Fiscalização apreende 850 metros de redes de pesca armadas irregularmente no Rio do Peixe




Polícia Militar Ambiental recolheu o equipamento nesta quinta-feira (20), em Presidente Epitácio (SP). Polícia Militar Ambiental recolheu 850 metros de rede de pesca armadas de forma irregular no Rio do Peixe
Polícia Ambiental
A Polícia Militar Ambiental apreendeu 850 metros de redes de pesca nesta quinta-feira (20), por estarem armadas irregularmente no Rio do Peixe, em Presidente Epitácio (SP).
Durante patrulhamento náutico no distrito de Campinal, os policiais recolheram 17 redes de nylon, de 1,2 metros de altura e 50 metros de comprimento cada. As malhas possuíam 80 milímetros e totalizaram 850 metros.
As redes estavam amarradas umas às outras e armadas irregularmente, a menos de 150 metros de distância.
Por ter contrariado a instrução normativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), os equipamentos de pesca foram apreendidos e depositados na Base Operacional de Presidente Epitácio.
A polícia aguarda prazo legal para fazer a destinação.
Os peixes que estavam enroscados nas redes foram soltos e devolvidos ao ambiente aquático.
Peixes presos em meio a rede foram soltos em ambiente aquático nesta quinta-feira (20)
Polícia Ambiental

Veja mais notícias em g1 Presidente Prudente e Região.




Fonte: G1

Gastronomia e Cultura: Mercadão de SP tem programação especial


O Mercado Municipal Paulistano, conhecido como o Mercadão de São Paulo, está entre as opções de passeio para os paulistanos e turistas que visitam a cidade de São Paulo no feriado de Tiradentes, comemorado nesta sexta-feira (21). Os visitantes poderão contar, até o dia 23 de abril, das 10h às 16h, no Espaço de Eventos, com a terceira edição do Festival de Gastronomia e Cultura (FGC), que desta vez homenageia Portugal.

A cultura e as tradições da China e do Japão passaram nos meses anteriores pelo Mercadão.

O Festival de Gastronomia e Cultura tem entrada gratuita e é aberto ao público. No local haverá boxes de alimentação, apresentações artísticas e musicais e lojas de produtos típicos, entre outros atrativos.

Na programação gastronômica desta edição estão a PAME, padaria artesanal; a N2 Extreme Brasil, gelateria onde o cliente pode levar qualquer ingrediente para ser transformado em gelato; e a B.lem, a maior rede de padarias do Brasil, com raízes portuguesas.

No dia 22 de abril, data em que se comemora o descobrimento do Brasil, o Espaço de Gastronomia e Cultura do Mercadão será palco de uma experiência gastronômica exclusiva com os pratos do chef Vitor Sobral, do restaurante Tasca da Esquina, um dos mais tradicionais e premiados de São Paulo. O cardápio é composto por quatro pratos e uma sobremesa, que podem ser consumidos à vontade, por R$ 209,00.

Os ingressos para esta atração podem ser adquiridos pelo Sympla ou no dia do evento, mediante disponibilidade.

Serviço:

Festival de Gastronomia e Cultura – Edição Portugal

Mercado Municipal Paulistano – Mercadão

Rua da Cantareira, 306 – Centro Histórico de São Paulo

De 20 a 23 de abril

Horário: das 10 às 16h

Convite antecipado para o almoço com o Chef: Sympla




Fonte: Agência Brasil

Brasília, 63: novos candangos madrugam e sonham no centro comercial


– Vamos comer, vamos comer. Já é meio-dia. Bora, Brasília.

A chamada é um grito no meio da multidão, que não são todos que podem obedecer. Não é por falta de fome. No centro comercial da capital, na Asa Sul, trabalhadores acordaram bem cedo, antes do céu se acender. Por uns sonhos, por uns reais, por todas as realidades que os cercam. O horário é o de menos. Não dá para parar. O cliente chegou. Os novos candangos estão no “corre”.

Que o diga o brasiliense João Wellington Batista, de 42 anos, motociclista de aplicativo, na ansiedade do próximo som do celular, que avisa qual será a próxima entrega. Nem o dedo enfaixado que ele lesionou, lavando a “bicha” (a companheira moto) com o motor ligado, faz com que ele dê um tempo do “trampo”.  “Nem pensar dá pra parar. Tenho um filho de 13 anos para cuidar”. Na rotina, sai de Samambaia, a 30 km dali, antes das 6h da matina. Só volta para casa depois da meia-noite o filho de pais de Uberaba (MG) e Goiânia (GO).

Brasília (DF) 21/04/2023 - Especial 63 anos de Brasília, os candangos da cidade. O motoboy Joāo Wellington posa para fotografia em sua moto.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Nem o dedo machucado faz com que o motociclista Joāo Wellington pare de trabalhar- Joédson Alves/Agência Brasil

Ele já passou por outros apertos. Joelho arranhado, bacia machucada. “Foram três acidentes nesses últimos tempos. O trânsito dá medo mesmo”. Mas não teve muita opção, desde que, em 2015, perdeu o emprego de porteiro, o último com carteira assinada. Ao lado de sua moto, outras aceleram ao primeiro som do celular. Os novos candangos estão em meio a uma mistura de barulhos.

Mistura também de cheiros e gostos. “Olha o churrasquinho. Quentinho. Vamos almoçar”. Mas ainda não é pro bico de Nathan Santiago, de 23 anos, que só vai poder montar a marmita depois das 14h30. Agora, tem que servir os outros. A fumaça que sai das churrasqueiras sobe para o nariz e para os olhos, embalada pelo clima seco da capital.

Brasília (DF) 21/04/2023 - Especial 63 anos de Brasília, os candangos da cidade. Natan Santos posa para fotografia na barraca em que trabalha servido almoço.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Enquanto esquenta os churrasquinhos, Nathan Santiago sonha fazer um curso superior. Joédson Alves/ Agência Brasil

Nathan sai cedinho de Planaltina, a quase 60 km do centro. Tudo vale a pena. Sonha fazer um curso superior em gestão de pessoas. Junto com ele, está no caixa do churrasquinho Sávio Silva, de 20, também planaltinense. “É uma correria difícil”. Menos difícil, segundo ele, do que a aventura por qual passou o pai carpinteiro, que saiu de Floriano (PI) para tentar a vida na capital. Hoje deseja mesmo fazer faculdade de administração. Enquanto pensam no futuro, ambos de máscara, só tiram do rosto para tomar água em uma garrafa que já foi de refrigerante.

Almoçar também não é a prioridade do goiano Fábio Araújo, de 40 anos, que está no outro lado da rua. Aliás, o comerciante administra dois negócios ao mesmo tempo: os docinhos em cima de uma mesa de plástico e a cadeira de engraxate. Foi lustrando os sapatos alheios que ele começou essa aventura de comércio de rua há 16 anos. Para complementar renda, resolveu juntar paçocas, balas e bananada para ter mais moedinhas no final do dia. Qual vale mais a pena? “Os dois. Importa que eu leve dinheiro para casa”.

Brasília (DF) 21/04/2023 - Especial 63 anos de Brasília, os candangos da cidade. Fábio de Araújo posa para fotografia em sua mesa com doces no setor comercial.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Fábio Araújo vende doces, mas também atua como engraxate. Joédson Alves/Agência Brasil

A casa fica em Luziânia, a 60 km dali, o que faz com que ele desperte todos os dias às 4h da manhã para chegar ao centro de Brasília, às 7h. Afinal, a prioridade, nesse momento, é o tratamento do filho mais velho, de 18 anos, que foi diagnosticado com lúpus. Além dele, tem mais três filhos que precisam da atenção do pai. Todos na casa sonham um dia ter uma casa própria. “E saúde, para eu continuar trabalhando”. A esposa também madruga. Faz dindim caseiro para vender em Luziânia.

Entre as clientes dos docinhos de Fábio, a pernambucana Aline dos Santos, de 22 anos, que trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma empresa do centro, comemora ter registro em carteira.

Brasília (DF) 21/04/2023 - Especial 63 anos de Brasília, os candangos da cidade. Aline Mayane possa para fotografia em seu horário de almoço no setor comercial.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

A arcoverdense Aline quer prestar concurso público em Brasília. Joédson Alves/Agência Brasil

 Tal e qual sonharam os pais, um pintor e uma empregada doméstica, desde quando saíram de Arcoverde (PE) para se instalar em Ceilândia, a maior região administrativa do Distrito Federal e que tem 60% da população,  cerca de 140 mil pessoas nascidas no Nordeste. Outros 130 mil são descendentes diretos de pais daquela região.

Aline entra no serviço às 7h, o que faz com que madrugue no ônibus. “Sonho estudar mais e passar em um concurso da polícia”. Mas ainda precisa recuperar o tempo passado e terminar o ensino médio.

História de exclusão

Sonhos legítimos, apagamentos da história de trabalhadores da capital, reações sociais…. Para o historiador Guilherme Lemos, a Brasília do ano de 2023 guarda caminhos de segregação e racismo, como ocorreram desde a sua construção.

Brasília (DF)  - Especial 63 anos de Brasília, os candangos da cidade. Guilherme Lemos em uma palestra.
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgaçāo

Guilherme Lemos estudou o apagamento dos “Dois Candangos”. Arquivo /Divulgaçāo

Ele cita um episódio ocorrido em abril de 1962, quando os trabalhadores Gildemar Marques, de 19 anos, nascido em Bom Jesus (PI), e Expedito Xavier Gomes, de 27, de Ipu (CE) morreram em um canteiro de obras da Universidade de Brasília. O fato foi também objeto de pesquisa de doutorado de Guilherme Lemos na tese “No dilacerar do concreto (leia aqui). Saiba também sobre as providência da Justiça do DF para reparação das famílias das vítimas”.

Em “homenagem” às vítimas, o auditório da universidade ganhou o nome de “Dois Candangos”, e não o nome deles.”A minha questão era justamente como que esse nome candangos acabou apagando essa história do Brasil”, explicou.

O pesquisador chama atenção que se trata da história de uma segunda geração de trabalhadores de um Brasil pós-abolição. O concreto da obra serviu, então, conforme o pesquisador, com a monumentalização que é Brasília, para ocultar esse passado do Brasil escravista. Um Brasil teoricamente disposto a não tratar do passado e até a escondê-lo.

“Essa monumentalização gera um apagamento da memória desses homens. Um passado que é de violência e romantização na tentativa de esquecimento”.

“Vim como mucama”

No presente da capital, o centro comercial traz histórias de recomeço. Como é o caso da ambulante Silvana Alves, de 43 anos, que vende roupas em uma barraca. Ela, que é da cidade de Piracuruca (PI), mudou sozinha para Brasília há cerca de 25 anos. “Vim para cá com menos de 18 anos de idade como mucama para fazer serviços domésticos. Não deu para estudar. Desde criança, vivia na roça. Hoje, consigo ajudar minha mãe que continua lá. Vou a São Paulo periodicamente para comprar os vestidos, blusas e casacos para ganhar alguma coisa”.

Na Feira do Pedregal, no Novo Gama, ela conheceu o marido Rubens Martins, de 31 anos, que vendia bijuterias, e nasceu em Niquelândia (GO).  Resolveram juntar as esperanças e os varais de produtos. “Somos dois candangos”, diz ela.

Brasília (DF) 21/04/2023 - Especial 63 anos de Brasília, os candangos da cidade. O casal Rubens Martins e Silvana Alves posa para fotografia em sua barraca de roupas no setor comercial.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

O casal Silvana Alves e Rubens Martins se conheceram em uma feira e resolveram juntar os varais. Joédson Alves/Agência Brasil

De frente à barraca de roupas, três pessoas estão em volta de uma caixa de isopor com marmitas: Thaynara Alves, de 34, o marido Wender Soares, de 49, que também é taxista, e a filha de cinco meses. “Ela é a única que não pode ficar sem comer. A gente consegue”, diz Thaynara, que sonha mesmo ser profissional de saúde.

Brasília (DF) 21/04/2023 - Especial 63 anos de Brasília, os candangos da cidade. O casal Wender Soares e  Thaynara Alves e sua filha, Ana Júlia posam para foto em sua barraca de vender comida no setor comercial.
Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

Na hora do almoço, só quem tem o horário respeitado é a filha de cinco meses. Joédson Alves/Agência Brasil

Hoje, ela cursa enfermagem à noite, perto de onde mora, em Luziânia (GO). Procura voltar rápido para casa de forma que o marido possa descansar. Afinal, atende os clientes a partir das 3h da manhã. “O meu filho mais velho me jurou que vai fazer faculdade para realizar meu sonho. Queremos o mesmo para a nossa bebê, que ela goste de viver aqui”, explicou.




Fonte: Agência Brasil

Idoso é autuado em R$ 3 mil e preso em flagrante por maus-tratos a um cachorro em Presidente Epitácio




Testemunha disse aos policiais ambientais que o homem havia levantado o cachorro e o jogado com força no chão. Animal foi encaminhado para o Centro de Zoonoses de Presidente Epitácio (SP), nesta quinta-feira (20)
Polícia Ambiental
Um homem, de 64 anos, foi preso e multado em R$ 3 mil nesta quinta-feira (20), por maus-tratos a um cachorro em Presidente Epitácio (SP).
A Polícia Militar Ambiental foi acionada para atender uma ocorrência de maus-tratos a animal doméstico na Vila Sobral.
Ao chegar no local, os policiais encontraram um cachorro debilitado, que apresentava diversos ferimentos e lesões. Ele foi levado até o Centro de Zoonoses da cidade, onde foram realizados os primeiros atendimentos por uma médica veterinária.
Conforme a polícia, uma testemunha disse que o dono do animal havia levantado o cachorro e o jogado com força no chão.
Ele foi identificado e conduzido para a Delegacia de Polícia. O delegado de plantão ratificou a prisão em flagrante delito do idoso e ele permaneceu preso à disposição da Justiça.
A Polícia Ambiental, por sua vez, emitiu um Auto de Infração Ambiental em desfavor do homem no valor de R$ 3 mil, por praticar maus-tratos a animal doméstico.
O cachorro permaneceu no Centro de Zoonoses, onde ficará em tratamento e, quando estiver em condições, será encaminhado para adoção.

Veja mais notícias em g1 Presidente Prudente e Região.




Fonte: G1

“Foi como um sonho”, diz o fotógrafo que registrou Brasília em 1957


Dos mais humildes aos poderosos. Das luzes às sombras.  Nada escapou às lentes de um dos principais fotógrafos da história brasileira. Com obra consagrada e premiada na segunda metade do século 20, o carioca Walter Firmo, hoje com 85 anos de idade, notabilizou-se pelos registros poéticos e exclusivos por onde passou. No entanto, um dos momentos que o experiente profissional considera mais inesquecível foi uma cobertura no ano de 1957, quando registrou algo que ele chama de inacreditável: a construção de uma cidade para ser a capital do Brasil.

Enquanto erguia sua máquina, emocionava-se, do outro lado do visor, com os princípios das edificações. “Foi um sonho. Algo inacreditável. Parecia cinema”, recorda Firmo. Conhecido por registrar em diferentes trabalhos as pessoas mais simples, e também artistas e políticos, ficou impressionado com a força dos candangos. A obra do mestre da fotografia pode ser conferida também na mostra “No Verbo do Silêncio a Síntese do Grito”,  em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na capital do País, com acervo que é preservado pelo Instituto Moreira Salles (IMS). Na capital, Firmo concedeu entrevista à Agência Brasil. Confira alguns trechos abaixo.

Agência Brasil – O senhor conheceu Brasília nos anos 1950, antes da inauguração, certo?

Walter Firmo – Eu estive em Brasília em 1957 (a serviço do jornal Última Hora, veículo fundado por Samuel Wainer). Eu tinha 20 anos de idade. Eu vi e fotografei  essa cidade sendo erguida. Eram só os começos dos prédios dos ministérios e na Praça dos Três Poderes, além de milhares de candangos em cima de caminhões. Eles trabalharam incessantemente. Foi assim que eu conheci Brasília. Fotografei Juscelino Kubitschek​ (ex-presidente) e  (Oscar) Niemeyer (arquiteto).

Agência Brasil – E qual foi a sua impressão ao chegar nessa cidade que seria inaugurada?

Walter Firmo – A minha sensação era que eu estava sobre um belvedere que iria surgir. Um lugar que seria o centro político das decisões do Brasil. O Juscelino fez um gesto gigantesco, de boa vontade, e que iria representar um crescimento do país. Ele interiorizou o país e o Brasil, que se diversificou.

Agência Brasil – Antes da inauguração, o senhor ainda fez outros trabalhos na capital?

Walter Firmo – Sim. Estive meses antes de inaugurar (em fevereiro de 1960) para cobrir a visita do então presidente norte-americano (Dwight) Eisenhouer. (Confira aqui o discurso  do presidente Juscelino nessa ocasião). A imagem dele saudando o povo e dando as mãos com Juscelino ocupou uma página inteira. Nunca mais esqueço disso. 

Agência Brasil – Além dos artistas e políticos, o senhor é consagrado também pela sua capacidade de traduzir  a negritude, os trabalhadores e os mais humildes. Como foi coletar as imagens dos trabalhadores de Brasília?

Walter Firmo – O meu trabalho foi sempre fotografar as pessoas mais simples. Que respiram. Por serem simples, eles são mais humanos. A exposição de minhas fotos no Centro Cultural Banco Brasil (CCBB) mostra as pessoas simples. Eles são trabalhadores diferentes que ajudaram a construir esse lugar.

Agência Brasil – . O que o senhor encontrou de mais especial ao fotografar esses trabalhadores de Brasília?

Walter Firmo – O que eles fizeram foi algo gigantesco. Era algo inacreditável. Parecia um sonho. Era uma coisa que parece que não era verdadeira. Brasília está aí mostrando a sua beleza. Outro dia, eu estava em Brasília e ouvi de uma senhora que o pai dela havia ajudado a construir a Catedral. Isso é muito belo. 

Agência Brasil – Aos 85 anos de idade, como é voltar a Brasília?

Walter Firmo – Brasília é uma cidade brasileira singular, diferentes no mundo porque foi planejada. Quando se visita Brasília, pode se amar ou detestar, mas não se pode ficar indiferente. Eu gosto da diferença que essa cidade apresenta,

Agência Brasil –  Ao voltar a Brasília, o senhor vê os trabalhadores da atualidade como viu antes da inauguração?

Walter Firmo – Os trabalhadores continuam com esse espírito de luta. Mas não os candangos de antes. Eram homens que vieram do Nordeste, de uma simplicidade extrema. Pessoas que não tinham o que comer e se aventuravam em um lugar novo. Eles tinham um chapéu e uma bota, e nada mais. Esse tipo de operário eu não vejo mais hoje. Aquela saga foi algo inigualável e inesquecível. 

Agência Brasil – O senhor considera essa sua cobertura antes da inauguração algo inesquecível em sua carreira?

Walter FirmoSim. Era algo que parecia cinema. Não vou esquecer nunca mais. Hoje ela está muito moderninha para o meu gosto (risos). Foi uma semente de uma era. Hoje, com 63 anos, ela não tem nada de velha. Ela é linda. Toda vez que eu passo por Brasília, eu me emociono. Eu sinto algo estranho dentro de mim. Foi triste assistir ao que ocorreu no dia 8 de janeiro, quando foi atacada e vilipendiada. É uma cidade que representa o sonho de muita gente. Brasília é transformadora e original.




Fonte: Agência Brasil

Coletivos negros fazem ato contra ex-atleta que agrediu entregadores


Coletivos negros e movimentos sociais do Rio de Janeiro realizaram nesta quinta-feira (20) um ato de resistência contra o racismo no país. Mais de 80 organizações cobraram a prisão da ex-jogadora de vôlei de praia, Sandra Mathias Correia de Sá, 53 anos que agrediu os entregadores de aplicativo, Max Ângelo e Viviane Maria, no bairro de São Conrado, zona sul do Rio de Janeiro, onde os dois trabalhavam.

Em manifesto, organizadores reafirmaram “legado de resistência, luta, produção de saberes e de vida”.

“Historicamente, seguimos enfrentando o racismo, que estrutura a sociedade e produz desigualdades que atingem principalmente nossas existências. Durante os quase quatrocentos anos de escravização e desde o início da República, somos alvo de violações de direitos, do racismo, da discriminação racial, da violência e do genocídio”.

Em outro trecho, o documento ressalta que a história exige da população negra brasileira e de toda a diáspora africana ações articuladas para o enfrentamento ao racismo, ao genocídio e às desigualdades, injustiças e violências derivadas desta realidade.

“Esta unidade de luta negra se reúne em defesa da vida, do bem viver e de direitos arduamente conquistados na resistência e luta do povo negro pobre e da classe trabalhadora, irrenunciáveis e inegociáveis, seguiremos honrando nossas e nossos ancestrais, unificando em luta toda a população afro e demais membros da classe trabalhadora, por um futuro livre de racismo”.

Agressões

No dia 9 de abril, Sandra agrediu violentamente os entregadores em São Conrado, perto de onde ela mora. As imagens gravadas mostram a ex-atleta desferindo socos em Max e puxões fortes na camisa dele. Na cena mais forte, a mulher deu chicotadas no trabalhador usando a guia do cachorro dela. Em seguida, ele se esquiva e tenta se afastar. Depois, Sandra retornou e deu tapas e socos na entregadora Viviane Maria Souza.

A ex-atleta, se apresenta nas redes sociais como nutricionista e dona de uma escola de vôlei de praia no Leblon. No depoimento à polícia na última segunda-feira (17), Sandra disse ter sofrido preconceito de gênero e negou racismo. Max negou a versão da mulher.

O caso foi registrado como lesão corporal e injúria simples. Segundo a delegada responsável pelo inquérito, ainda não há elementos suficientes para que o caso seja caracterizado como injúria racial. A polícia investiga se também houve o crime de injúria racial, que tem tratamento jurídico do racismo e pena de dois a cinco anos. A delegada ainda ouvirá outros três depoimentos.




Fonte: Agência Brasil

Rádio MEC celebra 100 anos e anuncia programação especial


A Rádio MEC celebrou 100 anos nesta quarta-feira (20) em um evento no Teatro da Caixa Nelson Rodrigues, no Rio de Janeiro. A emissora pública, que tem conteúdo voltado para educação, arte e cultura, foi criada em 1923 pelos cientistas Roquette-Pinto e Henrique Morize. Para marcar a data histórica, foi anunciada uma programação especial que vai entrar na grade da emissora durante os próximos meses.

Entre as novidades, destaque para a série protagonizada pelo escritor Ruy Castro, que vai ao ar nos domingos, às 22h, a partir do próximo dia 23. Ela é baseada no livro do autor, Metrópole à beira-mar. Também estão previstos: o programa Memória: Rádio MEC 100 anos, com 100 programas históricos do acervo; a apresentação da Orquestra Sinfônica Nacional no dia 10 de maio, ao vivo, na rádio; a transmissão do Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras (8 a 11 junho); o concerto com a Petrobras Sinfônica no Museu Nacional (7 de setembro); e o Prêmio Rádio MEC 100 anos (25 de setembro).

A diretora de Conteúdo e Programação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Antonia Pellegrino, disse que uma das prioridades da nova gestão é digitalizar o acervo da Rádio MEC.

“Isso é muito importante para garantir que ele não se perca, como vimos no caso dos acervos de alguns museus do Brasil. É também uma forma de disponibilizar nosso acervo para consulta de pesquisadores, estudantes e curiosos. E é uma etapa necessária para o tombamento da Rádio MEC como patrimônio imaterial brasileiro pelo Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], um reconhecimento da importância e da contribuição que a rádio deu ao Brasil como difusora de cultura e ciência”.

Gerente-executivo de Rádio da EBC, Thiago Regotto, reforçou que o momento é favorável para investir no crescimento da MEC e aproximá-la ainda mais do público.

“Tem muita coisa bacana que a gente pode fazer no cenário atual, que foi difícil de executar antes por dificuldades orçamentárias. Hoje, a comunicação pública e a Rádio MEC aparecem como prioridades. Então, vamos fazer tudo o que pudermos para alcançar mais pessoas, para apresentar conteúdos diferentes e relevantes na programação”.

Além das novidades, a Rádio MEC promete continuar fortalecendo os programas que recebem retorno positivo do público. É o caso do infantojuvenil Blim-Blem-Blom, comandado pelo compositor e produtor musical Tim Rescala há 11 anos.

“O programa é muito ouvido pelas famílias. Tenho esse retorno, que me deixa muito feliz, também pelos professores de música, que utilizam o programa em sala de aula. Então, isso mostra que esse aspecto didático e educativo, que marca a rádio, nos coloca no caminho certo. A gente está conseguindo levar a música clássica de forma lúdica para as crianças”.

O presidente da EBC, Hélio Doyle, lembrou que o centenário da MEC é uma prova de que as previsões pessimistas sobre o fim do rádio não se concretizaram. E que a emissora vai continuar se adaptando e sendo um meio de comunicação importante na sociedade brasileira.

“Eu ouvia a história de que o rádio ia acabar quando veio a televisão. Depois, se falou do fim do rádio por causa da internet. O rádio se revitaliza, se renova. E ele não vai deixar de existir porque é o meio de comunicação mais acessado pelas pessoas. É o que chega mais facilmente, que depende menos de tecnologias sofisticadas. Seja no interior da Amazônia ou em qualquer outro lugar, o rádio chega lá. Ele não vai acabar, ele vai se recriar”.

História

A MEC foi a primeira emissora radiofônica do Brasil. Sucessora da Rádio Sociedade, criada em 20 de abril de 1923 por Edgard Roquette-Pinto e Henrique Morize, teve papel importante na formação musical e cultural do país. Em 5 de julho de 2022, foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial do Rio de Janeiro.

Doada em 1936 ao Ministério da Educação, a Rádio MEC é gerida desde 2007 pela EBC. Com cerca de 50 mil registros e produções, a emissora possui um patrimônio de gravações de personalidades como Getúlio Vargas, Monteiro Lobato, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Fernanda Montenegro e Carlos Drummond de Andrade.




Fonte: Agência Brasil

STF tem três votos para liberar retorno da contribuição sindical


O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar um recurso para analisar a legalidade da extinção da obrigatoriedade da contribuição sindical, aprovada pelo Congresso na reforma trabalhista de 2017.

O caso é analisado no plenário virtual da Corte desde sexta-feira (14). Até o momento, os ministros Gilmar Mendes, relator, Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia se manifestaram favoravelmente ao retorno do imposto sindical.

Mendes mudou seu entendimento em relação ao julgamento da questão em 2018, quando o Supremo manteve o fim do imposto. Agora, os ministros julgam um recurso dos sindicatos envolvidos no processo.

Em seu voto, o ministro disse que as circunstâncias mudaram e a falta da contribuição impactou a principal fonte de custeio dos sindicatos.

“Havendo real perigo de enfraquecimento do sistema sindical como um todo, entendo que a mudança de tais premissas e a realidade fática constatada a partir de tais alterações normativas acabam por demonstrar a necessidade de evolução do entendimento anteriormente firmado por esta Corte sobre a matéria, de forma a alinhá-lo com os ditames da Constituição Federal”, afirmou Mendes.

Desde a reforma, o desconto de um dia de trabalho por ano em favor do sindicato da categoria passou a ser opcional, mediante autorização prévia do trabalhador.

Se a maioria do STF aprovar a volta do imposto, passará a prevalecer a seguinte tese sobre a questão.

“É constitucional a instituição, por acordo ou convenção coletivos, de contribuições assistenciais a serem impostas a todos os empregados da categoria, ainda que não sindicalizados, desde que assegurado o direito de oposição”.

O julgamento será encerrado na segunda-feira (24). Faltam os votos de oito ministros.




Fonte: Agência Brasil

Brasília 63 anos: patrimônio cultural da era modernista


Em homenagem ao aniversário de 63 anos de Brasília, comemorado neste 21 de abril, a Rádio Nacional traz um pouco da história da construção da capital federal, revelada em conversa com Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília.

Rádio Nacional: A construção muito peculiar da capital federal no Planalto Central conferiu a cidade características que vão desde aspectos monumentais à arquitetura inovadora, o que conferiu a cidade em 1987, o reconhecimento da UNESCO como Patrimônio da Humanidade. O que torna o conjunto urbanístico arquitetônico de Brasília tão especial?

Frederico Flósculo: Brasília é um episódio extraordinário da história brasileira, porque sobretudo foi a realização do sonho republicano de transferência da capital da República para o interior do Brasil. Isso era um sonho até anterior à República. Foi um sonho expressado por José Bonifácio, por líderes brasileiros que viam a necessidade de bem defender a capital brasileira, mas bem administrar um país gigantesco. Então, finalmente, Juscelino Kubitschek conseguiu fazer isso e a história desse sucesso é uma história muito particular, porque se deveu muito, tanto aos trabalhos do próprio [Getúlio] Vargas, porque Vargas quase cria Brasília, ele criou comissões de estudos e montou todo o grupo praticamente que depois foi usado pelo próprio Juscelino, mas também por Juscelino Kubitschek que foi assim o grande herói de Brasília porque ele enfrentou uma oposição política, extraordinariamente, agressiva contra a realização da cidade.

Mas Juscelino teve a seu favor a contribuição de um extraordinário arquiteto. Oscar Niemeyer. que ele já conhecia desde os tempos de prefeitura de Belo Horizonte, desde a década de 30. Oscar Niemeyer e Juscelino tinham uma amizade, uma sólida confiança mútua e Juscelino confiou ao Oscar o projeto de Brasília. Só que Oscar Niemeyer, cuidadosamente, sabiamente, recusou. Oscar Niemeyer era ligado a OAB, propôs a realização de um concurso público nacional e nesse concurso nacional, em 1957, foi vencedor outro extraordinário urbanista carioca, Lúcio Costa. Embora nascido na França, Lúcio Costa era mestre de Oscar Niemeyer, um grande reformador do ensino brasileiro, criador do Iphan. Na verdade, o Serviço Nacional depois se tornou o Instituto Nacional do Patrimônio Público, Histórico e Artístico Nacional. E aí, é a proposta de Lúcio Costa, extraordinária, que vai começar realmente a concretizar Brasília. Então Lúcio Costa propõe uma cidade muito simples o traçado, dois eixos que se cruzam, um eixo descendo assim na direção do lago que já estava definido e outro eixo, fazendo o abraço do grande morro do Cruzeiro. E é ao longo desse eixo que faz o abraço que estão distribuídas as superquadras residenciais. E no eixo que desce o morro na direção do lago ele se tornou o eixo monumental onde são colocadas as principais zonas, setores tanto da capital da República, quanto de apoio e atração as funções fundamentais da cidade.

Brasília 60 Anos

Horizonte de Brasília – Marcello Casal JrAgência Brasil

Rádio Nacional: O senhor mencionou a história do concurso do plano piloto e eu gostaria de saber quais os principais destaques do projeto de Lúcio Costa e como ele foi colocado em prática.

Frederico Flósculo: E aí é uma história, extraordinária, do próprio concurso. Lúcio Costa quando propôs, ele propôs realmente de todos os planos que tinham sido apresentados, o mais elegante, ele propôs uma cidade parque que foi escolhida pelo júri que tinha membros internacionais ,eles escolheram por causa da simplicidade e viabilidade e extrema beleza do plano. O Juscelino queria que o Oscar fizesse os prédios, os edifícios, o projeto de arquitetura. E teve um urbanista vencedor do concurso que eles dois teriam que trabalhar juntos. E o Juscelino conhecia muito bem arquiteto e urbanista. Sabe como é essa turma que não se concilia, que não é muita amiga, você vai ter um inferno na terra. Aí ganhou esse presente aí. Realmente a escolha foi isenta e um grande mestre e companheiro de Oscar foi o vencedor. Os dois, então, fizeram a cidade que é tanto do Lúcio quanto do Oscar.

produção de fotos para matéria de aniversário de Brasília

Congresso Nacional visto da Rodoviária do Plano Piloto- Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Há vários episódios em Brasília, no Congresso Nacional em que se você ficaria espantada em ver como por exemplo aquele jogo belíssimo de formas das duas cúpulas, uma virada pra cima, os dois edifícios gêmeos, tudo aquilo foi concebido simultaneamente por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. A gente atribui só ao Oscar, mas quem começou a desenhar, fez a primeira proposta do Congresso Nacional, foi Lúcio Costa. E Oscar duplicou e aí começa uma sucessão de realizações extraordinárias em pouco mais de dois anos de trabalho, de projeto de execução, graças também a um grande engenheiro chamado Israel Pinheiro. Então é algo que emociona a brasilidade, se você pensar que, em cerca de mil dias, essa equipe heroica conseguiu entregar para o Brasil no dia 21 de abril de 1960, a capital com o presidente instalado, com os poderes instalados em condição de começar a fazer com que o governo brasileiro se manifestasse e fizesse a gestão do Brasil desde o Planalto Central. Um momento de imensa emoção. E a partir daí, o Brasil começou a conhecer Brasília. Porque ninguém sabia que coisa era aquela, que eles conheciam por algumas fotografias da obra, por alguns desenhos da obra. A brasilidade ao longo daqueles anos 60, 70, veio, desceu, veio de todo o planeta Brasil para trabalhar em Brasília, nas suas embaixadas, nos seus ministérios. Virou um centro de brasilidade, assim, que nos orgulha. Não há cidade, capital, no mundo, que tenha a beleza, a integridade, a elevação de Brasília. É por isso que no final dos anos 80, acabamos sendo distiguidos pela UNESCO com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. O único Patrimônio Cultural da Humanidade que é modernista, que é do século 20.

Brasília 60 anos - Palácio do Planalto

Palácio do Planalto – Marcello Casal JrAgência Brasil

Rádio Nacional: Professor Flósculo, pelos aspectos urbanísticos, como a cidade se transformou ao longo desses 63 anos de existência?

Frederico Flósculo: Estamos num processo agora de preservação desse núcleo porque contra, digamos, a integridade daquela Brasília de JK, de Oscar Niemeyer, de Lúcio Costa, de Israel Pinheiro, há muitos inimigos, eu coloco meio que entre aspas, representados pelos especuladores imobiliários. Pelos oportunistas, pelos grileiros, por várias ondas de pessoas que pensam poder impor à Brasília o mesmo tipo de derrota urbana que foi imposta, em especial, ao Rio de Janeiro. Então nós temos esse estigma também. De não permitirmos que aquilo que aconteceu no Rio, que ainda continua a aterrorizar a antiga capital, isso aconteça em Brasília, mas infelizmente já está acontecendo. Nós temos desde aquele momento de inauguração em 21 de abril de 60, até hoje, esses 63 anos que se passaram, várias descontinuidades que foram quase fatais pra Brasília. Continuidades  cruéis como da ditadura militar. E quase mata Brasília. Quase que os militares conseguiram arrebentar com todo aquele impulso de criação da cidade, de republicanismo. Isso foi muito importante porque com a retomada da democracia em meados da década de 80, nós tínhamos uma democracia interrompida. E nós tivemos a seguir uma sucessão de governadores, francamente, desastrosa. Brasília não teve sorte, até hoje, com sua democracia porque os governadores não tem mostrado, digamos assim, identidade e consciência da grandeza do projeto da cidade, ao contrário, Brasília se tornou cada vez mais objeto fácil de projetos pessoais, de projetos menores, de especulação e, até mesmo, de corrupção do uso do seu território.

Construção de prédios residenciais e comerciais no Setor Noroeste em Brasília

Construção de prédios residenciais e comerciais no Setor Noroeste. em Brasília – Marcello Casal JrAgência Brasil

Rádio Nacional: Para encerrar, o senhor pode comentar sobre o que avançou em termos de ocupação da cidade, a exemplo de políticas como planos de preservação do conjunto urbanístico de Brasília, que espera há dez anos por finalização.

Frederico Flósculo: Nós chegamos no ano de 1993, quando Brasília já tinha autonomia política desde 88, nominalmente, pela Constituição Federal e desde 90, pela eleição do primeiro governador. E é aí que, em 93, nós temos a Lei Orgânica do Distrito Federal, definindo a necessidade de um PPCUB, e um plano de preservação do conjunto urbanístico de Brasília. Desde 93 até hoje, 2023, nós temos aí um lapso de 30 anos. 30 anos de lapso, em que Brasília não conseguiu fazer o seu PPCUB. Quer dizer, era um dos primeiros planos a terem sido feitos em 93, nunca foi feito. Por quê? A razão é: governadores em sucessão, até os dias de hoje, não queriam fazer com que a preservação travasse seus negócios. Quer dizer, é quando o planejamento faz mal a política. E isso, infelizmente, acontece no nosso país. Não termos um PPCUB é algo escandaloso e é indício de péssima gestão pública. Nós temos aí, às vésperas de ter um PPCUB péssimo, na minha avaliação, o PPCUB, o primeiro PPCUB já vai ser cheio de maus movimentos do governo. Com coisas inacreditáveis, loteamento do eixo monumental, de lotes gigantescos destinados a restaurantes, a shoppings, a um monte de coisas que seriam muito bem-vindas nas cidades, nos bairros, nas administrações e não no eixo monumental.

Brasília 60 Anos - Tesourinhas

Tesourinhas – Marcello Casal JrAgência Brasil

Ouça na Radioagência Nacional:




Fonte: Agência Brasil

Brasília 63 anos: o patrimônio cultural da era modernista


Em homenagem ao aniversário de 63 anos de Brasília, comemorado neste 21 de abril, a Rádio Nacional traz um pouco da história da construção da capital federal, revelada em conversa com Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília.

Rádio Nacional: A construção muito peculiar da capital federal no Planalto Central conferiu a cidade características que vão desde aspectos monumentais à arquitetura inovadora, o que conferiu a cidade em 1987, o reconhecimento da UNESCO como Patrimônio da Humanidade. O que torna o conjunto urbanístico arquitetônico de Brasília tão especial?

Frederico Flósculo: Brasília é um episódio extraordinário da história brasileira, porque sobretudo foi a realização do sonho republicano de transferência da capital da República para o interior do Brasil. Isso era um sonho até anterior à República. Foi um sonho expressado por José Bonifácio, por líderes brasileiros que viam a necessidade de bem defender a capital brasileira, mas bem administrar um país gigantesco. Então, finalmente, Juscelino Kubitschek conseguiu fazer isso e a história desse sucesso é uma história muito particular, porque se deveu muito, tanto aos trabalhos do próprio [Getúlio] Vargas, porque Vargas quase cria Brasília, ele criou comissões de estudos e montou todo o grupo praticamente que depois foi usado pelo próprio Juscelino, mas também por Juscelino Kubitschek que foi assim o grande herói de Brasília porque ele enfrentou uma oposição política, extraordinariamente, agressiva contra a realização da cidade.

Mas Juscelino teve a seu favor a contribuição de um extraordinário arquiteto. Oscar Niemeyer. que ele já conhecia desde os tempos de prefeitura de Belo Horizonte, desde a década de 30. Oscar Niemeyer e Juscelino tinham uma amizade, uma sólida confiança mútua e Juscelino confiou ao Oscar o projeto de Brasília. Só que Oscar Niemeyer, cuidadosamente, sabiamente, recusou. Oscar Niemeyer era ligado a OAB, propôs a realização de um concurso público nacional e nesse concurso nacional, em 1957, foi vencedor outro extraordinário urbanista carioca, Lúcio Costa. Embora nascido na França, Lúcio Costa era mestre de Oscar Niemeyer, um grande reformador do ensino brasileiro, criador do Iphan. Na verdade, o Serviço Nacional depois se tornou o Instituto Nacional do Patrimônio Público, Histórico e Artístico Nacional. E aí, é a proposta de Lúcio Costa, extraordinária, que vai começar realmente a concretizar Brasília. Então Lúcio Costa propõe uma cidade muito simples o traçado, dois eixos que se cruzam, um eixo descendo assim na direção do lago que já estava definido e outro eixo, fazendo o abraço do grande morro do Cruzeiro. E é ao longo desse eixo que faz o abraço que estão distribuídas as superquadras residenciais. E no eixo que desce o morro na direção do lago ele se tornou o eixo monumental onde são colocadas as principais zonas, setores tanto da capital da República, quanto de apoio e atração as funções fundamentais da cidade.

Brasília 60 Anos

Horizonte de Brasília – Marcello Casal JrAgência Brasil

Rádio Nacional: O senhor mencionou a história do concurso do plano piloto e eu gostaria de saber quais os principais destaques do projeto de Lúcio Costa e como ele foi colocado em prática.

Frederico Flósculo: E aí é uma história, extraordinária, do próprio concurso. Lúcio Costa quando propôs, ele propôs realmente de todos os planos que tinham sido apresentados, o mais elegante, ele propôs uma cidade parque que foi escolhida pelo júri que tinha membros internacionais ,eles escolheram por causa da simplicidade e viabilidade e extrema beleza do plano. O Juscelino queria que o Oscar fizesse os prédios, os edifícios, o projeto de arquitetura. E teve um urbanista vencedor do concurso que eles dois teriam que trabalhar juntos. E o Juscelino conhecia muito bem arquiteto e urbanista. Sabe como é essa turma que não se concilia, que não é muita amiga, você vai ter um inferno na terra. Aí ganhou esse presente aí. Realmente a escolha foi isenta e um grande mestre e companheiro de Oscar foi o vencedor. Os dois, então, fizeram a cidade que é tanto do Lúcio quanto do Oscar.

produção de fotos para matéria de aniversário de Brasília

Congresso Nacional visto da Rodoviária do Plano Piloto- Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Há vários episódios em Brasília, no Congresso Nacional em que se você ficaria espantada em ver como por exemplo aquele jogo belíssimo de formas das duas cúpulas, uma virada pra cima, os dois edifícios gêmeos, tudo aquilo foi concebido simultaneamente por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. A gente atribui só ao Oscar, mas quem começou a desenhar, fez a primeira proposta do Congresso Nacional, foi Lúcio Costa. E Oscar duplicou e aí começa uma sucessão de realizações extraordinárias em pouco mais de dois anos de trabalho, de projeto de execução, graças também a um grande engenheiro chamado Israel Pinheiro. Então é algo que emociona a brasilidade, se você pensar que, em cerca de mil dias, essa equipe heroica conseguiu entregar para o Brasil no dia 21 de abril de 1960, a capital com o presidente instalado, com os poderes instalados em condição de começar a fazer com que o governo brasileiro se manifestasse e fizesse a gestão do Brasil desde o Planalto Central. Um momento de imensa emoção. E a partir daí, o Brasil começou a conhecer Brasília. Porque ninguém sabia que coisa era aquela, que eles conheciam por algumas fotografias da obra, por alguns desenhos da obra. A brasilidade ao longo daqueles anos 60, 70, veio, desceu, veio de todo o planeta Brasil para trabalhar em Brasília, nas suas embaixadas, nos seus ministérios. Virou um centro de brasilidade, assim, que nos orgulha. Não há cidade, capital, no mundo, que tenha a beleza, a integridade, a elevação de Brasília. É por isso que no final dos anos 80, acabamos sendo distiguidos pela UNESCO com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. O único Patrimônio Cultural da Humanidade que é modernista, que é do século 20.

Brasília 60 anos - Palácio do Planalto

Palácio do Planalto – Marcello Casal JrAgência Brasil

Rádio Nacional: Professor Flósculo, pelos aspectos urbanísticos, como a cidade se transformou ao longo desses 63 anos de existência?

Frederico Flósculo: Estamos num processo agora de preservação desse núcleo porque contra, digamos, a integridade daquela Brasília de JK, de Oscar Niemeyer, de Lúcio Costa, de Israel Pinheiro, há muitos inimigos, eu coloco meio que entre aspas, representados pelos especuladores imobiliários. Pelos oportunistas, pelos grileiros, por várias ondas de pessoas que pensam poder impor à Brasília o mesmo tipo de derrota urbana que foi imposta, em especial, ao Rio de Janeiro. Então nós temos esse estigma também. De não permitirmos que aquilo que aconteceu no Rio, que ainda continua a aterrorizar a antiga capital, isso aconteça em Brasília, mas infelizmente já está acontecendo. Nós temos desde aquele momento de inauguração em 21 de abril de 60, até hoje, esses 63 anos que se passaram, várias descontinuidades que foram quase fatais pra Brasília. Continuidades  cruéis como da ditadura militar. E quase mata Brasília. Quase que os militares conseguiram arrebentar com todo aquele impulso de criação da cidade, de republicanismo. Isso foi muito importante porque com a retomada da democracia em meados da década de 80, nós tínhamos uma democracia interrompida. E nós tivemos a seguir uma sucessão de governadores, francamente, desastrosa. Brasília não teve sorte, até hoje, com sua democracia porque os governadores não tem mostrado, digamos assim, identidade e consciência da grandeza do projeto da cidade, ao contrário, Brasília se tornou cada vez mais objeto fácil de projetos pessoais, de projetos menores, de especulação e, até mesmo, de corrupção do uso do seu território.

Construção de prédios residenciais e comerciais no Setor Noroeste em Brasília

Construção de prédios residenciais e comerciais no Setor Noroeste. em Brasília – Marcello Casal JrAgência Brasil

Rádio Nacional: Para encerrar, o senhor pode comentar sobre o que avançou em termos de ocupação da cidade, a exemplo de políticas como planos de preservação do conjunto urbanístico de Brasília, que espera há dez anos por finalização.

Frederico Flósculo: Nós chegamos no ano de 1993, quando Brasília já tinha autonomia política desde 88, nominalmente, pela Constituição Federal e desde 90, pela eleição do primeiro governador. E é aí que, em 93, nós temos a Lei Orgânica do Distrito Federal, definindo a necessidade de um PPCUB, e um plano de preservação do conjunto urbanístico de Brasília. Desde 93 até hoje, 2023, nós temos aí um lapso de 30 anos. 30 anos de lapso, em que Brasília não conseguiu fazer o seu PPCUB. Quer dizer, era um dos primeiros planos a terem sido feitos em 93, nunca foi feito. Por quê? A razão é: governadores em sucessão, até os dias de hoje, não queriam fazer com que a preservação travasse seus negócios. Quer dizer, é quando o planejamento faz mal a política. E isso, infelizmente, acontece no nosso país. Não termos um PPCUB é algo escandaloso e é indício de péssima gestão pública. Nós temos aí, às vésperas de ter um PPCUB péssimo, na minha avaliação, o PPCUB, o primeiro PPCUB já vai ser cheio de maus movimentos do governo. Com coisas inacreditáveis, loteamento do eixo monumental, de lotes gigantescos destinados a restaurantes, a shoppings, a um monte de coisas que seriam muito bem-vindas nas cidades, nos bairros, nas administrações e não no eixo monumental.

Brasília 60 Anos - Tesourinhas

Tesourinhas – Marcello Casal JrAgência Brasil

Ouça na Radioagência Nacional:




Fonte: Agência Brasil