Guerra às drogas é elemento central em onda de violência na Bahia


A política de guerra às drogas está no centro da onda de violência na Bahia, segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Eles afirmam que o modelo precisa ser revisto e indicam a necessidade de se investir mais em ações de inteligência para a prevenção do crime e também na articulação de políticas públicas voltadas para dar melhores condições de vida e mais acesso à cultura e educação como estratégia para evitar que as pessoas sejam cooptadas pelo crime organizado.

Em setembro, cerca de 60 pessoas morreram em confrontos com forças de segurança, a maior parte delas realizados em bairros periféricos de Salvador. Entre as vítimas também está um policial federal.

O diretor-executivo da ONG Iniciativa Negra e coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, Dudu Ribeiro, disse à Agência Brasil que últimos anos houve uma reorganização territorial e geopolítica das organizações criminosas que já atuavam no estado, mas de forma pulverizada. O movimento levou a uma disputa por território que foi intensificada com a migração das principais organizações criminosas do Sudeste, que fizeram alianças com as facções locais, gerando novos conflitos.

“Um conjunto de fatores explicam o momento de hoje na Bahia. Um deles tem a ver com a reorganização territorial e geopolítica das organizações criminosas ligadas ao tráfico de armas e de drogas e como resultado da insistência do estado brasileiro na ideia da guerra as drogas. Isso impacta e de certa forma fortalece as organizações criminosas a partir do momento em que sua força também está diretamente relacionada a sua capacidade de arregimentar mais indivíduos e o superencarceramento tem propiciado isso para as organizações.”

Ribeiro, que é professor e especialista em Gestão Estratégica de Políticas Públicas pela Unicamp e atualmente faz parte do Conselho de Segurança Pública do estado, considera que para lidar com esse tipo de situação, o estado acabou adotando um modelo de segurança “militarizado”, com o incremento dos batalhões especializados de polícia militar. Como são voltados para o confronto, acabam sendo letais. Para o conselheiro, é preciso acabar com a lógica de que segurança se faz com mais violência. 

“Há uma insistência nessa lógica de que a segurança pública se faz com violência, inclusive incorporando a ideia de que é possível conjugar letalidade e eficiência em uma mesma proposta”, disse Ribeiro. Ele ainda aponta como problemática a ideia de que o debate sobre segurança pública fique restrito aos órgãos e forças de segurança. 

“É ruim a centralidade do tema da segurança pública permanecer quase com exclusividade das polícias, sem a gente pensar qual o papel das outras secretarias na promoção de segurança para a população, sem a gente pensar o que a secretaria de educação tem a ver, a de cultura, a de direitos humanos. Isso fortalece o papel do militarismo, o que obviamente reduz o poder civil, compromete a democracia e responde à violência com mais violência, o que nos coloca nesse ciclo interminável. Como resultado nós temos o fortalecimento das organizações ligadas ao trafico de drogas e armas”, afirmou. 

“Não é uma crise de gestão, é uma crise do modelo que se centraliza no aparelho de guerra, porque a Polícia Militar, constitucionalmente é um aparelho de guerra, é força auxiliar do Exército. A gente precisa pensar a segurança pública a médio e longo prazo, fazer com que o militarismo saia do centro e a prevenção, a partir da ampliação do acesso a direitos, seja um dos mecanismos centrais na espinha dorsal da política de produzir segurança para as pessoas”, defendeu.

Para Ribeiro, a guerra às drogas no Brasil acaba sendo uma justificativa política para a manutenção da opressão racial sobre a população negra. Ele argumenta que a ausência de políticas públicas, a exemplo de educação, saúde, cultura, saneamento, entre outras, favorece a penetração dessas facções no bairros periféricos, tratados como violentos e facilita a arregimentarão de pessoas para os grupos criminosos. 

Outro ponto levantado é o fato do cenário acabar se refletindo na estigmatização das pessoas que moram nessas localidades. Segundo Ribeiro, as pessoas que moram nesses locais não são violentas, mas foram violentadas pela ausência do Estado.

“Violentados pela ausência de outras políticas públicas que, obviamente, a partir da não apresentação de outras possibilidades de vida, impactam significativamente na capacidade das organizações de arregimentar pessoas, a partir de um processo de altíssimo encarceramento, prisão de pessoas varejistas de drogas e muitas vezes nem isso são, são flagrantes forjados, e isso vira um ciclo em que compromete as oportunidades para as pessoas.”

Disputa

Para o professor do curso de Ciências Sociais da PUC Minas e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Segurança Pública (Cepesp/PUC Minas) Luís Flávio Sapori, a disputa entre as facções, aliada à política de segurança voltada para o confronto levam a uma busca por armamentos mais pesados. Isso pode ser evidenciado pela quantidade de fuzis apreendidos este no na Bahia. Entre janeiro e setembro, as forças de segurança apreenderam 48 armas deste tipo.

“As evidências apontam claramente para um poderio bélico armamentista muito preocupante. Armas de fogo de grosso calibre como fuzis, de alguma maneira já estão penetrando, tendo maior disseminação entre os grupos traficantes de várias cidades baianas, inclusive Salvador e sua região metropolitana. Isso agrava a violência e o poderio, aumenta a probabilidade de maior desfecho letal dos conflitos, disse Sapore à Agência Brasil.

“Esses grupos criminosos estão em um momento de afirmação do poder e crescimento do domínio territorial. Esse é o principal fator que explica porque entre as 10 cidades com mais mortes violentas do Brasil hoje, em termos de homicídio, quase a metade dessas cidades estão no estado da Bahia. Então, não é casual que isto esteja acontecendo.”

Doutor em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e autor de trabalhos sobre segurança pública, Sapori já foi secretário-adjunto de Segurança Pública de Minas Gerais, de janeiro de 2003 a junho de 2007, e também é crítico do modelo de segurança de guerra às drogas. Segundo ele, o modelo acaba matando mais, mas que não consegue, de fato, garantir a segurança da população. 

O professor lembra, que isso se reflete no fato de a polícia baiana ter se tornado a mais letal do país. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2022, foram 1.464 mortes decorrentes de intervenções policiais na Bahia. 

“Infelizmente a Bahia, em 2022, se consolidou como o estado brasileiro com maior numero de vítimas letais em ações policiais. Isso não é bom, é sinal de que a atuação da policia no estado está se pautando muito no enfrentamento, na guerra contra o crime, que é o modelo do estado do Rio de Janeiro, que é nitidamente pautado pelo fracasso”, ressaltou.

“A guerra contra o crime tem sido adotada no Rio há quase 40 anos vitimando criminosos, moradores e policiais, ou seja, só tem perdas, não há ganho nenhum. É de uma nítida inexistência de efetividade nesse modelo de guerra contra o crime e, infelizmente, tudo leva a crer que há alguns anos a polícia do estado da Bahia tem adotado esse modelo, e isso não é bom.”

A alta letalidade da polícia baiana fez com que a Anistia Internacional Brasil divulgasse uma nota, na última quarta-feira, criticando o governo da Bahia pelas mortos em confrontos com a polícia. Segundo a organização, entre 28 de julho e 27 de setembro, pelo menos 83 pessoas morreram durante operações policiais no estado. 

“A elite política do Estado, leia-se deputados, governador, Judiciário, Ministério Público, sociedade civil de maneira geral não podem compactuar com isso, porque polícia mais letal não é polícia mais eficiente. Matar bandido, criminoso não reduz violência, e isso já está provado cientificamente. Ao contrário, quanto mais letal é a polícia no enfrentamento do tráfico de drogas, mais ela retroalimenta a violência na sociedade, a violência do próprio tráfico de drogas. A violência de um lado vai ter a reação da violência do outro lado, isso vira um circulo vicioso perverso, e quem perde com isso é a população de um modo geral e, principalmente, a população residente nas periferias das cidades”, alertou Sapori.

A letalidade da polícia baiana foi debatida no Conselho Estadual de Proteção aos Direitos Humanos, que decidiu realizar, em conjunto com o Ministério Público da Bahia e a Defensoria Pública estadual, uma audiência pública, no próximo dia 2 de outubro, para debater as políticas públicas de enfrentamento aos índices de letalidade policial verificados na Bahia. O debate vai servir para subsidiar a elaboração de um plano estadual de redução de mortes decorrentes de intervenção policial. 

Para Ribeiro, essa letalidade pode ser explicada, em parte pela falta de responsabilização dos agentes envolvidos e também pelo posicionamento do comando da Polícia Militar e do governador do estado, Jerônimo Rodrigues ao tratarem como eficiente operações com um grande número de vítimas.

“Quando o comandante da polícia diz, depois de uma operação com 15 mortes provocadas pela própria instituição, com pouca quantidade de drogas e algumas armas apreendidas, que a operação foi eficaz e eficiente, é uma mensagem para tropa. A baixa responsabilização, inclusive, de agentes envolvidos em casos de letalidade é outra mensagem para tropa. O não controle externo, que deveria ser realizado pelo Ministério Público, é outra mensagem para a tropa de que a responsabilização não vai se dar. Então, a produção de mais mortes está, na maioria das vezes, amparada pelos comandos civil e militar da polícia.”

Soluções

Para os especialistas, o caminho efetivo para resolver a questão da segurança pública passa por mudar o foco do modelo “olho por olho, dente por dente”, da lógica da guerra contra o crime e concentrar as ações no trabalho de inteligência e prevenção. 

Para Sapori, o caminho passa pela criação de uma força-tarefa com as polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária, o sistema prisional e o Ministério Público. O foco seria a identificação da estrutura e das principais lideranças das facções que estão em confronto, de onde está vindo o armamento utilizado e dos territórios mais conflagrados pela violência.

“Fazer o que se chama de uma operação de repressão qualificada, com a prisão bem focalizada nessas principais lideranças, com a interrupção do fluxo dessas armas de fogo que estão chegando, buscando definir a logística que está permeando e municiando essas facções com armas de grosso calibre”, disse. “É prioridade absoluta interromper esse fluxo, e você só faz isso com trabalho de inteligência. Mais do que nunca, é preciso um esforço coletivo, de integração das forças policiais estaduais, federais, Ministério Público, sistema prisional. É preciso mais do que nunca trabalhar com a inteligência para lidar com essa crise tão grave”, completou o professor.

Em agosto, foi assinado um acordo pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) e a Polícia Federal, criando a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado, dos governos estadual e federal. O prazo de vigência do acordo é de dois anos, podendo ser prorrogado por igual período. Cerca de 400 homens integram essa força-tarefa no estado.

Uma das operações da força-tarefa, realizada em 15 de setembro, o bairro de Valéria em Salvador, deixou cinco pessoas mortas, entre elas, o policial federal Lucas Caribé. No total, foram mortas nove pessoas suspeitas de integrarem a organização criminosa que entrou em confronto com policiais .

Câmeras nas fardas

À Agência Brasil, Ribeiro disse que a questão da violência na Bahia não vai ser resolvida do dia para noite e que é preciso adotar medidas de curto, médio e longo prazo. Uma delas, de curto prazo, segundo ele já está sendo adotada: a adoção de câmeras nas fardas dos policiais.

“Isso resolve um dos problemas, que é a violência das policias, e também a produção de boas provas a partir da possibilidade de ter um registro mais seguro em um eventual processo criminal. Isso não resolve o problema que a gente está enfrentando, mas é parte pequena da solução”, ressaltou.

Ele defende um maior investimento na produção e transparência de dados no campo da segurança pública. “A Bahia também é conhecida por uma produção precária de dados no campo da segurança pública e pouca transparência e isso compromete a política pública, porque se você não tem uma boa visão do cenário que você quer incidir você acaba fazendo más opções de gestão.”

Ribeiro disse que o poder público tem que dialogar mais com a sociedade civil na busca de soluções e criticou o fato de o conselho estadual ter apenas duas vagas para a sociedade civil, uma delas ainda está vaga. Para ele, a baixa representatividade reforça a lógica de que o debate sobre a segurança pública deve ficar restrito as forças de segurança, já que além de representantes da Secretaria de Segurança Pública, o colegiado tem representantes das polícias civil, militar, técnica, e duas vagas para representações de entidades de profissionais de segurança pública.

“A gente tem pressionado no sentido de aumentar a presença da sociedade civil e tornar o conselho, de fato, o que ele poderia ser, que é um local de diálogo intersetores, não apenas um lugar cheio de representações das categorias das polícias.”

Um exemplo de como a ausência de dados e do debate com a sociedade, segundo Ribeiro, está na decisão do governo estadual de implementar um sistema de câmeras de reconhecimento facial em 78, das 417, cidades do estado. O montante previsto para o programa é de mais de R$ 660 milhões e vai ser desembolsado até julho de 2026. De acordo com Ribeiro, isso é um exemplo de má gestão, uma vez que segundo ele, até o momento, o sistema resultou na prisão de 1.028 pessoas, a maior parte delas por crimes de menor gravidade.

“Muitas dessas pessoas, inclusive, têm mandados de prisão abertos, mas por crimes que não são crimes contra a vida, que são os mais graves. Então, isso não tem impacto na redução dos números, então é um volume de recurso gigantesco que está sendo gasto, mas que tem muito pouca capacidade de incidir de fato e impactar na redução da violência”, destacou.

Desafio nacional

Ontem (29), por meio de uma rede social, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, disse que continuará “firme no combate às facções e ao tráfico de drogas”. A afirmação foi feita ao comentar uma matéria relatando que a Justiça suspendeu a prisão de um homem apontado como responsável pela compra de fuzis para uma facção. Ele foi preso na Região Metropolitana de Salvador, em uma ação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), no dia 12 de setembro e liberado no dia 22. 

“A Segurança Pública é um assunto que deve ser debatido por toda a sociedade. São necessários avanços na legislação? Então, que as mudanças sejam discutidas. Mas temos que ser firmes no combate às facções e ao tráfico de drogas. E seguirei com a firmeza necessária”, afirmou o governador.

A situação da Bahia levou o ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Flávio Dino, a afirmar que o estado “é um dos maiores desafios da segurança pública no Brasil”. O ministro descartou, entretanto, a possibilidade de uma intervenção federal na segurança pública baiana.

Para Dudu Ribeiro, integrante do Conselho de Segurança Pública da Bahia, a intervenção federal não é necessária. “Já experimentamos isso no Rio de Janeiro e não serve para segurança pública. A gente sequestra o orçamento público, fortalece os militares, tem mais letalidade e não soluciona problemas. Depois que acabou a intervenção militar, o Rio de Janeiro não está melhor do que estava antes, pelo contrário”, avalia.

Ribeiro lembrou que os veículos de comunicação também tem responsabilidade pela lógica da militarização, focado na centralidade da polícia militar. Para ele, isso acaba influencia a forma como a sociedade percebe a questão da segurança. Ele defende a mudança nessa visão é o grande desafio nacional. 

Matéria atualizada às 18h28 para inclusão de posicionamento do governo da Bahia. 




Fonte: Agência Brasil

Política de guerra é elemento central em onda de violência na Bahia


A política de guerra às drogas está no centro da onda de violência na Bahia, segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Eles afirmam que o modelo precisa ser revisto e indicam a necessidade de se investir mais em ações de inteligência para a prevenção do crime e também na articulação de políticas públicas voltadas para dar melhores condições de vida e mais acesso à cultura e educação como estratégia para evitar que as pessoas sejam cooptadas pelo crime organizado.

Em setembro, cerca de 60 pessoas morreram em confrontos com forças de segurança, a maior parte delas realizados em bairros periféricos de Salvador. Entre as vítimas também está um policial federal.

O diretor-executivo da ONG Iniciativa Negra e coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, Dudu Ribeiro, disse à Agência Brasil que últimos anos houve uma reorganização territorial e geopolítica das organizações criminosas que já atuavam no estado, mas de forma pulverizada. O movimento levou a uma disputa por território que foi intensificada com a migração das principais organizações criminosas do Sudeste, que fizeram alianças com as facções locais, gerando novos conflitos.

“Um conjunto de fatores explicam o momento de hoje na Bahia. Um deles tem a ver com a reorganização territorial e geopolítica das organizações criminosas ligadas ao tráfico de armas e de drogas e como resultado da insistência do estado brasileiro na ideia da guerra as drogas. Isso impacta e de certa forma fortalece as organizações criminosas a partir do momento em que sua força também está diretamente relacionada a sua capacidade de arregimentar mais indivíduos e o superencarceramento tem propiciado isso para as organizações”, disse. 

Ribeiro, que é professor e especialista em Gestão Estratégica de Políticas Públicas pela Unicamp e atualmente faz parte do Conselho de Segurança Pública do estado, disse que para lidar com esse tipo de situação, o estado acabou adotando um modelo de segurança “militarizado”, com o incremento dos batalhões especializados de polícia militar. Como são voltados para o confronto, acabam sendo letais. Para o conselheiro, é preciso acabar com a lógica de que segurança se faz com mais violência. 

“Há uma insistência nessa lógica de que a segurança pública se faz com violência, inclusive incorporando a ideia de que é possível conjugar letalidade e eficiência em uma mesma proposta”, disse Ribeiro. Ele ainda aponta como problemática a ideia de que o debate sobre segurança pública fique restrito aos órgãos e forças de segurança. 

“É ruim a centralidade do tema da segurança pública permanecer quase com exclusividade das polícias, sem a gente pensar qual o papel das outras secretarias na promoção de segurança para a população, sem a gente pensar o que a secretaria de educação tem a ver, a de cultura, a de direitos humanos. Isso fortalece o papel do militarismo, o que obviamente reduz o poder civil, compromete a democracia e responde à violência com mais violência, o que nos coloca nesse ciclo interminável. Como resultado nós temos o fortalecimento das organizações ligadas ao trafico de drogas e armas”, afirmou. 

“Não é uma crise de gestão, é uma crise do modelo que se centraliza no aparelho de guerra, porque a Polícia Militar, constitucionalmente é um aparelho de guerra, é força auxiliar do Exército. A gente precisa pensar a segurança pública a médio e longo prazo, fazer com que o militarismo saia do centro e a prevenção, a partir da ampliação do acesso a direitos, seja um dos mecanismos centrais na espinha dorsal da política de produzir segurança para as pessoas”, defendeu.

Para Ribeiro, a guerra às drogas no Brasil acaba sendo uma justificativa política para a manutenção da opressão racial sobre a população negra. Ele argumenta que a ausência de políticas públicas, a exemplo de educação, saúde, cultura, saneamento, entre outras, favorece a penetração dessas facções no bairros periféricos, tratados como violentos e facilita a arregimentarão de pessoas para os grupos criminosos. 

Outro ponto levantado é o fato do cenário acaber se refletindo na estigmatização das pessoas que moram nessas localidades. Segundo Ribeiro, as pessoas que moram nesses locais não são violentas, mas foram violentadas pela ausência do Estado.

“Violentados pela ausência de outras políticas públicas que, obviamente, a partir da não apresentação de outras possibilidades de vida, impactam significativamente na capacidade das organizações de arregimentar pessoas, a partir de um processo de altíssimo encarceramento, prisão de pessoas varejistas de drogas e muitas vezes nem isso são, são flagrantes forjados, e isso vira um ciclo em que compromete as oportunidades para as pessoas”, afirmou.

Disputa

Para o professor do curso de Ciências Sociais da PUC Minas e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Segurança Pública (Cepesp/PUC Minas) Luís Flávio Sapori, a disputa entre as facções, aliada à política de segurança voltada para o confronto levam a uma busca por armamentos mais pesados. Isso pode ser evidenciado pela quantidade de fuzis apreendidos este no na Bahia. Entre janeiro e setembro, as forças de segurança apreenderam 48 armas deste tipo.

“As evidências apontam claramente para um poderio bélico armamentista muito preocupante. Armas de fogo de grosso calibre como fuzis, de alguma maneira já estão penetrando, tendo maior disseminação entre os grupos traficantes de várias cidades baianas, inclusive Salvador e sua região metropolitana. Isso agrava a violência e o poderio aumenta a probabilidade de maior desfecho letal dos conflitos, disse Sapore à Agência Brasil.

“Esses grupos criminosos estão em um momento de afirmação do poder e crescimento do domínio territorial. Esse é o principal fator que explica porque entre as 10 cidades com mais mortes violentas do Brasil hoje, em termos de homicídio, quase a metade dessas cidades estão no estado da Bahia. Então, não é casual que isto esteja acontecendo”, disse.

Doutor em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e autor de trabalhos sobre segurança pública, Sapori já foi secretário-adjunto de Segurança Pública de Minas Gerais, de janeiro de 2003 a junho de 2007, e também é crítico do modelo de segurança de guerra às drogas. Segundo ele, o modelo acaba matando mais, mas que não consegue, de fato, garantir a segurança da população. 

O professor lembra, que isso se reflete no fato de a polícia baiana ter se tornado a mais letal do país. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2022, foram 1.464 mortes decorrentes de intervenções policiais na Bahia. 

“Infelizmente a Bahia, em 2022, se consolidou como o estado brasileiro com maior numero de vítimas letais em ações policiais. Isso não é bom, é sinal de que a atuação da policia no estado está se pautando muito no enfrentamento, na guerra contra o crime, que é o modelo do estado do Rio de Janeiro, que é nitidamente pautado pelo fracasso”, afirmou.

“A guerra contra o crime tem sido adotada no Rio há quase 40 anos vitimando criminosos, moradores e policiais, ou seja, só tem perdas, não há ganho nenhum. É de uma nítida inexistência de efetividade nesse modelo de guerra contra o crime e, infelizmente, tudo leva a crer que há alguns anos a polícia do estado da Bahia tem adotado esse modelo, e isso não é bom”, apontou.

A alta letalidade da polícia baiana fez com que a Anistia Internacional Brasil divulgasse uma nota, na última quarta-feira, criticando o governo da Bahia pelas mortos em confrontos com a polícia. Segundo a organização, entre 28 de julho e 27 de setembro, pelo menos 83 pessoas morreram durante operações policiais no estado. 

“A elite política do Estado, leia-se deputados, governador, Judiciário, Ministério Público, sociedade civil de maneira geral não podem compactuar com isso, porque polícia mais letal não é polícia mais eficiente. Matar bandido, criminoso não reduz violência, e isso já está provado cientificamente. Ao contrário, quanto mais letal é a polícia no enfrentamento do tráfico de drogas, mais ela retroalimenta a violência na sociedade, a violência do próprio tráfico de drogas. A violência de um lado vai ter a reação da violência do outro lado, isso vira um circulo vicioso perverso, e quem perde com isso é a população de um modo geral e, principalmente, a população residente nas periferias das cidades”, alertou Sapori.

A letalidade da polícia baiana foi debatida no Conselho Estadual de Proteção aos Direitos Humanos, que decidiu realizar, em conjunto com o Ministério Público da Bahia e a Defensoria Pública estadual, uma audiência pública, no próximo dia 2 de outubro, para debater as políticas públicas de enfrentamento aos índices de letalidade policial verificados na Bahia. O debate vai servir para subsidiar um a elaboração de um plano estadual de redução de mortes decorrentes de intervenção policial. 

Para Ribeiro, essa letalidade pode ser explicada, em parte pela falta de responsabilização dos agentes envolvidos e também pela anuência do comando da Polícia Militar e do governador do estado, Jerônimo Rodrigues ao tratarem como eficiente operações com um grande número de vítimas.

“Quando o comandante da polícia diz, depois de uma operação com 15 mortes provocadas pela própria instituição, com pouca quantidade de drogas e algumas armas apreendidas, que a operação foi eficaz e eficiente, é uma mensagem para tropa. A baixa responsabilização, inclusive, de agentes envolvidos em casos de letalidade é outra mensagem para tropa. O não controle externo, que deveria ser realizado pelo Ministério Público, é outra mensagem para a tropa de que a responsabilização não vai se dar. Então, a produção de mais mortes está, na maioria das vezes, amparada pelos comandos civil e militar da polícia”, disse.

Soluções

Para os especialistas, o caminho efetivo para resolver a questão da segurança pública passa por mudar o foco do modelo “olho por olho, dente por dente”, da lógica da guerra contra o crime e concentrar as ações no trabalho de inteligência e prevenção. 

Para Sapori, o caminho passa pela criação de uma força tarefa,com as polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária, o sistema prisional e o Ministério Público. O foco seria a identificação da estrutura e das principais lideranças das facções que estão em confronto, de onde está vindo o armamento utilizado e dos territórios mais conflagrados pela violência.

“Fazer o que se chama de uma operação de repressão qualificada, com a prisão bem focalizada nessas principais lideranças, com a interrupção do fluxo dessas armas de fogo que estão chegando, buscando definir a logística que está permeando e municiando essas facções com armas de grosso calibre”, disse. “É prioridade absoluta interromper esse fluxo, e você só faz isso com trabalho de inteligência. Mais do que nunca, é preciso um esforço coletivo, de integração das forças policiais estaduais,federais, Ministério Público, sistema prisional. É preciso mais do que nunca trabalhar com a inteligência para lidar com essa crise tão grave”, completou o professor.

Em agosto, foi assinado um acordo pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) e a Polícia Federal, criando a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado, dos governos estadual e federal. O prazo de vigência do acordo é de dois anos, podendo ser prorrogado por igual período. Cerca de 400 homens integram essa força-tarefa no estado.

Uma das operações da força-tarefa, realizada em 15 de setembro, o bairro de Valéria em Salvador, deixou cinco pessoas mortas, entre elas, o policial federal Lucas Caribé. No total, foram mortas nove pessoas suspeitas de integrarem a organização criminosa que entrou em confronto com policiais .

Câmeras nas fardas

À Agência Brasil, Ribeiro disse que a questão da violência na Bahia não vai ser resolvida do dia para noite e que é preciso adotar medidas de curto, médio e longo prazo. Uma delas, de curto prazo, segundo ele já está sendo adotada: a adoção de câmeras nas fardas dos policiais.

“Isso resolve um dos problemas, que é a violência das policias, e também a produção de boas provas a partir da possibilidade de ter um registro mais seguro em um eventual processo criminal. Isso não resolve o problema que a gente está enfrentando, mas é parte pequena da solução”, ressaltou.

Ele defende um maior investimento na produção e transparência de dados no campo da segurança pública. “A Bahia também é conhecida por uma produção precária de dados no campo da segurança pública e pouca transparência e isso compromete a política pública, porque se você não tem uma boa visão do cenário que você quer incidir você acaba fazendo más opções de gestão.”

Ribeiro disse que o poder público tem que dialogar mais com a sociedade civil na busca de soluções e criticou o fato de o conselho estadual ter apenas duas vagas para a sociedade civil, uma delas ainda está vaga. Para ele, a baixa representatividade reforça a lógica de que o debate sobre a segurança pública deve ficar restrito as forças de segurança, já que além de representantes da Secretaria de Segurança Pública, o colegiado tem representantes das polícias civil, militar, técnica, e duas vagas para representações de entidades de profissionais de segurança pública.

“A gente tem pressionado no sentido de aumentar a presença da sociedade civil e tornar o conselho, de fato, o que ele poderia ser, que é um local de diálogo intersetores, não apenas um lugar cheio de representações das categorias das polícias.”

Um exemplo de como a ausência de dados e do debate com a sociedade, segundo Ribeiro está na decisão do governo estadual de implementar um sistema de câmeras de reconhecimento facial em 78, das 417, cidades do estado. O montante previsto para o programa é de mais de R$ 660 milhões e vai ser desembolsado até julho de 2026. De acordo com Ribeiro, isso é um exemplo de má gestão, uma vez que segundo ele, até o momento, o sistema resultou na prisão de 1.028 pessoas, a maior parte delas por crimes de menor gravidade.

“Muitas dessas pessoas, inclusive, têm mandados de prisão abertos, mas por crimes que não são crimes contra a vida, que são os mais graves. Então, isso não tem impacto na redução dos números, então é um volume de recurso gigantesco que está sendo gasto, mas que tem muito pouca capacidade de incidir de fato e impactar na redução da violência”, destacou.

Desafio nacional

A situação da Bahia levou o ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Flávio Dino, a afirmar que o estado “é um dos maiores desafios da segurança pública no Brasil”. O ministro descartou, entretanto, a possibilidade de uma intervenção federal na segurança pública baiana.

Para Ribeiro a intervenção federal não é necessária. “Já experimentamos isso no Rio de Janeiro e não serve para segurança pública. A gente sequestra o orçamento público, fortalece os militares, tem mais letalidade e não soluciona problemas. Depois que acabou a intervenção militar, o Rio de Janeiro não está melhor do que estava antes, pelo contrário”, disse.

Ribeiro lembrou que os veículos de comunicação também tem responsabilidade pela lógica da militarização, focado na centralidade da polícia militar. Para ele, isso acaba influencia a forma como a sociedade percebe a questão da segurança. Ele defende a mudança nessa visão é o grande desafio nacional. 

“Também não acredito que a Bahia, sozinha, vá conseguir apresentar uma solução, porque as organizações ligadas ao tráfico de drogas e armas atuam de forma transnacional, então é impossível um único estado conseguir solucionar o problema”, disse. 

Segundo o ministro, o estado pode ajudar na melhoria da produção e transparência de dados, “como encarar a necessidade de, por exemplo, de fortalecimento da Polícia Judiciária, do departamento de polícia técnica para que a gente possa ter melhores soluções dos crimes contra a vida e assim a gente possa reduzir também a letalidade produzida pelo estado e ampliar, a ideia de segurança pública de modo a diluir a centralidade do militarismo”, concluiu.




Fonte: Agência Brasil

Jovem morre em acidente entre carro, caminhão e bitrem na rodovia de Flórida Paulista | Presidente Prudente e Região


A vítima, que era moradora de Adamantina, morreu no local. Já o motorista do caminhão, de 40 anos, é morador de Irapuru e foi encaminhado para o Pronto-socorro de Adamantina com ferimentos leves. O condutor do veículo semi-reboque, por sua vez, não se machucou.




Fonte: G1

Racismo religioso contra terreiros de matriz africana cresce no RJ


Estudo realizado na zona oeste do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense mostra que 75% dos terreiros de religião de matriz africana abordados já foram alvo de algum tipo de violência. Os resultados também revelam que a segurança pública é tema de discussão recorrente pelos frequentadores desses espaços.

A pesquisa foi idealizada pela Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial), organização não governamental que atua promovendo debates e atividades com foco na Baixada Fluminense. O desenvolvimento do estudo contou com a parceria do Centro Cultural de Tradições Afro-brasileiras Yle Asé Egi Omim, criado em 2008, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Os resultados obtidos estão reunidos em relatório lançado neste sábado (30) com o título de Egbé, palavra do idioma iorubá que significa sociedade ou comunidade.

De acordo com o pesquisador que atuou na coordenação do trabalho, Patrick Melo, as duas regiões foram escolhidas por terem registrado, nos últimos anos, grande número de casos de ataques a terreiros de religião de matriz africana. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) tinha, até 2019, registros de 200 casas de axé que foram alvo de agressões, considerando também a zona norte da capital fluminense. Como nem todos os casos são notificados, o número certamente é maior.

As ocorrências envolvem ameaças, injúria racial, agressões físicas e até expulsões de seus próprios territórios determinadas por milícias ou organizações do tráfico. Em alguns episódios, o alvo se repete.

O estudo cita o caso emblemático da casa Xwe Nokun Ayono Avimaje, fundada há 10 anos em Nova Iguaçu, que já foi invadida e depredada três vezes. Há também registros de violações à liberdade religiosa, como por exemplo a imposição de horários restritos para que casas de axé possam promover seus rituais sagrados.

Diante dessa realidade, o objetivo do estudo foi entender como as comunidades enxergam a política de segurança pública. A metodologia envolveu a realização de grupos, durante um mês, com 10 a 12 participantes cada um. Os encontros, que contavam com um ou dois moderadores, ocorreram em quatro casas de axé localizadas no município de Nova Iguaçu e na zona oeste de capital fluminense. Os presentes puderam interagir e propor discussões, ao passo que os pesquisadores observavam as conversas, os comportamentos, as tensões.

Além da organização dos grupos focais, um formulário online foi preenchido por lideranças dos terreiros envolvidos. Através dos dados colhidos, foi traçado um perfil dos terreiros, que possuem em média 11 anos de fundação em seus territórios. Constatou-se também que as lideranças possuem idades entre 35 e 55 anos e são compostas por homens e mulheres em proporção igual.

Conforme os resultados divulgados, em todos os grupos focais, evidenciou-se um total descrédito com as instituições policiais para fins de proteção e segurança. O estudo indica que as denúncias de violações resultam em desapontamento. As autoridades policiais tendem a minimizar as agressões, classificando-as como briga de vizinhos e problemas de ordem pessoal, afastando assim o enquadramento como crime de ódio.

Segundo Patrick Melo, os dados obtidos no estudo indicam que as violações estão diretamente relacionadas com a omissão do Estado na defesa dos direitos humanos e dos direitos dos povos de religião de matriz africana. Observou-se que o tema da segurança pública aparece como uma preocupação de destaque no cotidiano dessas populações. Sem a devida proteção do poder público, elas buscam outros caminhos para enfrentar o cenário. “Essas comunidades atuam e se organizam de forma muito autônoma em rede, buscando o fortalecimento conjunto com outros terreiros”, diz Patrick.

Ele avalia que os registros policiais refletem uma incapacidade do Estado de reconhecer que os episódios envolvem manifestação de ódio contra essas comunidades religiosas de matriz africana. Ao mesmo tempo, considera que os territórios estão sendo dominados cada vez mais por grupos criminosos que perseguem quem não professa a fé cristã.

“Estamos falando sempre a partir de um viés moral cristão, a partir da qual há uma demonização das pessoas. A figura das comunidades de terreiro ou das manifestações religiosas de matrizes africanas é colocada inimiga daquele território. São endemoniados que vão tirar a paz daquele lugar. E aí, por isso, agridem aquelas pessoas”, acrescenta.

A crescente associação entre o crime e a fé cristã tem chamado atenção de diferentes especialistas em segurança pública. Em junho desse ano, a pesquisadora Viviane Costa deu  uma entrevista à Agência Brasil sobre o lançamento do seu livro Traficantes Evangélicos, em que analisa a forma do uso de símbolos e narrativas neopentecostais entre grupos criminosos. Em 2015, um outro livro intitulado Oração de Traficante: uma etnografia, assinado pela socióloga Christina Vital Cunha, já chamava atenção para o fenômeno.

Racismo religioso

Patrick sustenta ser necessário denunciar com mais ênfase a ocorrência do racismo religioso nos episódios de violação aos terreiros de religião de matriz africana. Uma das reflexões levantadas no relatório divulgado se relaciona com o conceito de intolerância religiosa. Embora seja mais difundido, ele apresentaria algumas limitações para explicar a dimensão do problema.

“Ele mascara e não dá conta do que acontece, especificamente, com as religiões de matrizes africanas. O conceito de intolerância religiosa traz também uma falsa simetria, e é equivalente à contradição de que o Brasil, em tese, deveria ser um Estado laico, mas na prática, as religiões relacionadas com a herança colonial seguem entranhadas nas instâncias institucionais. Quantos casos de ataques a terreiros denunciados nas delegacias de polícia foram investigados, apurados e julgados? Quantas dessas situações tiveram justiça feita?”, questionam os pesquisadores, que advogam pelo uso do conceito de racismo religioso.

* Colaborou Fabiana Sampaio, repórter da Rádio Nacional do Rio de Janeiro




Fonte: Agência Brasil

Poeta vencedora do Prêmio Jabuti transita do slam à literatura grega


Foi na praça ao lado da Estação Guilhermina do Metrô, na zona norte paulistana, que Luiza Romão começou a declamar versos em público. Ali, acontece desde 2012, toda última sexta-feira do mês, a batalha de rimas conhecida como Slam da Guilhermina. Agora, dez anos depois desse encontro com a poesia falada, a autora retornou ao espaço para fazer um dos eventos de lançamento de Também Guardamos Pedras Aqui, seu livro que venceu o último Prêmio Jabuti.

“Quase pedir a benção”, resume a poeta sobre os sentimentos sobre esse momento que ela enxerga como o fechamento de um ciclo. “Acho que é bastante significativo, fazer isso bem antes de ganhar o mundo, assim, sabe? Antes de ir pro mundão”, comenta a respeito da turnê que se aproxima nos próximos dias. Até janeiro de 2024, a previsão é que Luiza tenha passado pela França, Argentina, México e Alemanha para divulgar o livro premiado, que já tem prontas traduções para o francês e espanhol.

Formada em artes cênicas, Luiza se aproximou da poesia atraída pelo modelo performático do slam, que começou a frequentar em 2013. As batalhas de rimas foram criadas por Marc Smith, nos Estados Unidos, na década de 1980. As competições, que atualmente acontecem em diversas partes do mundo, começaram, segundo a autora, como uma forma de tornar a leitura de poesia mais atraente nos saraus. “Em geral, em noites de cabaré, quando músico ia se apresentar, todo mundo prestava atenção. Quando ia uma pessoa do stand up, todo mundo prestava atenção. Na hora que o poeta ia declamar, era o momento que geral ia no banheiro, comprar cerveja, acender cigarro”, conta.

A performance da poesia falada, que compõe a cena cultural das periferias paulistanas, acabou atraindo Luiza, que tinha vindo em 2010 para a cidade, para estudar na Universidade de São Paulo. “Não estava no meu horizonte de vida virar poeta. Foi através do encontro com as batalhas de slam, com os microfones abertos, com o movimento saraus, que eu comecei a escrever”, lembra.

Uma estética que se relaciona com as temáticas que atravessam a juventude, especialmente a que vive fora dos bairros mais privilegiados. “Uma poesia muito engajada. Uma poesia que pensa o seu tempo histórico, que é fundamentada na dimensão coletiva da palavra. Toda essa partilha da performance”, enumera sobre as razões que a aproximaram dos versos e das rimas.

Atualmente com 31 anos, Luiza tem quatro livros publicados. O Também Guardamos Pedras Aqui é diretamente inspirado no épico grego Ilíada, de autoria atribuída a Homero, que retrata a conquista de Troia.

Veja os principais trechos da entrevista com a autora:

Vamos começar falando um pouco do livro Também Guardamos Pedras Aqui. Queria entender um pouco por que essa opção pela poesia grega e também o que isso significa na sua trajetória.

Eu sou formada em teatro. Tem algo que, de certa forma, eu discuto no livro, talvez de uma maneira não tão direta, que é essa obsessão nossa pelos gregos, que não diz respeito só a mim, Luiza, mas a nossa sociedade que passou por esse processo brutal de colonização e que ainda hoje continua referenciando de maneira tão intensa nos currículos escolares, nas produções culturais, esse imaginário cânone greco-latino. Então, na faculdade de artes cênicas, por exemplo, eu estudei dois anos de Grécia antiga.

Isso é algo que também se verifica nos cursos de letras e em muitos outros cursos. Você estuda tragédia grega. Você estuda comédia grega. Você estuda poética de Aristóteles, O Banquete do Platão. Uma tradição que é tão distante a nós. E, muitas vezes, a gente acaba não olhando para outras tradições e cosmovisões que estão mais próximas. As diferentes tradições latino-americanas andinas, maias e tudo mais ou as tradições africanas.

Quando eu termino [o curso universitário] eu vou fazer EAD, que a escola de artes dramáticas da USP, eu tenho que retomar essa galera [os gregos]. Eu estava lá, lendo pela segunda vez a mesma tradição, e faltava a Ilíada.

Então, eu estava indo viajar, fazer um mochilão pela Bolívia e pelo Chile. Eu falei: ‘Ah, vou pegar a Ilíada. Por que não? [risos]. É pesado, mas, pelo menos, é um volume só’. Meu irmão, Caetano, tinha uma edição que era leve, de papel bem fininho.

Foi onde eu li e fiquei muito chocada. Eu costumo dizer que o Pedras nasce um pouco desse horror a essa narrativa fundante da tradição ocidental, que é narrativa muito violenta. Eu sabia que era a história de uma guerra, que é como é contada, né? Mas, na verdade, não é a história de uma guerra, é a história de um massacre.

O que diferencia uma guerra de um massacre?

A guerra é quando, minimamente, você tem pé de igualdade. Você tem possibilidades reais dos dois lados ganharem. É algo que vai ser disputado na batalha. E, quando você lê a Ilíada, você vê que os troianos nunca tiveram chance de ganhar, porque os deuses eram gregos. Acho que foi a maior indignação para mim, porque isso eu não sabia antes de ler. Mas você tem o tempo inteiro a batalha acontecendo no campo terreno, entre gregos e troianos, e uma batalha acontecendo no plano divino, digamos assim, no Olimpo. Então, você tem os deuses que são pró-troianos e os deuses que são pró-gregos. E tem um momento que tem uma treta gigante, e Zeus [deus do trovão e líder do panteão grego] fala: ‘ninguém intervém na guerra, nenhum dos deuses’. E aí os troianos passam a ganhar a guerra.

Só que aí tem uma coisa que é muito doida, porque a gente tem essa ideia de perfeição atrelada à divindade, no catolicismo. No panteão dos gregos, na mitologia grega, são deuses que estupram, que têm inveja, que trapaceiam. Hera [esposa de Zeus] faz uma trapaça com Zeus. Ela vai até o fundo do oceano, pega um sonífero e Zeus dorme. Aí, ela e Atena [deusa associada a sabedoria] voltam para a guerra, quebram o pacto.

Os deuses são trapaceiros e Ulisses [herói grego] é trapaceiro também, porque é uma trapaça o que ele faz com cavalo. Não é fair play [jogo justo]. Eu acho que tem essa dimensão do massacre. Além de toda a devastação de um povo, das inúmeras formas de aniquilação, de tortura de subjugação, de estupro, de violência que estão no livro, tem isso de que é impossível esse povo ganhar. [Por orientação de Ulisses, os gregos fingem se retirar do campo de batalha e oferecem um cavalo gigante de madeira como presente aos troianos. Porém, uma parte dos soldados gregos se esconde dentro da escultura para, durante a noite, abrir os portões da cidade e provocar a derrota de Troia.]

No poema Homero, você diz que os gregos “foram capazes de” e traz uma lista, que seria de atrocidades, mas que está coberta por uma tarja preta, de censura, para em seguida dizer que, apesar desses horrores, eles, ao menos devolveram o corpo de Heitor, príncipe de Troia, ao contrário do que se fez, muitas vezes na ditadura militar brasileira. Você quer dizer que vivemos horrores maiores do que os troianos?

Isso tem muito a ver com dimensão quase que performativa da minha leitura. Eu estava lendo nessa viagem e passei pelo local onde Che Guevara [guerrilheiro que participou da revolução cubana] foi assassinado, no interior da Bolívia. Inclusive, tinha uma menina lá [parte do grupo], que era Tânia. Eles estavam tentando articular uma revolução comunista no coração da América Latina. A ideia seria sair do coração da Bolívia e se espalhar pelo continente inteiro. Eles são delatados, passam por uma emboscada e são assassinados.

O Che Guevara morre. A cabeça dele fica exposta em uma dessas vilas e o corpo fica desaparecido, por medo de que o local em que ele estivesse enterrado virasse um mausoléu de peregrinação comunista, um lugar de memória. O corpo dele só é encontrado 30 anos depois. Um dos militares disse que ele estava enterrado numa pista de pouso militar. Hoje você tem um museu do Che Guevara nesse local.

Eu queria aprofundar um pouco o uso desse recurso da censura, que aparece em outras partes do livro.

Eu acho que essa questão da censura ou do apagamento de arquivos é algo que também está muito presente quando a gente fala dessa história, dessa imposição de uma história única, dessa construção de um relato produzido pelo poder. Então, desses arquivos que são censurados, apagados e tudo mais.

Também, de certa forma propõe esse jogo com os leitores, da mesma forma que eu estou tentando reconstituir uma história que é muito apagada, vamos tentar reconstituir juntos. Talvez seja exercício imaginativo nosso também.

Você disse que Ulisses não jogava no fair play [jogo justo]. Tem um texto em que parece que você fala disso, invertendo a condição de herói e vilão, no poema Polifemo [gigante de um olho só que comia pessoas]. “Ninguém te cegou não/ não foi Ulisses/ aquela noite o policial não tinha identificação”

Ulisses, para mim, é um personagem que a gente, enquanto ocidente, vai emular como a inteligência. Primeiro, tudo que a gente sabe das viagens dele [narradas na Odisseia], é ele o que conta. Ou seja, ele pode estar mentindo, ele pode ter inventado tudo. Para mim, é um narrador nada confiável. Principalmente, porque do que a gente sabe, sim, de dados dele, é o personagem que faz o Cavalo de Tróia, que ganha na trapaça.

Então, Polifemo estava lá e, de repente, chegam esses homens, se metem [nos domínios dele] e ainda o cegam. E tem essa que a grande sabedoria do Ulisses é falar: “Eu não sou ninguém”. Então, Polifemo começa a gritar [após ter o olho furado]: “ninguém me cegou”.

Isso também foi uma chave de leitura para o caso do Sergio Silva [fotógrafo que perdeu o olho nas manifestações de 2013] e de vários e várias manifestantes que foram baleados com bala de borracha nos últimos anos, seja no Brasil, seja no Chile, onde a gente teve de fato uma forma sistemática da polícia de dilacerar o globo ocular de muitas pessoas.

E que ninguém cegou essas pessoas. É a mesma situação bastante recorrente quando a gente fala das ações das polícias militares, seja pelo não uso de identificação, seja porque cada vez mais são policiais que estão com balaclava ou com capacete.

Você fala em diversos momentos sobre violência (policial, contra a mulher), que é uma temática muito recorrente nos slams. Como o movimento dos slams atravessa a sua trajetória?

Minha trajetória é completamente atravessada pelo slam. Eu vim do teatro, sou das artes cênicas. Não estava no meu horizonte de vida virar poeta. Foi através do encontro com as batalhas de slam, com os microfones abertos, com o movimento saraus, que eu começo a escrever. Principalmente, por ser uma poesia muito engajada. Uma poesia que pensa o seu tempo histórico, que é fundamentada na dimensão coletiva da palavra. Toda essa partilha da performance é uma forma poética também de encarar esses temas.

O slam não dissocia política e poética. É óbvio que é indissociável. Mas tem alguns lugares que se tem ilusões que é possível dissociar disso. Então, eu começo a frequentar em 2013 e continuo, não mais como slammer. Já aposentei as chuteiras faz um tempo. Mas, de vez em quando, fazendo a parte de produção. Fui fazer um mestrado sobre isso

Em que momento você se aposentou do slam?

Como slammer, é muito normal a gente ter ondas, né? É tipo jogador de futebol, a carreira é curta. A gente vai lá, batalha uma, batalha outra, brinca durante dois ou três anos. É muito normal. Assim, você tem uma renovação da cena muito constante. Então, eu comecei a frequentar em 2013, já tinha tido uma onda antes de mim. Eu sou dessa segunda geração e já estão na sexta geração, agora.

Então, eu fui fazer outras paradas em termos de artista, de criação artística. Mas, ao mesmo tempo, é um lugar que eu gosto muito de estar. Eu continuo frequentando muito nesses últimos anos.

De alguma forma, tentei elaborar bastante a reflexão sobre a cena na dissertação. Acho que é uma forma de agradecer também esses anos todos de trajetória. É um trabalho que é a primeira parte é bastante dedicada a pensar historiografia do slam nos Estados Unidos. Eu traduzi muita coisa que não está disponível em português.

Também analiso quatro poemas da Luz Ribeiro, de Pieta Poeta, do Beto Bellinati e da Ana Roxo. Pensando como que essas questões todas vão para o corpo do poema. Porque, muitas vezes, quando a gente fala de slam, a gente só faz uma abordagem antropológica ou socializante, sendo que a gente está falando de poesia. E eu acho que ler esses poemas também na sua potência estética, o que eles têm de disruptivo, no que eles propõem de linguagem, no que eles contestam em toda uma tradição literária brasileira, isso é muito potente também.

São Paulo SP 29/09/2023 Luiza Romão vencedora do Prêmio Jabuti  2022.  Foto Paulo Pinto/Agência Brasil

São Paulo SP 29/09/2023 Luiza Romão vencedora do Prêmio Jabuti 2022. Foto Paulo Pinto/Agência Brasil – Paulo Pinto/Agência Brasil

 




Fonte: Agência Brasil

Mega-Sena sorteia neste sábado prêmio estimado em R$ 9 milhões  


O prêmio do sorteio deste sábado (30) da Mega-Sena está estimado em R$ 9 milhões. As apostas podem ser feitas por pessoas maiores de 18 anos até as 19h, no horário de Brasília, nas lotéricas de todo o país, pelo portal Loterias Caixa ou pelo aplicativo Loterias Caixa.. 

No último sorteio, nenhum apostador acertou os números e o prêmio acumulou. Os sorteios da Mega-Sena ocorrem às terças e quintas-feiras e aos sábados. A aposta mínima, de seis dezenas, custa R$ 5. 

De acordo com estimativas da Caixa, caso apenas um apostador acerte o prêmio principal no sorteio de hoje e queira aplicar na poupança, o valor renderia cerca de R$ 61 mil no primeiro mês. Se preferir investir em jet skies, o valor será suficiente para comprar 36 motos aquáticas, pagando R$ 250 mil em cada uma. 

Ganha quem acertar seis, cinco ou quatro números sorteados, dentre os 60 disponíveis no volante de apostas. Para aumentar as chances, é possível marcar até 20 dezenas ou ainda participar dos bolões nas lotéricas. 

O sorteio do concurso 2.639 será realizado a partir das 20h, horário de Brasília, no Espaço da Sorte, localizado na Avenida Paulista, nº 750, em São Paulo (SP). O evento é transmitido ao vivo pelas redes sociais da Caixa

+Milionária 

A Caixa sorteia também o concurso 82 da +Milionária, que ocorre às quartas-feiras e aos sábados. O prêmio pode chegar a R$ 77 milhões. 

A +Milionária se destaca por oferecer diversas faixas de premiação. Caso apenas um apostador leve o prêmio principal e aplique na poupança, receberá R$ 523,4 mil de rendimento no primeiro mês. 

O valor de uma aposta simples, com seis números e dois trevos, custa R$ 6. Para apostas múltiplas, o apostador pode escolher de seis a 12 números e de dois a seis trevos. Nas lotéricas, também é possível participar dos bolões. 




Fonte: Agência Brasil

Operação Impacto apreende mais de 20 mil maços de cigarros estrangeiros em Regente Feijó




Produtos estavam escondidos no compartimento de carga do veículo, que transitava pela Rodovia Assis Chateaubriand (SP-425) no momento da abordagem. Operação Impacto apreende mais de 20 mil maços de cigarros estrangeiros em Regente Feijó (SP)
Polícia Militar Rodoviária
A Polícia Militar Rodoviária apreendeu nesta sexta-feira (29) o equivalente a 21.240 maços de cigarros de origem estrangeira e sem documentação fiscal, na Rodovia Assis Chateaubriand (SP-425), em Regente Feijó (SP).
Os policiais realizavam a Operação Impacto quando abordaram um veículo, com placas de São Paulo (SP), e, de longe, notaram que uma caminhonete, também com placas da capital, “freou bruscamente adentrando uma estrada rural”.
Em diligências pelo local, o veículo foi encontrado e, no compartimento de carga dele, a polícia localizou os maços de cigarros.
A ocorrência foi apresentada na Delegacia da Polícia Civil da cidade, onde um dos condutores, de 19 anos, e o outro, de 17 anos, ambos moradores de Teodoro Sampaio (SP), foram ouvidos e liberados.
O veículo, a carga, um montante de R$ 37 e dois celulares foram apreendidos.

Veja mais notícias em g1 Presidente Prudente e Região.




Fonte: G1

Mulheres contam como é viver com doença que provoca queda de cabelo


“Hoje, não ter pelo, pra mim, é uma escolha”. A frase é da educadora social e artista Lídia Rodrigues, 36 anos, que exibe sem medo a cabeça sem os fios de cabelo. Mas nem sempre foi assim. Entre 2010 e 2011, ela recebeu o diagnóstico de alopecia areata, uma doença autoimune que provoca a queda de pelos – não apenas no couro cabeludo como, em alguns casos, em todo o corpo, incluindo sobrancelhas e cílios.

28/09/2023, Matéria Sobre Alopecia areata. Na foto a personagem Lídia Rodrigues. Foto: Arquivo Pessoal

 Lídia Rodrigues. Foto: Arquivo pessoal

Na época, Lídia vivia um relacionamento abusivo e ainda não havia recebido um segundo diagnóstico, que também teria grande impacto em sua vida: o de transtorno do espectro autista. Ela somente percebeu os efeitos de todo o estresse no corpo quando os fios começaram a cair. 

“Lembro que começou a cair um pouquinho de cabelo, uma falha que parecia uma moeda de R$ 1. Foi quando eu soube que era alopecia areata. No começo, tentei cuidar bastante, fiz o processo de retomada dos pelos e fui descobrindo algumas coisas. É uma doença autoimune agravada pelo estresse. Então, se eu não aniquilasse os elementos de estresse que, na época, eu nem conseguia entender bem quais eram, os fios iam continuar caindo”, conta.

O tratamento, à base de corticoide, deixou Lídia inchada e ela resolver raspar por completo a cabeça. “Hoje em dia, eu meio que sou uma mulher careca. Os cabelos vêm, mas eu continuo tirando. Incorporei minha identidade.”

28/09/2023, Matéria Sobre Alopecia areata. Na foto a personagem Lolla Angelucci. Foto: Arquivo Pessoal

Lolla Angelucci: queda se tornou acentuada aos 18 anos. Foto:  Arquivo pessoal

A ilustradora Lolla Angelucci, 43 anos, sempre conviveu com a queda de cabelo – desde a infância. Durante muito tempo, achou que conseguia esconder as falhas no couro cabeludo, mas, quando completou 18 anos, a queda dos fios se tornou mais acentuada.

“Aos prantos, entendi que já quase não tinha mais cabelo”, conta. “Minha mãe passou a vida inteira procurando o melhor especialista e o melhor tratamento. Nenhum foi fácil, nem barato, nem eficaz. Quando estava em casa, aos prantos, porque não dava mais pra esconder a alopecia, ela encontrou a melhor loja de peruca – e também a mais cara. Minha primeira peruca era muito desconfortável e custou três salários mínimos”. 

“Essa primeira peruca era tão desconfortável que o passo seguinte, de parar de usar peruca, foi relativamente fácil. Acho que o fato de eu ter entendido desde o começo que a minha peruca não enganava ninguém também facilitou muito”, lembra. “ Eu me gostava careca. Olhava no espelho e me achava bonita. O resto do mundo não achava, mas, como eu achava, estava bem. Não foi fácil. Meus professores de faculdade vinham perguntar por que eu não estava mais usando peruca. Uma mulher fora do padrão que se sente confortável na própria pele causa estranhamento. E as pessoas eram meio agressivas. Como se eu tivesse obrigação de alterar a minha aparência para o que fosse agradável para o outro, não pra mim.”

Diagnóstico tardio

No caso da influencer Yasmin Torquato, 28 anos, o diagnóstico tardio de alopecia areata desencadeou um quadro depressivo que terminou por agravar ainda mais a queda de cabelo. Aos 23 anos, ela percebeu uma falha no couro cabeludo do tamanho de um fundo de copo na altura da nuca.

28/09/2023, Matéria Sobre Alopecia areata. Na foto a personagem Yasmin Torquato. Foto: Arquivo Pessoal

Yasmin Torquato. Foto: Arquivo Pessoal – Arquivo pessoal

“Eu assustei bastante. Não sabia o que estava acontecendo comigo. O quadro emocional foi afetado demais e eu entrei em depressão. Demorou seis meses pra ter um diagnóstico. Seis meses de muita luta, indo a vários médicos. Infelizmente, há muito despreparo. Doença autoimune, de certa forma, ainda é doença nova. Nem todos conhecem”.

“Foi um choque pra mim, mas, ao saber do diagnóstico, fiquei um pouco mais tranquila, pelo menos por saber que não era uma doença contagiosa ou uma doença terminal. Esses são os maiores medos que a gente sente ao saber que está doente”, conta. “Contra todas as vontades, eu mesma criei coragem e resolvi raspar. Raspei, consegui ficar carequinha, comecei a falar sobre a doença, ajudar outras pessoas. No final do ano passado, meu cabelo começou a nascer sozinho, o que me deu muita esperança. Começou a crescer bem os fios mas, depois de sete meses, tive uma crise de sinusite, tomei medicamentos fortes e o quadro evoluiu pra alopecia universal, quando caíram os cílios, as sobrancelhas e o pelo do corpo todo.”

28/09/2023, Matéria Sobre Alopecia areata. Na foto a personagem Lolla Angelucci. Foto: Arquivo Pessoal

 Lolla Angelucci. Foto: Arquivo Pessoal – Arquivo pessoal

“Foi como se tivesse perdido meu cabelo pela primeira vez de novo. Me vi novamente bem abalada, mas, como já estava mais fortalecida, passei um mês mais amuadinha e já estou bem melhor e lidando super bem. Mesmo na fase mais crítica da doença, não parei de trabalhar. É o que me dá força.”

Entenda 

No mês de conscientização sobre a alopecia areata, a dermatologista e tricologista Patricia Damasco alerta para os principais sinais da doença e para a importância do diagnóstico precoce. “É como se o organismo atacasse o próprio folículo, mas de uma forma que não destrói aquele folículo e, com isso, tem chance de voltar a ter pelo naquele local”, explica.

“Pode ser bastante incômodo porque, na maior parte das vezes, as pessoas ficam com uma placa pequena sem cabelo e o tratamento é com injeção local de medicamento. Há alguns casos em que a pessoa perde o pelo do corpo todo, inclusive cílios, sobrancelhas. São quadros bastante desafiadores pros pacientes”. 

“Por um processo autoimune, o anticorpo ataca o folículo, fazendo com que mesmo os fios em fase de crescimento se desprendam e caiam. É bem característico áreas arredondadas, sem pelo nenhum. O paciente fica bem angustiado porque, muitas vezes, ele tem medo que aquele cabelo não volte a crescer naquele local. O interessante é que, mesmo havendo um processo inflamatório, ele não atinge a célula tronco do folículo. Por isso, sempre há chance de retornar aquele fio ao local. Tem relação com estresse muito grande. A gente vê também relação com a descompensação de problemas de tireoide, anemia. Isso tudo pode fazer com que aquela pessoa que já tem pré-disposição genética manifeste a doença.”

“Muitas vezes, o paciente nem sabe que tem a doença. Na maior parte das vezes, ele não sente que o cabelo caiu naquela plaquinha. Quem nota é o cabelereiro ou alguém que esteja manuseando o cabelo da pessoa. É importante o tratamento específico porque a gente consegue controlar aquela atividade evitando que a perda de cabelo seja excessiva. É interessante, assim que notar que há uma área de falha, procurar um dermatologista porque pode aumentar muito e a gente consegue, com o tratamento, frear um pouco.”




Fonte: Agência Brasil

Rio lança cinco editais do pacote de fomento da Lei Paulo Gustavo


A Secretaria Criativa do Rio de Janeiro (Secec RJ) lançou nesta semana os cinco últimos editais do pacote de fomento da Lei Paulo Gustavo (LPG).

Assim, o governo do estado do Rio conclui a etapa de lançamento das 19 chamadas públicas, que somam investimentos de R$ 139 milhões e oferecem 1.133 vagas para projetos culturais de diferentes segmentos. O projeto tem apoio da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

As novas chamadas são voltadas para histórias em quadrinhos (HQs), apoio aos espaços do audiovisual, à memória e preservação do audiovisual, a licenciamento e apoio à distribuição. Os interessados poderão se inscrever até o dia 18 de outubro, às 18h, através da plataforma Desenvolve Cultura, no link.

Democratização

A secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros, disse que esse é o pacote de editais mais democrático lançado pelo órgão. “Temos trabalhado para promover a melhor entrega possível da lei e beneficiar os fazedores de cultura de todas as regiões do estado, assim como fizemos na execução da Lei Aldir Blanc”, afirmou ela. A secretaria está recebendo os proponentes em sua sede, na capital, através das redes sociais e, também, realizando atendimento especializado nos municípios para tirar dúvidas sobre os editais e garantir oportunidade para todos.

À Agência Brasil, Danielle afirmou que “a Lei Paulo Gustavo é um importante mecanismo de fortalecimento e democratização da cultura em todos os territórios. Concluímos esta primeira etapa de lançamento dos editais do estado e, agora, estamos apoiando os municípios nas suas chamadas públicas, para que eles possam operacionalizar os seus recursos e nós tenhamos ainda mais projetos culturais nas cidades, gerando emprego, renda e oportunidade através da arte”.

A maior parte dos recursos repassados pelo governo federal para execução da Lei Paulo Gustavo é oriunda do Fundo Setorial do Audiovisual. Por esse motivo, deve ser aplicada no próprio segmento. Os 19 editais atendem diferentes linguagens do setor cultural, com o objetivo de fomentar a democratização do acesso aos recursos e estimular a cadeia produtiva, incluindo a adesão de segmentos nunca antes contemplados de forma exclusiva, como jogos eletrônicos, bandas e fanfarras, artesanato, arte-educação e HQ.

O Rio de Janeiro é a quarta unidade federativa com mais recursos reservados pela LPG. Além do valor que será operacionalizado pelo governo do estado, os 92 municípios fluminenses têm R$ 132,1 milhões reservados para execução.

Novos editais

As cinco chamadas públicas são voltadas para pessoa jurídica, somam mais de R$ 29 milhões de investimento, e englobam 188 vagas disponíveis.

O edital de história em quadrinhos (HQ) vai apoiar financeiramente propostas de produção e publicação, inéditas ou não, de temática cultural ou educativa, a serem distribuídas em bibliotecas e instituições públicas de ensino. A premiação total de R$ 610 mil vai ser dividida em 20 etapas de R$ 30,5 mil.

Para o edital de apoio aos espaços do audiovisual, as pessoas jurídicas devem ter Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) específica de exibição cinematográfica.

Serão apoiadas financeiramente 56 propostas de planos de manutenção das salas, incluindo salas de cinema independentes já existentes, cinemas itinerantes e novos espaços de exibição, considerando adaptação de espaços que já desenvolvam atividades culturais. O investimento de 15,4 milhões será dividido nas categorias salas de cinema independentes, cinemas itinerantes e ativação de espaços de exibição.

Produção audiovisual

Da mesma forma, o edital de apoio a licenciamento é voltado para pessoa jurídica com CNAE específica de produção audiovisual. Serão apoiadas 72 propostas de licenciamento de conteúdo audiovisual para redes de televisão públicas e serviços independentes de vídeo por demanda, cujo catálogo de obras seja composto por pelo menos 70% de produções nacionais. O investimento de R$ 3,69 milhões será dividido em três categorias.

Já a chamada de apoio à memória e preservação do audiovisual apoiará 14 propostas, totalizando investimento de R$ 1,604 milhão nas categorias pesquisa, inventário e catalogação de acervos, digitalização de acervos e digitalização de coleções de acervos.

Concluindo o pacote de chamadas, o edital de apoio à distribuição vai contemplar financeiramente 26 proponentes que apresentem propostas de distribuição de obras cinematográficas no mercado audiovisual. O investimento total alcança R$ 7,8 milhões, dividido em premiações de R$ 300 mil.

Outras informações sobre os editais podem ser encontradas no site da Secec RJ.




Fonte: Agência Brasil

Votação neste domingo elege 10 conselheiros tutelares em Presidente Prudente; veja a lista dos 43 candidatos | Presidente Prudente e Região


NomeIdadeNº de votaçãoAmanda Gomes de Souza Tomazini2910Amanda Luisa Oliveira Silva2811Ana Lucia Mendes de Almeida5612Andressa Menezes Zambrano2613Ariadne Carla de Almeida Martins Cortes Real2814Bruna Cardoso Gregório3115Bruno R. de Oliveira Jordan3316Camila da Silva Lima3017Carla M. Barbara Belizario3818Claudia Renata da Silva Bueno4919Debora e Silva Nascimento4120Dina Albano Cruz6721Ednaldo T. da Silva Junior4022Eliza A. F. de Amorim Marchesi4723Elizabete Reco de Oliveira6124Enio da Silva Mariano3125Eva Gonçalves Bezerra6326Georgia A. Moraes Xavier5127Gisele Renata M. M. Santos4528Giselle Aparecida Spinelli3829Inacio Claudio dos Reis5430Isabelle Cristina Araujo3031Jeova Ribeiro Pereira4532Jessica T. de Souza Ishibashi3333Jiuzete P. de Vasconcellos6134Josefa Sueli Barreto Brogiato6035Juliana M. S. Nascimento4236Lara Telles Peres2837Lidia Aparecida Cornetti5638Maria das G. Chamim Freitas3139Maria de Lourdes Sa Guazi7340Maria Josiane Moreira de Souza4141Monica Alessi Zanuto4243Paloma L. Rodrigues Antonio3444Patricia G. Gonçalves Freitas4945Raquel Alfaro Ovando3446Roberta Boica Biazini4147Rogerio Fazioni da Silva4248Sabrina Ribas da Silva Bury3949Silmara Mendes de Souza5050Talita M. B. Guini Pinheiro3951Vanessa D. Velloso Paie4052Vanessa M. Malacrida Silva4753




Fonte: G1