima conheceu o indiciado em uma praça e, enquanto dormia, teve TV, relógios e blusa levados. Homem tem TV, relógios e blusa furtados enquanto dormia, no Jardim Marisa, em Presidente Prudente (SP).
Heloise Hamada/g1
Um homem, de 36 anos, foi preso em flagrante na madrugada deste domingo (30), após furtar uma residência na Avenida Tancredo Neves, no Jardim Marisa, em Presidente Prudente (SP).
De acordo com o Boletim de Ocorrência, os policiais militares avistaram o suspeito na Avenida Tancredo Neves, cruzamento com a Rua Abílio Nascimento, carregando uma TV sob um cobertor e vestindo uma blusa.
Ao ser abordado, foi encontrado na mochila do homem um relógio e outro estava no pulso dele, confessando aos agentes que tinha furtado a casa de um amigo.
Os policiais então levaram o suspeito até a casa da vítima, de 33 anos, que disse ter conhecido o homem em uma praça e o levou para casa, onde beberam e acabaram dormindo.
A vítima reconheceu os objetos e a blusa e disse estar surpreso com o furto.
O homem que teve os pertences levados, também relatou sentir falta de um celular e uma caixa de som, que não foram localizados e o suspeito negou ter furtado.
Ainda segundo o documento policial, o indiciado disse que pretendia vender o que havia furtado e “fazer um dinheiro”.
O homem foi preso em flagrante e aguarda audiência de custódia. Diante da pena imposta e antecedentes, não foi arbitrada fiança.

Veja mais notícias em g1 Presidente Prudente e Região.




Fonte: G1

Apostador de Minas Gerais ganha R$ 61 milhões na Mega-Sena


O concurso 2587 da Mega-Sena premiou um apostador da cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, com R$  R$ 61.056.497,58.

Ele acertou as seis dezenas 05, 10,11, 22, 23 e 37, sorteadas neste sábado (29), em São Paulo, pela Caixa Econômica Federal.  

A Quina (cinco acertos) teve 328 apostas ganhadoras, com R$ 17.723,23 para cada uma. E a quadra (quatro acertos) pagou R$ 305,54 a cada uma das 27.180 apostas ganhadoras. As informações são do site da Caixa Econômica Federal.

O próximo sorteio será na quarta-feira (3). A estimativa é de um prêmio de R$ 3 milhões.




Fonte: Agência Brasil

Agência Brasil explica: o que é o Fundo Amazônia?


Amazônia

O governo dos Estados Unidos anunciou a doação de U$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões) para o Fundo Amazônia, entre outras iniciativas de combate ao desmatamento direcionadas ao Brasil. O valor proposto pelo presidente Joe Biden ainda precisa ser aprovado pelo Congresso americano.

O anúncio aconteceu no dia 20 de abril, durante o Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, após uma série de encontros bilaterais entre os dois países nos últimos três meses. Outras nações, como Noruega e Alemanha, também já se comprometeram a retomar as doações para o Fundo, que esteve paralisado durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

“O governo brasileiro tem feito um trabalho muito sério, que dá credibilidade para que países se disponham a fazer doação a fundo perdido para ajudar o Brasil a levantar um novo modelo de desenvolvimento que nos possibilite gerar emprego, renda, prosperidade e preservar as bases naturais”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em coletiva de imprensa após o anúncio da doação. Na avaliação da ministra, a iniciativa encoraja colaborações de outros países.

O Fundo investe em ações de combate ao desmatamento e de promoção da sustentabilidade na Amazônia. Projetos em outras regiões do país também podem ser apoiados, desde que cumpram com as diretrizes estabelecidas. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Corpo de Bombeiros Militar (em seus programas de proteção florestal) e órgãos ambientais estaduais estão entre as instituições financiadas. Responsável pelo monitoramento ambiental por satélites, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) também é uma entidade apoiada pelo fundo. Além disso, os governos dos estados podem ter projetos aprovados. Por exemplo, entre 2011 e 2017, o governo amazonense recebeu R$ 17,5 milhões para reflorestamento no sul do estado, região sob intensa pressão de desmatamento.

Segundo Adriana Ramos, coordenadora de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (Isa), o fundo é o principal financiador das políticas para o meio ambiente na Amazônia e para o monitoramento e controle do desmatamento em todos os biomas. “As novas doações ao Fundo Amazônia são extremamente importantes, pois demonstram a confiança da comunidade internacional com os compromissos assumidos pelo Presidente Lula de desmatamento zero até 2030”, afirma a pesquisadora.

Dissolução e retomada do Fundo

Em 2019, o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles extinguiu os dois comitês responsáveis pela gestão dos recursos do Fundo Amazônia, inviabilizando o financiamento de projetos e a continuidade das doações. A existência desses comitês é uma condição contratual dos doadores, para impedir que o dinheiro seja utilizado para outros fins. Segundo dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Brasil deixou de investir cerca de R$ 3 bilhões em ações ambientais entre 2019 de 2022, valor que permaneceu retido no fundo após a dissolução dos comitês orientadores.

Em outubro de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a União tomasse as providências necessárias para reativar o Fundo Amazônia. Na ocasião, a maioria dos ministros concluiu pela inconstitucionalidade da extinção dos comitês, pois configuraria omissão do governo em seu dever de preservar a Amazônia. Reinstituídos por decreto em 1º de janeiro de 2023 pelo presidente Lula, os comitês retomaram suas atividades, o que permitiu os novos aportes de recursos.

Como funciona

Criado em 2008, o Fundo Amazônia é gerido pelo BNDES e pode ser visto como uma espécie de crédito que outros países dão ao Brasil pelos bons resultados de suas políticas ambientais. Apesar dos desafios, o país está entre os que mais diminuiu emissões de gases que causam o efeito estufa.

Entre 2005 e 2016, houve a redução de 71% as taxas de desmatamento, segundo dados apresentados pelo Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM). Devido a esses esforços, o Brasil se qualificou internacionalmente para receber recursos de países estrangeiros, como a doação anunciada por Joe Biden. 

Comitês

O governo brasileiro tem autonomia para decidir sobre a utilização do dinheiro, mas depende das decisões de duas instâncias: Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) e Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA).

O COFA estabelece os critérios para aplicação dos recursos, enquanto o CTFA atesta a quantidade de emissões de carbono oriundas de desmatamento em território nacional. Anualmente, o Fundo passa por dois processos de auditoria, que avaliam a contabilidade e a adequação dos investimentos aos objetivos do programa. Em todos os anos, os auditores concluíram pela adequação das contas e dos relatórios apresentados pelo BNDES.

O Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) é formado por três blocos: governo federal, governos estaduais e sociedade civil. Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) estão entre seus membros e acompanham a aplicação dos recursos. Estados precisam contar com um plano estadual de combate ao desmatamento para ter direito a voto nas deliberações. Esse comitê também é responsável pela aprovação do Relatório de Atividades. 

Já o Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA) é composto por cientistas que se reúnem pelo menos uma vez ao ano. A atribuição deles é avaliar a metodologia de cálculo da área de desmatamento e das emissões de carbono adotada pelo Ministério do Meio Ambiente. Como a participação no CTFA é considerada de interesse público, seus membros não recebem qualquer tipo de remuneração. A última reunião deste comitê aconteceu em outubro de 2018, indicando a descontinuidade dos trabalhos nos anos posteriores.

Para Adriana Ramos, o modelo de funcionamento do Fundo Amazônia oferece autonomia na aplicação dos recursos, fortalecendo as políticas ambientais brasileiras. “Alcançar o desmatamento zero é um desafio imenso que envolve estratégias múltiplas como a demarcação e proteção de terras indígenas, titulação de quilombos e criação de unidades de conservação, destinação de terras públicas, inclusão de critérios de agricultura de baixo carbono no Plano Safra e efetividade do Cadastro Ambiental Rural, para citar apenas algumas das ações que poderão ser apoiadas com recursos do Fundo”, conclui.




Fonte: Agência Brasil

Agência Brasil explica: o que é Fundo Amazônia?


Amazônia

O governo dos Estados Unidos anunciou a doação de U$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões) para o Fundo Amazônia, entre outras iniciativas de combate ao desmatamento direcionadas ao Brasil. O valor proposto pelo presidente Joe Biden ainda precisa ser aprovado pelo Congresso americano.

O anúncio aconteceu no dia 20 de abril, durante o Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, após uma série de encontros bilaterais entre os dois países nos últimos três meses. Outras nações, como Noruega e Alemanha, também já se comprometeram a retomar as doações para o Fundo, que esteve paralisado durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

“O governo brasileiro tem feito um trabalho muito sério, que dá credibilidade para que países se disponham a fazer doação a fundo perdido para ajudar o Brasil a levantar um novo modelo de desenvolvimento que nos possibilite gerar emprego, renda, prosperidade e preservar as bases naturais”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em coletiva de imprensa após o anúncio da doação. Na avaliação da ministra, a iniciativa encoraja colaborações de outros países.

O Fundo investe em ações de combate ao desmatamento e de promoção da sustentabilidade na Amazônia. Projetos em outras regiões do país também podem ser apoiados, desde que cumpram com as diretrizes estabelecidas. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Corpo de Bombeiros Militar (em seus programas de proteção florestal) e órgãos ambientais estaduais estão entre as instituições financiadas. Responsável pelo monitoramento ambiental por satélites, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) também é uma entidade apoiada pelo fundo. Além disso, os governos dos estados podem ter projetos aprovados. Por exemplo, entre 2011 e 2017, o governo amazonense recebeu R$ 17,5 milhões para reflorestamento no sul do estado, região sob intensa pressão de desmatamento.

Segundo Adriana Ramos, coordenadora de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (Isa), o fundo é o principal financiador das políticas para o meio ambiente na Amazônia e para o monitoramento e controle do desmatamento em todos os biomas. “As novas doações ao Fundo Amazônia são extremamente importantes, pois demonstram a confiança da comunidade internacional com os compromissos assumidos pelo Presidente Lula de desmatamento zero até 2030”, afirma a pesquisadora.

Dissolução e retomada do Fundo

Em 2019, o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles extinguiu os dois comitês responsáveis pela gestão dos recursos do Fundo Amazônia, inviabilizando o financiamento de projetos e a continuidade das doações. A existência desses comitês é uma condição contratual dos doadores, para impedir que o dinheiro seja utilizado para outros fins. Segundo dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Brasil deixou de investir cerca de R$ 3 bilhões em ações ambientais entre 2019 de 2022, valor que permaneceu retido no fundo após a dissolução dos comitês orientadores.

Em outubro de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a União tomasse as providências necessárias para reativar o Fundo Amazônia. Na ocasião, a maioria dos ministros concluiu pela inconstitucionalidade da extinção dos comitês, pois configuraria omissão do governo em seu dever de preservar a Amazônia. Reinstituídos por decreto em 1º de janeiro de 2023 pelo presidente Lula, os comitês retomaram suas atividades, o que permitiu os novos aportes de recursos.

Como funciona

Criado em 2008, o Fundo Amazônia é gerido pelo BNDES e pode ser visto como uma espécie de crédito que outros países dão ao Brasil pelos bons resultados de suas políticas ambientais. Apesar dos desafios, o país está entre os que mais diminuiu emissões de gases que causam o efeito estufa.

Entre 2005 e 2016, houve a redução de 71% as taxas de desmatamento, segundo dados apresentados pelo Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM). Devido a esses esforços, o Brasil se qualificou internacionalmente para receber recursos de países estrangeiros, como a doação anunciada por Joe Biden. 

Comitês

O governo brasileiro tem autonomia para decidir sobre a utilização do dinheiro, mas depende das decisões de duas instâncias: Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) e Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA).

O COFA estabelece os critérios para aplicação dos recursos, enquanto o CTFA atesta a quantidade de emissões de carbono oriundas de desmatamento em território nacional. Anualmente, o Fundo passa por dois processos de auditoria, que avaliam a contabilidade e a adequação dos investimentos aos objetivos do programa. Em todos os anos, os auditores concluíram pela adequação das contas e dos relatórios apresentados pelo BNDES.

O Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) é formado por três blocos: governo federal, governos estaduais e sociedade civil. Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) estão entre seus membros e acompanham a aplicação dos recursos. Estados precisam contar com um plano estadual de combate ao desmatamento para ter direito a voto nas deliberações. Esse comitê também é responsável pela aprovação do Relatório de Atividades. 

Já o Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA) é composto por cientistas que se reúnem pelo menos uma vez ao ano. A atribuição deles é avaliar a metodologia de cálculo da área de desmatamento e das emissões de carbono adotada pelo Ministério do Meio Ambiente. Como a participação no CTFA é considerada de interesse público, seus membros não recebem qualquer tipo de remuneração. A última reunião deste comitê aconteceu em outubro de 2018, indicando a descontinuidade dos trabalhos nos anos posteriores.

Para Adriana Ramos, o modelo de funcionamento do Fundo Amazônia oferece autonomia na aplicação dos recursos, fortalecendo as políticas ambientais brasileiras. “Alcançar o desmatamento zero é um desafio imenso que envolve estratégias múltiplas como a demarcação e proteção de terras indígenas, titulação de quilombos e criação de unidades de conservação, destinação de terras públicas, inclusão de critérios de agricultura de baixo carbono no Plano Safra e efetividade do Cadastro Ambiental Rural, para citar apenas algumas das ações que poderão ser apoiadas com recursos do Fundo”, conclui.




Fonte: Agência Brasil

Hoje é Dia destaca os 80 anos da CLT e o Dia do Trabalhador


O conjunto de leis que regulamenta as relações de trabalho completa 80 anos nesta segunda-feira (1º). E a data não é um acaso: o decreto-lei que criou a Consolidação das Leis do Trabalho (mais conhecida como CLT) foi assinado em um estádio lotado pelo então presidente, Getúlio Vargas, no Dia do Trabalhador. Vargas costumava aproveitar a data, feriado nacional desde 1924, para anunciar medidas voltadas ao trabalhador – foi assim em 1940, com a implantação do salário mínimo, e em 1941, quando a Justiça do Trabalho foi criada.

A CLT insere na legislação brasileira uma série de direitos trabalhistas, e regulamentou jornadas e condições de trabalho, remuneração e benefícios como descanso semanal, férias, licença-maternidade, previdência social e mais. Em 2013, quando o regramento completou 70 anos, o Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, levou ao ar um episódio para contar a história da CLT e como ela mudou as relações entre empregados e empregadores:

Mas o texto que começou a valer naquele ano de 1943 não é mais o mesmo. As principais mudanças na CLT vieram em 2017, quando a reforma trabalhista entrou em vigor. Foram mais de 100 artigos alterados, e a inclusão de duas modalidades de contratação: trabalho intermitente (por jornada ou hora de serviço) e a do teletrabalho, chamado home office (trabalho à distância). 

Em matéria especial publicada à época, a Agência Brasil destacou alguns dos principais pontos reformulados pela reforma: convenções e acordos coletivos, férias, jornada, tempo na empresa, descanso intrajornada, remuneração, demissão, banco de horas, terceirização e mais.

O Dia do Trabalhador, em 1º de maio, recorda a luta de trabalhadores por garantia de condições de trabalho. É feriado no Brasil e em cerca de 80 países. Neste dia, em 1886, trabalhadores de Chicago, nos Estados Unidos, foram às ruas para reivindicar redução da jornada de trabalho de 13 para oito horas por dia. As manifestações se arrastaram pelos dias seguintes, e resultaram em mortes. O História Hoje, da Rádio Nacional, explica como o 1º de maio passou a ser considerado o dia dos trabalhadores em vários países:

No ritmo do jazz

Antes que maio comece, abril termina com um dia dedicado ao jazz. Neste domingo (30), é o Dia Internacional do Jazz – declarado pela Unesco a partir de uma iniciativa do pianista norte-americano Herbie Hancock. O jazz tem lugar cativo nas noites da Rádio MEC FM, com o programa Jazz Livre! (navegue pelos episódios completos).

Em 2019, o Na Trilha da História, da Rádio Nacional, dedicou dois episódios para contar a trajetória do jazz: o primeiro trata das origens do jazz e o segundo, como se deu o processo de sofisticação do ritmo. E, claro, clássicos do jazz embalam toda a conversa. Escute:

Primeiro episódio

Segundo episódio

O ano que não terminou

Um movimento que carrega o nome do mês que começa está completando 55 anos em 2023: é o Maio de 1968, que começou com uma manifestação de estudantes da Universidade de Paris, em Nanterre, no dia 2 de maio daquele ano, e transformou-se em uma grande greve – a maior paralisação de trabalhadores da história da França. Mas o movimento extrapolou as questões estudantis e trabalhistas, e acabou influenciando a cultura e a política de toda uma geração, em inúmeros países. É o que conta esta matéria do Repórter Brasil, da TV Brasil:

O Maio de 1968 também foi assunto neste episódio do Na Trilha da História, que retratou o mundo naquele ano emblemático. Além das marchas estudantis, a guerra do Vietnã e o assassinato de Martin Luther King também aconteceram em 1968. Ouça o episódio completo:

Do pop à revolução

James Brown, Karl Marx, Dino 7 Cordas, Lulu Santos e Robespierre estão na lista de personalidades nascidas nesta semana. No dia 4, o cantor e compositor Lulu Santos chega aos 70 anos. Nesta entrevista ao programa É Tudo Brasil, da Rádio Nacional, ele fala sobre a carreira de mais de quatro décadas e como tem se aproximado da nova geração da música popular brasileira:

No dia seguinte (5), serão 205 anos do nascimento de Karl Marx – filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário. Ele é autor de obras como O manifesto comunista e O capital, que, como diz o História Hoje, “trazem pensamentos e teorias que dobraram gerações e influenciaram intelectuais, políticos e, sobretudo, a classe trabalhadora”:

Outro nome que rompeu com a ordem vigente de sua época também nasceu por estes dias: o advogado e político Maximilien François de Robespierre, um dos principais nomes da Revolução Francesa. Nascido em 6 de maio de 1758 – há 265 anos -, ele foi o personagem do História Hoje, quando completaram-se 222 anos de sua decapitação em uma guilhotina:

 

Confira a lista semanal* do Hoje é Dia com datas, fatos históricos e feriados:

30 de abril a 6 de maio

30

Nascimento do cantor, compositor e guitarrista norte-americano Willie Nelson (90 anos)

Fundação do Geledés, Instituto da Mulher Negra (35 anos)

Criação da OEA com a assinatura da Carta da Organização dos Estados Americanos, em Bogotá (75 anos)

Dia Internacional do Jazz – comemoração criada e promovida pela Unesco a partir da iniciativa do pianista norte-americano Herbie Hancock

Morte do maestro, compositor e saxofonista fluminense Romeu Silva (65 anos) – considerado um dos pioneiros da divulgação da música popular brasileira no exterior, tanto nos anos 1920, quanto nas décadas de 1930 e 1940

Publicação da Consolidação das Leis do Trabalho (80 anos)

Dia Mundial do Trabalhador

Dia da Literatura Brasileira

Lançamento do programa Colégio do Ar, da Rádio Ministério da Educação (72 anos)

2

Manifestação de estudantes da Universidade de Paris, em Nanterre (55 anos) – início do movimento Maio de 68

3

Nascimento do cantor, dançarino, compositor e produtor musical norte-americano James Brown (90 anos) – é considerado uma lenda da funk music

Nascimento do cantor fluminense Agnaldo Rayol (85 anos)

Morte do jornalista, radialista e compositor fluminense Santos Garcia Dias (50 anos) – pioneiro de programas radiofônicos de auditório

Dia Internacional da Liberdade de Imprensa – comemoração instituída pela ONU por meio da Resolução 48/432, de 20 de dezembro de 1993

Dia do Parlamento – comemoração, conforme Lei nº 6.230, de 27 de julho de 1975, para marcar a data da instalação da primeira Assembleia Constituinte brasileira, em 3 de maio de 1823

4

Nascimento do cantor e compositor fluminense Luiz Maurício Pragana dos Santos, o Lulu Santos (70 anos)

5

Nascimento do filósofo e teórico político alemão Karl Marx (205 anos)

Nascimento do violonista e compositor fluminense Horondino José da Silva, o Dino Sete Cordas (105 anos)

Conquista de título de campeão mundial na categoria peso-pena, em Brasília, pelo boxeador Éder Jofre (50 anos)

Dia Nacional das Comunicações – data escolhida em homenagem ao nascimento de Marechal Rondon, reconhecido como o Patrono das Comunicações, por ter contribuído para a integração do território nacional por meio da construção de linhas telegráficas

Estreia do programa Antena MEC FM (17 anos)

6

Nascimento do advogado e político francês Maximilien François de Robespierre (265 anos) – uma das personalidades mais importantes da Revolução Francesa

*As datas são selecionadas pela equipe de pesquisadores do Projeto Efemérides, da Gerência de Acervo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que traz temas relacionados à cultura, história, ciência e personalidades, sempre ressaltando marcos nacionais e regionais. A Gerência de Acervo também atende aos pedidos de pesquisa do público externo. Basta enviar um e-mail para [email protected].




Fonte: Agência Brasil

Festival Corpo Negro celebra Dia Mundial da Dança no Rio de Janeiro


O corpo em movimento. Com ou sem música. Solo ou em grupo. Expressão de sentimentos e ideias. Passos ensaiados ou livres. Esta é a arte da dança, celebrada no dia 29 de abril.

Para celebrar o Dia Mundial da Dança, ocorre no Rio de Janeiro o festival O Corpo Negro, um dos maiores festivais de dança do país, que começa neste sábado (28) com apresentações gratuitas de espetáculos criados e executados exclusivamente por artistas negros e negras.

O evento, realizado pelo Sesc-RJ, chega a sua terceira edição com mais de 90 apresentações, shows, mostra audiovisual, oficinas e debates, ao longo de um mês.

Selecionados por meio de um edital público e inédito de dança para todo o Brasil, o projeto O Corpo Negro tem como objetivo fortalecer o segmento, gerar empregabilidade e proporcionar um espaço de visibilidade, além de ser o ponto de partida para maior protagonismo negro na cultura brasileira.

Rio de Janeiro (RJ) - Sesc RJ realiza “O Corpo Negro”, um dos maiores festivais de dança do país. Foto: Divulgação/SESC

O Corpo Negro é um dos maiores festivais de dança do país. Foto: Divulgação/SESC 

Importância

O analista técnico de Artes Cênicas do Sesc-RJ e um dos curadores do festival, André Gracindo, explica que a atual geração de dançarinos negros leva para os palcos as questões sociais do país.

“Temos artistas de uma geração com grande relevância para a cena como Elísio Pitta, Mestre Manoel Dionísio, Carmen Luz, bem como jovens e outros profissionais de todo o país que produzem arte para os nossos tempos, com trabalhos completamente sintonizados com as questões dos nossos dias”, explicou. 

O projeto contribui com as discussões sobre o racismo estrutural e a necessária implementação de ações coletivas de outros setores da sociedade, como a educação básica. “Desde a reelaboração dos livros de história que não podem mais representar como heróis os algozes de todas as etnias escravizadas; até as ações no campo simbólico, como a representação positiva da imagem da pessoa negra na cultura e na sociedade de forma geral”, acrescenta Gracindo.

Espetáculos

O festival irá percorrer até o dia 28 de maio sete cidades fluminenses: Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Nova Friburgo, Petrópolis e Volta Redonda . Todos os espetáculos de dança foram criados e serão executados por artistas negros.

Ao todo, 18 espaços desses municípios receberão as apresentações, entre unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc), escolas, universidades e praças públicas. Além dos grupos de dança do Rio de Janeiro, há artistas de mais três estados brasileiros: Bahia, Ceará e São Paulo. A maioria dos espetáculos é inédita.

A abertura oficial do evento, no domingo (29), será às 19h, no Sesc Copacabana, com entrada franca. Com a presença de alguns artistas da programação, a noite terá a performance Ará Dudu, de Aline Valentim e Valéria Monã, em homenagem ao casal Carlos Negreiros, músico e líder da Orquestra Afro-Brasileira, morto no ano passado, e Isaura de Assis, uma das primeiras bailarinas e coreógrafas de dança afro do país, integrante do balé de Mercedes Baptista. A noite será encerrada com o show Mãe África de Awuré.

Destaques

Entre os destaques da programação está a performance de Elísio Pitta, uma homenagem a Ismael Ivo, bailarino e coreógrafo negro, morto em 2021, e que se notabilizou atuando por mais de três décadas na Europa; a estreia do espetáculo Iyamesan, de Luna Leal, numa performance só com mulheres; e Repertório nº 2, com Davi Pontes e Wallace Ferreira, que vem circulando mundo afora com esse trabalho.

O festival terá também uma mostra audiovisual, com dez filmes de longa e curta metragens, de seis estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerias, Bahia, Alagoas e Ceará.

Durante a mostra será lançado o documentário Congar, que registrou a viagem do grupo de congada Reinado de Nossa Senhora do Jatobá, de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, para apresentação no festival do ano passado. Produzido pelo Sesc-RJ, o filme mostra diferentes gerações da irmandade, que levam consigo os seus ritos e celebram juntos a fé, a memória e o tempo.

Oficinas nas escolas

Também serão oferecidas oito oficinas de dança em espaços escolares. Destaque para as oficinas com o Mestre Manoel Dionísio, um dos maiores nomes do samba carioca, que vai ministrar aulas de mestre-sala e porta-bandeira nas unidades do Sesc em Ramos, Nova Iguaçu e Nova Friburgo. Também haverá cinco palestras com artistas e convidados, que vão discutir nas mesas pautas referentes à temática negra e a dança.

Encerramento

O cantor Xande de Pilares fechará o evento, no dia 28 de maio, às 19h, com um show na Praça Mauá, na zona portuária do Rio, e contará com as apresentações Sambando, do grupo Minas do Samba, e O corpo que habita o terno, com Jefferson Bilisco. Haverá, ainda, uma Feira de Empreendedores, que dará ênfase a empreendedores negros.

Gratuidade

Todos os eventos serão gratuitos, com a retirada antecipada dos ingressos nos espaços com lotação limitada e a programação completa pode ser vista no site do evento.

Dia Mundial da Dança

Instituído em 1982, o Dia Mundial da Dança é voltado para a promoção dessa arte em todo o mundo, além de conscientizar as pessoas sobre o valor da dança em todas as suas formas e compartilhar a alegria que há em movimentar o corpo. 

A data foi criada pelo Comitê de Dança do Instituto Internacional do Teatro da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e escolhida por ser o nascimento do bailarino e coreógrafo francês Jean-Georges Noverre. Autor do trabalho Lettres sur La Danse (Cartas sobre a Dança), o bailarino deixou seu legado sobre a expressividade dos movimentos nas apresentações de balé do século XVIII.

*Estagiário sob supervisão de Akemi Nitahara




Fonte: Agência Brasil

Cerâmica de barro é tradição que cria laços no Brasil


Três mulheres, três histórias, três heranças culturais. Dona Cadu, Dona Marciana e Dé Kariri Xocó não se conheciam. Uma baiana, outra amapaense e outra alagoana, elas saíram de suas casas para se encontrar esta semana no Sesc 24 de Maio, no centro de São Paulo. Ali, além de um bate-papo, foi exibido filme contando a história de cada uma. O que as uniu foi uma arte que aprenderam desde meninas e que esta semana elas vieram transmitir aos paulistanos: a ciência de transformar o barro em belas louças e cerâmicas.

“Estamos colegas agora”, contou a centenária dona Cadu. É com as mãos que elas vão moldando cada peça, como uma extensão de seus corpos. E é com as mãos que elas sustentam a casa: repetindo o que já fizeram suas antepassadas.

“Para mim e para o meu povo Kariri Xocó, ele [esse trabalho em cerâmica] representa uma coisa muito boa. Minha mãe teve 18 filhos. Criou esses 18 filhos com o barro, trabalhando na cerâmica. Igualmente eu, que só tive quatro [filhos]. Também ajudei a minha mãe a criar meus irmãos com a cerâmica. Me sinto muito orgulhosa de eu ser uma louceira de cerâmica”, contou Dé, à reportagem da Agência Brasil.

Sentadas lado a lado, aguardando o momento em que iriam se apresentar ao público do Sesc 24 de Maio, as três louceiras contam que foram pelas mãos de outras mulheres que receberam essas bençãos. E é por suas mãos que agora elas estão repassando essa mesma tradição para outras gerações de mulheres. “Eu já passei [essa técnica] de geração para geração. Minha filha faz, minha neta faz, minha bisneta faz. Essa é uma cultura para nós do estado do Amapá”, disse Marciana.

Dona Cadu

Foi ainda menina que Ricardina Pereira da Silva, a dona Cadu, de 103 anos, que ainda carrega o sorriso e disposição de menina, aprendeu a arte e o ofício de fazer louças. Moradora de Coqueiros, em Maragogipe, na Bahia, ela é louceira há 93 anos. Mostrando o muque nos braços para falar sobre o trabalho doloroso e difícil dessa técnica, dona Cadu contou como iniciou os trabalhos em cerâmica.

“Desde a idade de 10 anos [faço as louças]. Aprendi com uma senhora do sertão porque nasci e me criei em São Félix. Essa senhora chegou do sertão, da roça. Era chão velho, mas era roça. E aí ela sabia fazer. Eu todo dia ia doida para aprender. Todo dia eu pegava um molhinho do barro e levava para a casa de meus pais para fazer brinquedos. Mas eu estava pensando que ela não estava vendo eu levar o barro. Mas ela estava vendo. E ela me perguntou: ‘você quer aprender?’. Eu disse que queria. Com 15 dias que eu estava trabalhando com ela, eu já estava fazendo melhor do que ela. E aí fui trabalhar na casa dos meus pais”, recordou ela.

São Paulo (SP), 25/04/2023 - A ceramista baiana dona Cadu, de 103 anos, participa do Encontro de Louceiras: modelando geracões, com mediação de Joana Côrtes, no SESC 24 de Maio. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Dona Cadu, de 103 anos, começou ainda menina no ofício. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Mas dona Cadu não conseguia viver só dessa arte. Teve que trabalhar duro – e muito – para conseguir sustentar a casa. “Eu trabalhava no barro, na roça e na pedreira, quebrando brita. E nisso me criei. Me casei com 22 anos e fui para Maragogipe. Saí de São Félix e fui para Maragogipe. E lá até hoje estou”, disse ela, reforçando que nunca parou de amassar o barro.

“Não, minha filha, eu tenho que trabalhar. Isso aqui significa muita coisa. É disso que eu vivo. Estou nessa idade, mas ainda trabalho para sobreviver. Um salário só não dá para a gente viver não. Meu marido faleceu e eu não recebo a pensão dele. Me aposentei pelo fundo rural, porque eu trabalhava na roça. Aí eu tenho que trabalhar. Tem dia que eu estou cansada e penso: ‘hoje eu não trabalho’. Mas às vezes eu penso: ‘eu trabalhando e fazendo uma ou duas peças já está bom’. Aí eu trabalho”, disse ela.

Dona Cadu acorda cedo todos os dias na palhoça de dormir. Mas essa palhoça não é onde ela fica o dia todo. Seu lugar mesmo é a palhoça de trabalhar, para onde segue todos os dias para produzir mais de 10 peças [por dia], que depois ela vende para restaurantes.

“Eu tenho a palhoça de dormir e a de trabalhar. Ela [a neta] me leva uma mingauzinho e eu tomo. Mais tarde, ela diz: ‘vó, vambora comer’. E eu digo: ‘eu não estou com fome ainda não’. E ela: ‘a senhora vai comer é agora para não ficar fraca’. Se ela deixar, eu fico lá até à noite. Mas ela não deixa”, contou.

Até bem pouco tempo, ela ainda se sentava ao chão para confeccionar as peças. Mas uma queda, que a fez quebrar o fêmur, a impediu de continuar dessa forma. “Eu sentava no chão. Esses tempos é que eu não estou podendo mais sentar no chão porque eu caí na porta e quebrei o fêmur. Aí eu sento num banco para poder arranjar um tostãozinho. Eu moro com a minha neta e eu digo para ela: ‘quero fazer meu bolinho de barro’. E ela: ‘vó, vai te aquietar. Como é que tu te senta no chão, vó?’. Aí eu digo: ‘eu não vou sentar no chão não. Me bota em um banquinho assim que eu trabalho’. E aí me fizeram um banquinho e uma mesinha e eu boto o seco em cima da mesa e fico rodando a tábua’’, afirmou ela.

Para conseguir o barro, a centenária mulher precisa comprá-lo “da mão dos que têm fazenda”. E paga caro por isso. “Uma caçamba custa R$ 2 mil”, avaliou ela. Mas antigamente, as coisas eram ainda mais difíceis. “De primeiro, o barro a gente pisava. Era pisado. Eu criei muque, olha [ela mostra os braços], de fazer força para pisar no barro e trabalhar. Mas depois a gente coloca na rua, os carros vão passando e vão pisando o barro. E aí eu já ponho pisado para dentro de casa. Isso já facilitou. Mas, de primeiro, era pisado com tronco de pau”, narrou.

Essa ciência do transformar o barro em cerâmica ela já transmitiu para muita gente. Continua ensinando isso até hoje. “O povo estranho que chega e me pede para eu ensinar, eu ensino. Não é fácil, não. Só vendo trabalhar para saber que não é fácil. Teve um senhor daqui [de São Paulo] que, na quinta-feira passada, esteve lá na minha casa [na Bahia]. Aí eu estava trabalhando e ele ficou doido: ‘Dona Cadu, a senhora me ensina?’. E eu respondi que sim. Ele disse que ia passar uma semana na minha casa para aprender a fazer”, ela gargalha.

Detentora de saberes e fazeres ancestrais, Dona Cadu recebeu dois títulos de Doutora Honoris Causa outorgados pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Se não garantiu seu sustento, o trabalho com as louças ao menos a fez viajar por vários cantos do Brasil. “Já viajei. Já fui até em Curitiba. O governador de lá me mandou buscar lá na minha casa para eu fazer uma exposição para ele ver. Eu fui e ele gostou tanto que eu fui para passar três dias e eu passei oito dias”, conta ela, gargalhando.

Dona Cadu também viaja pelo Brasil para mostrar não só suas louças, mas o seu samba. “Eu tenho um grupo de samba, que eu não sou boba. Eu era nova e gostava dessas folias. Até que, enfim, que a casa do samba, em Santo Amaro, me cadastrou no samba. Tenho meus instrumentos dentro de casa. Mas agora nunca mais sambei por causa da perna, que eu tenho medo. Já fui até Curitiba, no Paraná, com meu sambinha. Vamos nós duas sambar. Quem sabe, minha filha?”, ela  convida a repórter.

E é cantando e sob o batuque das palmas, que ela encerra o bate-papo com a reportagem. “Chegou dona Cadu, do queimador de louça. Quando o vento bate, balança a sua roupa. Balança sua roupa, balança sua roupa. Chegou dona Cadu, do queimador de louça’. E eu fico toda fofinha”, acrescentou ela.

Dé Kariri Xocó, 66 anos completados nesta semana, vive na Aldeia Kariri Xocó, em Porto Real do Colégio, em Alagoas. Assim como as companheiras que conheceu em São Paulo, ela começou a trabalhar a cerâmica com apenas sete anos. Os primeiros potes que fez logo que começou a amassar o barro foram “um pote e uma panela”. “Comecei a fazer pequeno. Depois já comecei a fazer grande, grande, grande. E agora faço de todo tamanho”, revelou.

São Paulo (SP), 25/04/2023 - A ceramista Dé Kariri Xocó, da aldeia Kariri Xocó em Alagoas, participa do Encontro de Louceiras: modelando geracões, com mediação de Joana Côrtes, no SESC 24 de Maio. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Dé Kariri Xocó, da aldeia Kariri Xocó em Alagoas,no Encontro de Louceiras. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

“Quem me ensinou a fazer foi minha avó. Tanto que até hoje eu continuo a fazer. E ensinei. Tenho duas irmãs, que já sabem fazer há tempos. E agora eu estou ensinando minha filha e duas netas. Elas vão para a escola e, quando chegam, elas dizem: ‘vovó Dé, eu quero fazer pote’. E eu digo: ‘então, venham para cá’. E ela vem, senta mais eu, eu dou o bolinho de barro a ela e ela começa a fazer uma coisinha. Eu estou esperando ela [a neta] e minha filha ficarem no meu lugar”, afirmou.

Os potes, conta Dé, são parte de sua vida. Tarefa que ela desempenha do nascer ao anoitecer. “Eu me levanto da cama, escovo o lombo e vou correndo para o barro e para os potes. Quando é a noite, estou alisando, raspando e movimentando o barro”.

Essa argila, diz Dé, não é só parte de sua vida ou seu sustento. Ela já está impregnada em seu corpo. “Quanto mais eu estou apegada ao barro, mais eu estou sentindo coragem no meu corpo. Estou sentada fazendo a minha louça, chega a hora de eu almoçar e minha nora me chama: ‘Dé, venha almoçar’ E eu respondo: ‘vou já, vou já mulher’. Mas eu gosto tanto, que me passa a vontade de comer e de almoçar. E aí, com o cachimbo na boca, fumando, isso é minha resistência. Eu sinto que ele me dá resistência”, explicou.

Conseguir o material para fazer as peças não é um problema em sua comunidade. “Na minha aldeia não é [difícil de conseguir o material]. Só que eles são muito profundos. Para a cerâmica do pote, para nós tirarmos ele [barro], temos que cavar três camadas. Na quarta [camada] que ele dá o positivo. Se eu tirar naquelas três camadas, quando eu vou fizer o pote, eu não levanto ele. Ele fica só querendo cair. Na quarta [camada] é que eu tiro ele e aí eu trago ele positivo. Assim é na panela também”, acentuou.

O difícil é arranjar comprador para as peças. “Na nossa aldeia está faltando. Não tem comprador para vir comprar direto”, disse.

Enquanto enfrenta esse problema de falta de comprador, Dé vai mantendo a tradição, que aprendeu de menina. “Nós não podemos parar. Não podemos acabar essa tradição. Não podemos parar porque essa é uma tradição de nós, índias”, externou.

Marciana

Marciana Nonata Dias tem 82 anos e vive no Quilombo Santa Luzia do Maruanum, em Macapá (AP). Sua história se assemelha a de muitas louceiras desse Brasil.

São Paulo (SP), 25/04/2023 - A ceramista dona Marciana, do quilombo Maruanum em Macapá, participa do Encontro de Louceiras: modelando geracões, com mediação de Joana Côrtes, no SESC 24 de Maio. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Dona Marciana, do quilombo Maruanum em Macapá, participa do Encontro de Louceiras. Foto – Rovena Rosa/Agência Brasil

“Comecei a trabalhar a argila com dez anos. Minhas tias todas faziam artesanato. Eu e minha prima pegávamos o barro delas e fazíamos [as peças] escondidas. Elas não gostavam [quando] a gente pegava o barro. Mas a gente tirava e fazia escondido. Depois de casada – casei com 22 anos – minha comadre me convidou para fazer artesanato com ela. Eu me dediquei para a casa dela e fazia artesanato com ela. E hoje estou passando isso de geração para geração”, disse.

No quilombo onde vive, o trabalho com o barro reúne toda a comunidade e funciona também como um ritual, uma devoção à Mãe do Barro, a guardiã do barreiro de onde se extrai a argila. “Hoje são 20 louceiras na comunidade quilombola. Os homens vão para dentro da mata para tirar os paus e cavar a argila. A gente vai para o lago. Chegando lá, a gente escolhe o lugar para tirar o barro, despede-se da Mãe do Barro e aí vamos tirar o barro. Precisa tirar quatro camadas de terra para chegar no barro. Eu mando que eles cavem bem no meio do buraco. Eles escavam. E quando puxam o ferro, já está no barro. Eles limpam o barro, nós forramos com o plástico e eles vão jogando aquela argila para nós, para cima. A gente pega aquela argila, vai amassando e colocando em uma saca de plástico. E aí cada uma de nós faz uma pecinha para oferecer para a Mãe do Barro”, recordou ela. Desse ritual só não podem participar as mulheres gestantes, grávidas e menstruadas.

Dessa tradição é que vem o sustento de sua comunidade. “Nossa tradição é importante para a nossa comunidade por causa da renda. Só a aposentadoria e a cultura da mandioca não estão dando”, confessa.

Diferentemente de Dona Cadu, Marciana não tem dificuldade para encontrar o barro. “O barro não é difícil para nós porque lá na nossa comunidade tem três quilombolas que têm terreno. O que é mais difícil para a gente é o caripé (árvore cuja casca é transformada em cinzas e depois utilizada para a confecção de cerâmica) e a jutaicica (resina do jutaí, usada para dar lustro [brilho] a louças de barro)”, contou ela.

As peças produzidas no quilombo são vendidas em feiras e em casas de artesanato. Ela também vende peças em sua casa ou por encomenda. “Não tendo outro serviço para fazer, eu faço três ou quatro peças por dia. Faço panela, xícara, caneca”, detalhou.

Sua rotina começa bem cedo, assim como a de dona Dé e dona Cadu. “Eu me levanto às 7h, tomo meu banho, tomo meu café e vou trabalhar. Tenho a minha casa de dormir e a minha casa para fazer as peças. Só saio de lá quando me chamam para almoçar”, disse ela. “Quando a minha neta me chama para eu comer, eu falo ‘deixa eu terminar, que depois eu vou almoçar’. E só quando eu termino é que eu vou almoçar. E logo quando termino de almoçar, já estou fazendo minhas peças de novo”, destacou.

Para dona Marciana, o trabalho com as louças é importante não só para o sustento de sua comunidade. “Essa cultura vai passando de geração em geração para a gente não deixar a nossa cultura morrer”, sintetizou.

Coincidente

Três mulheres. Três tradições. Três formas de amassar o barro. “É muito diferente [o trabalho das três]. O meu é feito o prato, rolado o barro para fazer o pavio para fazer as peças. Da minha tia véia [ela aponta para dona Cadu], ela faz assim [batendo a mão]”, exemplificou Marciana.

Dé, Cadu e Marciana podem ter suas diferenças nessa arte. Mas elas se parecem não só na forma do trabalho como também em como se relacionam com ele. “Quando estou longe do barro fico triste e adoeço”, finalizou Marciana.

Dona Cadu também sofreu ao ter que ficar longe do barro por algum tempo devido a uma queda em que quebrou o fêmur. “Eu levei dois anos e mês sem pegar em um bolo de barro. Como eu não fiquei, hein? Acho que fiquei mais doente porque eu estava sem trabalhar”, disse ela.

As louças feitas com barro são uma tradição para diversas mulheres e diversas comunidades e territórios do Brasil. Do norte ao sul do país, louceiras produziram e produzem panelas, caldeirões, pratos e outros utensílios. Esses objetos carregam em si as tradições e os costumes que passaram de mãos para mãos. Objetos que podem ser diferentes na forma e nas histórias que carregam, mas que criam laços em todo o Brasil. “Estamos muito unidas pelo barro”, finaliza Marciana.




Fonte: Agência Brasil