Feira do MST em SP permite passeio por histórias do Brasil e do mundo


Na 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que acaba neste domingo (11), é possível entender como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) funciona como coletivo e se inteirar do que pequenos agricultores de todo o Brasil acumulam de experiências individuais, muitas delas marcadas por uma maior conscientização ambiental, na comparação com gerações anteriores. Com o evento, também se pode ultrapassar a linha da superficialidade, já que a feira revela as articulações que essa categoria profissional tem feito ao redor do mundo.

Um dos feirantes no Parque Estadual da Água Branca, na capital paulista, onde a feira está sendo realizada, o produtor rural Adailton Souza Santos fez a passagem da fase infantil à vida juvenil e adulta tendo como ideal o que seu pai lhe ensinou sobre a manipulação da terra. Em sua cidade, Juazeiro, na Bahia, que tem pouco mais de 237 mil habitantes e um quinto da população empregada com carteira assinada, com uma remuneração média de dois salários mínimos, começou a cultivar “desde gurizinho”, conforme conta.

“Sempre que mainha comprava uma uva, uma maçã, coisa e tal, eu pegava aquelas sementes e dizia, Eu vou plantar. Naquela época, tinha latas de quitute e de óleo, era lata de alumínio, de ferro. Observando meu pai, que botava a gente para ajudar na roça, a gente foi pegando o gosto pela cultura, mas sempre de maneira convencional, nunca de uma maneira agroecológica, mais correta, com o cuidado com o meio ambiente”, relata.

Santos tem 56 anos e está no MST há 11. No acampamento Abril Vermelho, alvo de reintegração de posse com o emprego de agentes da Polícia Federal em novembro de 2019, durante o governo Bolsonaro, ele se reeducou, entendendo que podia progredir ainda mais, ao plantar alimentos sem agredir a natureza e deixando os agrotóxicos, algo que até então normalizava.

“Hoje, graças à consciência que adquiri no movimento, comecei a produzir de maneira correta, orgânica”, reconhece ele.

De acordo com a última edição do relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre violência no campo, em 2024 houve um aumento expressivo de ocorrências de contaminação por agrotóxicos, 276 ao todo. Para especialistas da entidade, o agrotóxico se transformou em uma “arma de guerra” nesse contexto. No ciclo de 2015 a 2023, a média era 24,3 por ano. O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde, complementa esses dados, indicando que, de janeiro a abril deste ano, foram registrados 1.530 casos de intoxicação por agrotóxicos agrícolas no país, número bem superior ao total de 2024, que foi de 72.

Santos comenta que é uma questão “de autopreservação” e não somente de conservação ambiental. “Porque a gente faz parte do meio ambiente”, observa.

“O MST sempre pregou isso, mas, de uns anos para cá, vem massificando essa orientação de como produzir sem agredir o meio ambiente”, acrescenta o agricultor, assumindo que ele mesmo se recusou a mudar no princípio, quando propuseram que fosse a uma área de agroecologia. “A gente tem aquela ideia de que é mais difícil, que não vai dar certo. É a cultura, [a noção de que] ‘eu aprendi assim, sempre fiz assim’. E aí você acha que não pode mudar, mas pode, sim. A prova disso é que eu mudei, e sem pressão. Entendi que precisava mudar e dia a dia estou mudando.”

É com alegria que Santos oferece à  família alimentos isentos de riscos  à saúde. “Nada é mais gratificante do que ter filho, ele entrar no seu quintal e pegar uma fruta, botar na boca, sem medo de errar. Você vê a criança comendo uma goiaba, chupando um caju, comendo um jaca e você ter a consciência pesada de ter que lavar etc. Isso me deu muita satisfação. Isso me faz refletir bastante sobre continuar produzindo nessa linha”, diz.

Internacionalização do que começa na família

A segunda edição do Atlas do Espaço Rural Brasileiro, finalizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2020 e que analisou o cenário de 2017, mostra que 76,8% dos estabelecimentos agropecuários e aquicultores são de agricultura familiar. Esses mais de 3,8 milhões de agentes, contudo, ocupam menos de um quarto (23%) da área dedicada a esse tipo de atividade econômica.

O setor gera 10,1 milhões de postos de trabalho, segundo o Ministério do Desenvolvimento do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e, mesmo assim, tem muitos desafios pela frente. Atar as pontas do MST com aliados de outros cantos do mundo tem sido uma estratégia já adotada hoje.

Uma dessas redes é a promovida pela Baobab, associação sem fins lucrativos que se propõe a facilitar a interlocução entre comunidades do Sul Global. Com a sede administrativa  em Genebra, na Suíça, mantém escritórios em Pequim, na China, em Acra, capital de Gana, e em São Paulo.

Além do MST, fazem parte da rede a Federación Rural para la Producción y el Arraigo, da Argentina; a Unión Comunera, da Venezuela; a West Africa Agroecological Foundation (WAAF), de Gana; a Foundation for Promotion of Cooperatives and Agroecology, de Zâmbia; a All Nepal Peasants’s Federation (ANPFA, do Nepal; e a Mtandao wa Vikundi vya Wakulima Tanzania (MVIMATA), da Tanzânia. Todos são movimentos populares rurais e urbanos. Há, ainda, entre os parceiros, a Universidade de Brasília (UnB) e a China Agricultural University (CAU), ao lado de outras instituições acadêmicas e científicas que podem contribuir com incrementos tecnológicos.

Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador para a América Latina da Baobab, Luiz Zarref, contou que a rede vem sendo formada desde 2019 e explicou que um dos principais entraves dos pequenos agricultores é a falta de maquinário disponível, adequado para essa escala. Segundo ele, o que existe atualmente não atende às suas necessidades, e sim ao aos latifundiários. Com o que os agricultores familiares têm, portanto, não podem colocar sua produção a todo o vapor.

A discrepância, sublinhou Zarref, parte do maior nível de mecanização entre os produtores de certos estados do Sul e Sudeste, ante um bem inferior entre os da região Nordeste. O Atlas do IBGE aponta que, em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a porcentagem de agricultores com tratores ficava acima de 40,1%, contra 2,1% ou menos no Piauí, Ceará e Pernambuco, isso levando em conta todos os mais de 5 milhões de estabelecimentos. No país, a média era de 14,4% em 2017. As parcelas de trabalhadores que tinham ao seu alcance plantadeiras e colheitadeiras eram de 5,1% e 2,3%, respectivamente. O levantamento ainda enfatizava como faz diferença a identidade de gênero dos profissionais na hora de conseguir o maquinário, uma vez que as mulheres seguem em desvantagem.

 “É uma agricultura que ainda não chegou aos avanços do início do século XX, com mecanização básica, de pequenos tratores. Não tem nem oferta no Brasil para colheitadeira. Uma pequena, de 12, 14, 20 cavalos para arroz não tem e quem é do campo sabe a dificuldade que é a colheita do arroz, porque você tem um prazo muito curto e é muito sensível”, afirma.

Os propósitos que a movem têm a ver com a emancipação dos trabalhadores em diversos aspectos, desde a alfabetização, como foi o caso de uma ação com esse objetivo, fortalecida em Zâmbia, em 2021, por meio de uma campanha, à garantia de que agricultores possam se apropriar da cadeia de cultivo do início ao fim, como ocorre com aqueles que trabalham com o cacau. Quanto a este último exemplo, o representante da Baobab salienta que o que a associação pretende é torná-los mais do que meros fornecedores do fruto para países que não os seus e fazer com que se valorize o cacau não como ingrediente de receitas de chocolate, produto que acaba ficando restrito a classes mais elitizadas, muitas vezes, mas por seus nutrientes.

Os membros da associação demandam do governo brasileiro um suporte interministerial e consistente, tendo em vista os resultados que a agricultura familiar atinge. “Tem um limite estrutural que é: a agricultura familiar, camponesa, apesar de sua extrema importância alimentar, ecológica e social, não tem um projeto político de fato, pelo Estado brasileiro”, avalia.

“Todas as organizações do campo têm a articulação do Campo Unitário e, durante a eleição do presidente Lula, entregamos uma plataforma de elementos de políticas públicas estruturantes. Acredito que o próprio presidente Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] sabe da importância, é convencido da importância, mas aqui estamos falando de todo o aparato do Estado mesmo, que vai desde o Judiciário, que não constrói, não tem jurisprudência para a agricultura familiar, passando pelo Executivo – nos governos, é completamente contrário a nós -, mesmo nos governos de centro-esquerda não assume a agricultura familiar e camponesa como uma questão estratégica. Tratam como uma questão de conflito.”




Fonte: Agência Brasil

Premiação é da TV pública, diz Cissa Guimarães sobre prêmio APCA


Neste sábado (10), o programa Sem Censura, da TV Brasil, vai receber o prêmio como vencedor do Prêmio APCA 2024, organizado pela Associação Paulista de Críticos de Arte, na categoria de Melhor Programa de Televisão.

Apresentado por Cissa Guimarães, a produção destacou-se entre os indicados e conquistou o reconhecimento de um dos mais tradicionais e respeitados prêmios culturais do país.

“É um prêmio para a equipe toda do Sem Censura. O coletivo é a coisa mais importante. Nada acontece com uma pessoa fazendo sozinha. Um prêmio tão importante quanto esse, o APCA, ser dado a um programa que estava fora do ar há anos e que a gente conseguiu retomar no ano de 2024 e atingir esse sucesso com entrevistas tão incríveis, esse prêmio é para todos que também foram ao programa e que compartilharam suas histórias. É um prêmio da cultura brasileira, da TV pública brasileira, principalmente isso. Vamos receber o prêmio do povo brasileiro”, disse Cissa.

Clássico da televisão brasileira, o Sem Censura reestreou na grade do canal público em fevereiro de 2024. Sob apresentação de Cissa Guimarães, o programa tem novos quadros, debatedores, entrevistas e participações musicais. No programa que foi ao ar até dia 2 de maio, foram 1043 convidados em 274 episódios.

O Sem Censura é exibido de segunda a quinta-feira, ao vivo, das 16h às 18h, e tem edições especiais toda sexta-feira, no mesmo horário.

O Sem Censura faz parte da programação da TV Brasil desde 1985, quando estreou no dia 1º de julho na então TV Educativa do Rio de Janeiro, com Tetê Muniz como apresentadora. A produção ficou mais conhecido com o rosto de Leda Nagle na bancada, que apresentou o programa de 1996 a 2016. A atração promovia debates sobre temas variados e era diária, passando a ser semanal desde 2021, e retornou repaginada em 2024 com Cissa Guimarães como titular.

Idealizado pelo jornalista Fernando Barbosa Lima no período da reabertura política, o Sem Censura também foi apresentado por profissionais como Gilsse Campos, Lúcia Leme, Claudia Cruz, Beth Camarão, Marcia Peltier, Liliana Rodriguez, Eliana Monteiro, Carla Ramos, Vera Barroso e Marina Machado.

O Prêmio

Desde 1956, a APCA reconhece, por meio de premiação, a excelência profissional em áreas como arquitetura, artes visuais, dança, literatura, moda, música erudita, música popular, rádio, teatro, teatro infantil e televisão.

A área de televisão passou a integrar o Prêmio APCA em 1972. Esse é um dos troféus mais importantes e tradicionais do Brasil. Em 2012, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) concorreu ao prêmio com o programa Arte do Artista, do dramaturgo e ator Aderbal Freire-Filho.




Fonte: Agência Brasil

Grupo Taquitá apresenta musical infantil ‘Sonho de Domingo’ em Presidente Prudente | Presidente Prudente e Região


Com uma mistura de rock, ska, reggae e pop voltado ao público infantil, neste domingo (11), às 16h, o Grupo Taquitá apresenta o musical “Sonho de Domingo” na Àrea de Convivência do Sesc Thermas, no Jardim das Rosas, em Presidente Prudente (SP). A programação é grauita.




Fonte: G1

Marido é preso após esposa esconder droga e garrucha que ele mantinha em residência, em Teodoro Sampaio




Conforme a vítima, o homem teria ficado revoltado e a ameaçou de morte. Homem é preso em Teodoro Sampaio (SP)
Polícia Militar
Um homem foi preso, nesta sexta-feira (9), após ameaçar a esposa de morte em Teodoro Sampaio (SP).
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De acordo com a Polícia Militar, uma equipe foi acionada para o atendimento de uma ocorrência de violência doméstica.
No local, a vítima relatou aos policiais que viu o marido usando cocaína e que, após uma distração dele, ela conseguiu esconder a droga, motivo pelo qual foi agredida.
Durante a discussão, a mulher disse que teria visto uma garrucha em cima da cômoda, objeto que ela também conseguiu esconder.
Conforme o relato da vítima aos militares, o homem teria ficado mais revoltado e a ameaçou de morte.
Durante busca domiciliar, foram encontrados uma garrucha, uma faca, quatro munições e a droga escondida.
O homem foi preso e permaneceu à disposição da Justiça.
Violência contra mulher: como pedir ajuda

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Fonte: G1

Dias das mães pode ser chuvoso em maior parte do país, prevê Inmet


Uma frente fria que avança pelo país causa instabilidade no tempo nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul neste sábado (10) e promete derrubar as temperaturas para os Dia das Mães nas regiões sul e sudeste.

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a queda na temperatura deve provocar geadas na madrugada entre sábado e domingo nas regiões serrana do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Chuvas de moderadas a intensas devem cair em São Paulo e no Rio de Janeiro. A previsão é que as precipitações fiquem entre 30mm e 50mm no domingo (11). Ainda assim, as temperaturas não devem cair tanto. Na capital paulista, a máxima de chegar a 29 C, enquanto no Rio a máxima pode atingir os 36 C.

O tempo ruim deve se espalhar pelo litoral até o Maranhão, e pancadas isoladas também são esperadas no norte da região Norte, nos estados do Pará, Amapá, Amazonas e de Roraima.




Fonte: Agência Brasil

IBGE lança mapa-múndi invertido, com o Sul no topo


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou nesta semana o mapa-múndi oficial, de forma invertida, que novamente tem o Brasil no centro do mundo, mas que agora traz uma nova perspectiva em que o Sul aparece no topo da imagem.

O lançamento é feito no ano em que o país tem ativa participação nos debates e perspectivas do Sul Global e do cenário mundial, em especial por presidir o Brics e o Mercosul e receber a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, na Amazônia.

O novo mapa também traz destacados os países que compõe o Brics, o Mercosul, os países de língua portuguesa e do bioma amazônico, a cidade do Rio de Janeiro, como capital do Brics, a cidade de Belém, como capital da COP30, e o Ceará como sede do Triplo Fórum Internacional da Governança do Sul Global – Novos Indicadores e Temas Estratégicos para o Desenvolvimento e a Sustentabilidade na Era Digital, em junho, em Fortaleza.

Em vídeo publicado no site do IBGE, a diretora de Geociências do instituto, Maria do Carmo Dias Bueno, afirmou que o Sul apontado para cima e o Norte apontado para baixo do mapa não constituem erro ou engano.

“Foi proposital. Afinal de contas, o apontamento dos pontos cardeais é uma convenção cartográfica e não se constitui em um erro técnico. Aliás, alguns estudiosos apontam essa questão da convenção norte-sul com tendo alguns vieses. Por exemplo, temos um viés sutil em que algumas pessoas, ao verem um mapa, com o Norte apontado para cima, atribuem questões boas e valores mais ricos a coisas que estão localizadas na parte superior do mapa. E, ao mesmo tempo atribuem coisas ruins, valores mais baixos de imóveis, e pobreza, a coisas relacionadas no mapa na porção inferior, ou seja, na porção sul do mapa”, afirmou Maria.

Segundo a diretora, há também um viés político relacionado a essa questão Norte-Sul.

“Como historicamente os primeiros mapas foram feitos majoritariamente por europeus, atribui-se a colocação da Europa na parte superior do mapa como uma questão de reforço da superioridade da Europa em relação aos países localizados na porção sul. Isso, na verdade, trouxe protestos dos países do Sul, principalmente dos latino-americanos. Gostaria de enfatizar que mapas são representações do mundo real. Os mapas podem ser bonitos ou feios, podem ser simples ou mais complexos, mas são sempre representações”, disse.

O diretor da Associação dos Geógrafos Brasileiros Seção Rio de Janeiro e professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Luis Henrique Leandro Ribeiro, lembrou que mapas são representações que expressam convenções, valores, visões de mundo e projetos.

“O mapa-múndi é, assim como outros, uma representação do mundo. Mapas também são convenções validadas pelos usos e aceitação de sociedades científicas, instituições de ensino, agências e órgãos públicos e privados, sobretudo, estatais. No Brasil, o IBGE é a instituição de maior referência e prestígio na elaboração e difusão de mapas. Recentemente publicou duas novas versões do mapa-múndi, uma com o Brasil no centro do mapa, e outra com essa mesma representação só que ‘invertida’. Ambos mantêm as projeções cartográficas usuais, mas adotando perspectivas distintas”, afirmou o geógrafo.

De acordo com Ribeiro, o fato de destacar cidades brasileiras com importantes eventos internacionais valoriza a posição e inserção altivas e de destaque do Brasil no cenário internacional e no contexto geopolítico atual de um mundo em ebulição, crises e transformações com disputas e, também, diálogos e concertações rumo a novos arranjos e relações internacionais.

“O mapa-múndi assim projetado gerou discussões e reflexões, mas, principalmente, ‘desnaturalizou’ e ‘descentrou’ perspectivas universalizantes e consagradas a partir de centros e países até então dominantes, abrindo novos caminhos para o Brasil e para o mundo a partir de novas representações e interesses geopolíticos. Afinal o centro do mundo está em todo lugar e, como nos ensinou o geógrafo Milton Santos, cada lugar é o mundo à sua maneira”, disse o pesquisador.

O professor Rafael Sânzio Araújo dos Anjos, do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB), destaca que há 20 anos pesquisadores brasileiros já realizam mapas com essa nova perspectiva. “Em 2007, eu publiquei este mesmo mapa-múndi do IBGE pela UnB com um mundo de cabeça para baixo e um mundo com o Brasil no centro. A primeira constatação é que o IBGE está em um tempo, mas as pesquisas brasileiras estão em outro tempo. Isso mostra um gap. Esse mapa serve para a gente melhorar a nossa autoestima, é a autoestima da nação. O IBGE, ao trazer esta cartografia do Brasil no centro do mundo, mexendo no eixo Sul-Norte, é que dá oficialidade. Esse é o grande trunfo de uma publicação como essa, é oficial”, disse o cartógrafo.

O professor da UnB ressalta que as representações gráficas do mundo a partir do século 16 vão mostrar visões de terras conhecidas com os mapas orientados para o Polo Norte. “Os europeus nos impuseram o mapa a partir do século 16. A Europa moderna começa a fortalecer os seus estados. É quando ela inicia a diáspora e vai enriquecer com a África, com a América, com o Novo Mundo, e o Brasil está nesse bojo. As imagens aparecem como verdade. Desmistificar esse processo é muito importante. Uma boa maneira de fazer é mostrar uma outra imagem”, afirmou.

O professor do Instituto de Geografia da Uerj Leandro Andrei Beser lembra que mapas são meios de comunicação e que, ao longo da história, várias convenções foram tomadas como verdades ou como padrão e foram pouco questionadas. “Quando surge esse mapa-múndi clássico, em que a Europa está no centro, é um contexto em que a gente está falando da expansão marítima europeia com suas invasões. Ele tem o intuito de orientar as navegações. É uma visão eurocêntrica. Quando a gente consolida o sistema de ensino no século 19 e século 20, a gente acaba adotando esse mapa como padrão e ele acaba sendo inserido no sistema escolar. Virou o mapa oficial. Só que não há apenas essa maneira de representar o mundo. Essas escolhas dependem da visão de mundo do cartógrafo”, disse o pesquisador.

O cartógrafo destaca que o novo mapa-múndi quebra a visão colonialista e traz outras possibilidades de visão do mundo, levando para o mapa aqueles que foram invisibilizados, os países do Sul à margem do centro. “Esse mapa quer comunicar que o Brasil está hoje no centro do mundo em relação a inúmeras questões como líder do Brics, líder do Mercosul”, afirmou Beser.

Membros da Diretoria Executiva Nacional da Associação de Geógrafas e Geógrafos Brasileiros, o doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Estadual Paulista (FCT/Unesp) João Pedro Pereira Caetano de Lima e a pós-doutoranda em Geografia na FCT/Unesp Carolina Russo Simon dizem que é mais comum encontrar mapas mundiais na projeção de Mercator e Robinson. A projeção de Mercator foi elaborada em 1569 por Gerardus Mercator (1512-1594) e a de Robinson foi elaborada em 1963 por Arthur Robinson.

Segundo os pesquisadores, a primeira projeção feita por Mercator foi elaborada essencialmente para apoiar a navegação marítima na época das grandes navegações, sendo apoio como mapa náutico. Porém, distorce as dimensões quanto mais longe for da linha do Equador. Por exemplo, basta observar que, em mapas com esta projeção, a Groenlândia parece ter maior tamanho do que o continente africano, o que não é verdade. Já a projeção de Robinson foi elaborada para minimizar essas distorções mencionadas, apresentando um maior equilíbrio entre a forma e área dos continentes. Essa é inclusive, uma projeção muito utilizada em mapas mundiais para livros didáticos.

“A projeção escolhida pelo IBGE para seu novo mapa-múndi é a projeção de ECKERT III, apresentada por Max Eckert-Greifendorff (1868-1938) em 1906, uma projeção que faz parte de um conjunto de seis projeções. É esta que está sendo utilizada pelo IBGE, uma projeção cartográfica adequada para mapeamento temático do mundo, pois representa o globo de forma mais equilibrada, distorcendo áreas polares. Ressaltamos que toda e qualquer projeção cartográfica possuirá distorções e não conseguirá ser completamente fiel à forma dos países e às áreas de oceanos e continentes. Isto porque a Terra possui um formato geoidal (arredondado, esférico, ovalado) e, portanto, representar o equivalente a uma esfera em um plano reto necessitará de ajustes”, explicaram os geógrafos.

Lima e Carolina destacaram que a principal vantagem deste novo mapa do IBGE é deslocar o pensamento e centralizar a América Latina, na figura do Brasil, para reforçar um posicionamento político de liderança. “A orientação “de ponta-cabeça” é uma inspiração do mapa do artista uruguaio Joaquin Torres García (1874-1949), que criou um desenho de um mapa chamado ‘A América Invertida’, em 1943. Nesta obra de arte, ele propõe exatamente repensar a necessidade de ‘sulear’ nossa forma de pensar o mundo, como nos ensinou o educador Paulo Freire. Cabe lembrar que o planeta Terra não possui nenhuma orientação definida. Este mapa do IBGE nos provoca a pensar: por que é convencional o Norte estar na parte superior? Essa não é uma reposta simples”, argumentam os pesquisadores.

Os membros da Associação de Geógrafas e Geógrafos Brasileiros citam duas desvantagens desse novo mapa do IBGE. “O primeiro é sobre a capacidade de entendimento do mapa por parte dos leitores, uma vez que estamos habituados com o Norte para cima e a Europa ao centro. Em segundo, precisamos lembrar que mapas são ‘ferramentas dotadas de poder e são capazes de (re)escrever ordens mundiais’, para citar o geógrafo Yves Lacoste. Assim, entendendo a capacidade discursiva dos mapas, algumas lideranças podem não gostar desta representação, exatamente por expressar uma crítica a esta história colonial que sentimos na América Latina e, em especial, no Brasil”, ponderaram.

De acordo com Lima e Carolina, todo mapa reflete o interesse político de seu mapeador. Eles destacaram que os mapas não são neutros, são fruto da conjuntura política, econômica e social. Além disso, ressaltaram que os mapas marcam interesses hegemônicos para dominação e exploração de nações e, atualmente estas “peças de linguagem” estão sendo utilizadas como instrumentos de luta e de transformação social, transformando o ato de simplesmente se localizar geograficamente, para se posicionar no mundo. “Dessa forma, fica evidente que o novo momento histórico que vivemos e a negação da ciência com afirmações terraplanistas e de ataque à soberania nacional fazem com que o IBGE posicione o Brasil como protagonista deste novo mundo.”




Fonte: Agência Brasil

Passageiro de ônibus interestadual é preso com mais de 2kg de skunk em Presidente Epitácio




Apreensão ocorreu na Rodovia Raposo Tavares (SP-270). Homem foi preso por tráfico de drogas em Presidente Epitácio (SP)
Polícia Rodoviária
Um homem, de 27 anos, foi preso em flagrante, nesta sexta-feira (9), no km 648 da Rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Presidente Epitácio (SP).
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De acordo com a Polícia Militar Rodoviária, durante uma operação, uma equipe abordou um ônibus de linha interestadual, com intinerário Campo Grande (MS) — São Paulo (SP), transportando 16 passageiros.
Durante a vistoria, os militares encontraram na mochila de um dos passageiros, morador de Campo Grande, três pacotes de skunk, que totalizaram 2,060 quilos do entorpecente.
A ocorrência foi apresentada na Polícia Federal, em Presidente Prudente (SP), onde a droga foi apreendida e o homem permaneceu à disposição da Justiça.
Ainda conforme os policiais, o envolvido possui antecedentes criminais por tráfico de drogas no Estado do Mato Grosso do Sul.

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Fonte: G1

Grupos terapêuticos ajudam mães a lidar com “dor inominável” do luto 


Em 2011, Márcia Noleto perdeu a filha Mariana em um acidente de helicóptero. Desde então, o luto passou a fazer parte da sua vida não apenas como experiência pessoal, mas como objeto de estudo e foco de trabalho.

A fundadora do grupo Mães sem Nome estudou psicologia para compreender melhor as múltiplas experiências de luto e como é possível continuar vivendo e reencontrar a alegria, mesmo que a ausência nunca possa ser preenchida. Em 14 anos, o grupo já ajudou milhares de mães em luto e alguns desses relatos se juntam à pesquisa de mestrado de Márcia, em seu recém-lançado livro Luto Materno.

Atualmente, mais de 20 psicólogas atendem voluntariamente mães de todo o Brasil que se reúnem em grupos virtuais e presenciais, para compartilhar suas experiências e se apoiar durante esse processo tão unicamente doloroso. No Dia das Mães, elas se revezam em esquema de plantão para dar auxílio individual àquelas que mais precisam.

Em entrevista à Agência Brasil, Márcia explica que esta é uma data de grande vulnerabilidade para essas mulheres, que não deixaram de ser mães, mas infelizmente não podem mais celebrar a data ao lado dos filhos que partiram. Mas ela também deixa uma mensagem de esperança: “a mãe que perde um filho jamais vai conseguir superar isso. Mas ela pode fazer um movimento de realinhamento com a vida”.


Brasília (DF) 09/05/2025 -  Grupos terapêuticos ajudam mães a lidar com
Brasília (DF) 09/05/2025 -  Grupos terapêuticos ajudam mães a lidar com

Após perder a filha, Márcia Noleto fundou o grupo Mães sem Nome e estudou psicologia Foto: Fernando Rabelo

Agência Brasil: Como o grupo começou?
Márcia Noleto: Eu tinha uma outra vida. Eu fui secretária do Consulado Geral da França durante 20 anos, até que aconteceu o acidente, em 2011. Um pouco antes, a Mariana tinha me ensinado a usar o Facebook, então eu pedi orações por ela no meu perfil e foi uma coisa surpreendente porque muitas mulheres do Brasil, e até de fora do Brasil, começaram a me mandar mensagens de esperança e de fé. E aí eu comecei a me comunicar com essas mulheres e muitas delas já tinham perdido filhos também. E naturalmente foi se formando um grupo de mulheres no Facebook que perderam filhos. Então, eu pensei assim: ‘Meu Deus, que universo é esse, que sofrimento é esse? É uma dor que não tem fundo, né? Ela é imensurável.’

E aí eu decidi estudar psicologia e eu já entrei com isso na cabeça: Eu quero fazer um trabalho nesse sentido. Porque é uma população que não tem amparo no poder público, e é também uma questão social enorme. Quantas mulheres ficam desempregadas depois que perdem seus filhos? Quantas mulheres precisam de auxílio saúde pela Previdência Social? Porque você tem direito a no máximo uma semana de luto. Isso se você tiver uma proteção trabalhista. E aí eu tive a ideia de fazer esses grupos terapêuticos, com a ajuda de duas psicólogas.

Agência Brasil: E por que o grupo se chama Mães sem Nome?
Márcia: Esse nome faz referência a esse fato da gente não ter uma denominação, né? Porque existe a viúva, o órfão…  mas no dicionário não tem nome para essa dor, é uma falta de lugar. Fica uma sensação de estar entre dois mundos. E essa mulher fica mesmo com uma sensação de estar entre dois mundos, presa entre a vida e a morte. O tempo não faz mais sentido: nem o passado, nem o presente, nem o futuro.

Quem passa por uma circunstância como essa, fica com o sentido da vida completamente esvaziado, então, o presente não faz mais sentido. Mas também não faz sentido você fazer planos para o futuro, porque você já perdeu tudo que você não podia perder. E a gente vai para o passado para rememorar, para sentir saudade, mas o passado já passou. Então, você fica em lugar nenhum. E realmente não tem nome para essa dor. Ela fica realmente no lugar do inominável.

Agência Brasil: Considerando o tamanho dessa dor, as mães em luto sentem que as outras pessoas não compreendem ou que, às vezes, não estão dispostas a ouvir sobre o que elas estão passando?
Márcia: Totalmente. É uma dor que as pessoas não estão preparadas para enfrentar na família, no meio social, no trabalho… não estão. As pessoas não sabem o que vão te dizer. Porque sentem medo também. Todo mundo que tem um filho, quando vê uma mãe perder seu filho diz assim: ‘Deus me livre’. Então, as pessoas se afastam de você, porque elas ficam desconfortáveis do seu lado. E às vezes as pessoas que chegam junto ficam durante um certo tempo, mas depois elas vão embora. E a dor é sua e você tem que continuar lidando com ela, sabe?

E quando eu escrevi esse livro (Luto Materno), a minha intenção também é que os psicólogos leiam. Porque eu recebo muitas mães que disseram para mim que foram em psicólogos, mas eles disseram: ‘Isso vai passar, você vai se cuidar e ficar melhor’. E não era isso que elas queriam ouvir, entende? A palavra “superação”, por exemplo, é uma palavra condenada. Horrível! A mãe que perde um filho jamais vai conseguir superar isso. Mas ela pode fazer um movimento de realinhamento com a vid, de rearticulação com a vida.

Agência Brasil: Mesmo que seja um sofrimento muito grande, você defende muito enfaticamente que o luto não seja tratado como doença?
Márcia: Sim! Hoje em dia você tem no DSM, que é um manual onde os médicos listam todas as doenças, o luto é considerado como um transtorno. E isso é uma coisa muito complicada, porque muitos psiquiatras, quando vão atender essas mulheres, entendem que elas precisam sempre ser medicadas. E eu afirmo com todas as letras que não. A dor do luto é uma dor existencial. A mulher está profundamente triste, mas ela não está deprimida clinicamente.

Se essa mulher já sofria de depressão antes da morte do filho, ela pode sim ter essa depressão potencializada, mas isso não quer dizer que toda mãe que perde o filho vai desencadear uma depressão. Eu não considero transtorno, e também não considero nenhum desvio, nenhuma inadequação. Pelo contrário. Então a gente tem que escutar essa mulher, porque também é uma coisa muito singular. Se você colocar duas mães na minha frente que tenham perdido os filhos de formas similares, mesmo assim, o luto não vai ser idêntico. Eu destaco bastante isso no meu livro.

Agência Brasil: Além de reunir esses relatos, você também traz uma abordagem filosófica e histórica do luto?
Márcia: Isso! Esse livro, na verdade, é uma tese de mestrado. Depois da psicologia, eu fiz uma formação em fenomenologia, e essa abordagem traz justamente esse conceito, de que a gente não vê o transtorno, a gente vê o sofrimento. Então, eu fui lá atrás no Freud, que é uma das primeiras pessoas que vai falar de luto, e aí eu vou no Heidegger, que é um filósofo que está na base da abordagem fenomenológica, e ele diz que a gente é um ser jogado nesse mundo aqui e que a gente tem que lidar com a nossa finitude.

Mas como a gente lida? Se esquivando da morte. Então, qual é a saída? Eu trago como uma das possibilidades de tratamento a clínica compartilhada em grupo.

Agência Brasil: Que se relaciona com o trabalho que vocês fazem no Mães sem Nome, né? Como o grupo funciona?
Márcia: A gente tem uma página no Instagram (@maessemnome2023), e a mulher que precisa de ajuda, entra na página e deixa um recado lá. Aí a coordenadora da rede de psicólogas pega o nome dessa mãe e distribui para alguma psicóloga voluntária. Elas fazem uma entrevista de triagem, que é uma entrevista preliminar para entender como é que essa mãe está se sentindo, e se for uma história muito difícil, a gente propõe uma terapia em algumas sessões, para dar acolhida e perceber se ela vai estar apta para escutar outras histórias. Quando a gente percebe que sim, ela começa a participar. Nós temos dois encontros online nas quartas e nas sextas, e aos sábados aqui no consultório presencial.

O grupo é aberto, isso quer dizer que qualquer mulher pode entrar e sair a hora que quiser. Você pode entrar e ficar com a sua câmera fechada. Se você não está a fim de falar nesse dia, você pode só ouvir. E ela participa pelo tempo que quiser. O importante é elas saberem que sempre que quiserem e precisarem, a gente está ali. Para o livro, eu transcrevi alguns encontros e fui pensando algumas palavras que se repetiram. Mas com muito cuidado, porque eu não queria que essas palavras fossem entendidas como características do luto materno. Não tem como padronizar.

Agência Brasil: Datas comemorativas de maneira geral costumam ser complicadas para as pessoas em luto, mas o Dia das Mães é um desafio maior para essas mulheres?
Márcia: Tem um complicador a mais, sim. A gente não deixa de ser mãe, mesmo que perca o único filho que tem. E essa data lembra que a gente é mãe. E lembra que a gente perdeu esse filho. E para algumas mães que ainda têm filhos vivos, essa mulher fica dividida: eu tenho aqui uma vida para viver, eu tenho um filho para cuidar, mas eu perdi um outro filhinho.

Então assim, eu sei que é uma data comercial, mas ela toca numa ferida muito exposta. Por isso que a gente faz plantão psicológico para ouvi-las. Para que elas possam falar sobre isso e voltar para as suas casas e passar o dia bem com o filho que ela tem aqui nesse mundo, e para que ela possa em algum momento também fazer uma prece, se reconectar, mandar boas energias universo, enfim, pra que ela possa encontrar um lugar que seja confortável para ela nesse dia.

Agência Brasil: E quem está ao redor dessas mulheres, como pode ajudar?
Márcia: Estar presente, mas verdadeiramente presente. Eu acho que a gente precisa se conectar verdadeiramente com as pessoas, olhar no olho, abraçar, aquele abraço duradouro, aquele amor sincero, aquela energia boa. Você não precisa estar falando sobre o assunto, mas você pode estar presente e mostrar para essa pessoa que a vida tem outros prazeres, como sentar numa mesa, almoçar junto com a família. E se algo for dito, ou for transmitido no olhar… deixa dizer, se a vontade de chorar vier, deixa chorar e acolher essa dor. Entender que ela existe, mas a gente pode viver com essa dor guardadinha em algum lugar do coração, uma um lugar que seja respeitoso, cuidadoso, como um relicário, sabe? E, ao mesmo tempo, que tem alegria também.

A gente pode ter as duas coisas ao mesmo tempo, sim. Tem como acomodar as duas coisas dentro de si em lugares diferentes, mas num universo só, que somos nós mesmos. Essa é a arte de viver. E as mulheres que precisarem de ajuda podem procurar o nosso Instagram, que a gente entra em contato, a gente acolhe e cuida.






Fonte: Agência Brasil

Há 35 anos, jornais e sites publicam conteúdo da Agência Brasil


São 5h no bairro Morada do Sol, em Rio Branco, e os trabalhos já começaram na redação do ac24horas, jornal online em atividade há 18 anos. A preparação da pauta diária inclui acessar a Agência Brasil e selecionar textos e fotos que possam ser publicados na editoria de notícias nacionais.

A editora-chefe do ac24 horas, Thais Farias, diz que os conteúdos facilitam o trabalho diário e garantem o acesso a uma informação segura.

“Nós acreditamos que as informações da Agência Brasil carregam credibilidade e funcionam como uma fonte de extrema confiança para os veículos nacionais, principalmente àqueles mais afastados dos grandes centros urbanos do país, onde checar in loco uma informação pode se tornar uma tarefa mais difícil e, por vezes, inviável”, diz a editora-chefe.

A linha editorial do ac24horas prioriza temas de política, mas tem espaço para assuntos diferentes como educação, cultura, entretenimento e cotidiano. Há correspondentes em outras regiões do estado, para além da capital. Os leitores englobam desde os mais jovens até os mais experientes.

Como agência de notícias pública, a Agência Brasil coloca os conteúdos produzidos pelos seus jornalistas à disposição de todos os veículos de comunicação. Não é preciso desembolsar um centavo diretamente. Como diz o texto do pop-up que surge toda vez que o conteúdo é copiado, “a republicação é gratuita desde que citada a fonte”.

Thais Farias sabe disso há pelo menos 13 anos, quando começou a trabalhar no jornalismo acreano. Ela está desde 2019 no ac24horas como repórter e há pouco mais de dois anos desempenha a função de editora-chefe do jornal.

“Comecei como estagiária no tradicional jornal impresso O Rio Branco. No mesmo grupo, passei pela TV, onde atuei com produção, reportagem e também tive o primeiro contato com o jornalismo online. Desde esse primeiro contato, há mais de dez anos, tive a Agência Brasil como uma fonte segura de informação e sempre acesso em busca de notícias com credibilidade”, diz Thais Farias.

A mais de 3 mil quilômetros dali, em Palmas, o Conexão Tocantins leva ao público informações do estado e regiões adjacentes. O site de notícias funciona desde 2007 e tem no conteúdo da Agência Brasil um complemento importante para abordar temas mais diversos. A repórter Nayara Pires confirma que o uso do material é frequente na redação do Conexão Tocantins.

“Utilizamos na íntegra ou editado em razão da relevância e interesse público da informação, como forma de complementar o menu editorial do site em áreas relevantes que impactam diretamente a vida do cidadão, como economia, política, saúde e cotidiano”, diz Nayara.

Dessa forma, veículos com poucos profissionais e uma redação mais enxuta conseguem ampliar o tipo de conteúdo que fornecem aos leitores, explica a repórter.

“A importância se dá pelo caráter informacional isento e que estabelece um equilíbrio sobre os ângulos e perspectivas no tratamento da informação, além de servir como suporte para os pequenos veículos que ainda não têm uma redação abrangente e consolidada cobrindo distintas editorias de interesse público”, destaca Nayara.


Brasília (DF) 09/05/2025 - Há 35 anos, jornais e sites do país publicam conteúdo da Agência Brasil. (Coordenador geral de conteúdo, Rodrigo Chagas). Foto Arquivo pessoal
Brasília (DF) 09/05/2025 - Há 35 anos, jornais e sites do país publicam conteúdo da Agência Brasil. (Coordenador geral de conteúdo, Rodrigo Chagas). Foto Arquivo pessoal

Coordenador-geral de Conteúdo do Brasil de Fato, Rodrigo Chagas, diz que Agência Brasil ajuda a combater “desertos informacionais” – Foto: Arquivo pessoal

Com sede em São Paulo, o site de notícias Brasil de Fato republica até três textos por dia da Agência Brasil. Segundo o coordenador-geral de Conteúdo, Rodrigo Chagas, são priorizadas coberturas factuais e efemérides. Além de aumentar o volume de notícias, o complemento ajuda a liberar os repórteres para trabalhar em produções autorais.

“A gente tem uma salvaguarda, um chão muito bem construído por agências estaduais e nacionais, como a Agência Brasil, de combate aos desertos informacionais, aos vazios de notícias, que sabemos quão prejudiciais podem ser para a democracia”, diz Rodrigo Chagas.

“Em vez de só manter a Agência Brasil, precisamos que ela esteja forte, que tenha os trabalhadores necessários para dar conta do seu papel. Uma equipe remunerada adequadamente e em quantidade necessária”, complementa.


Brasília (DF) 09/05/2025 - Há 35 anos, jornais e sites do país publicam conteúdo da Agência Brasil. (Márcia Dias, editora do PB Agora). Foto Arquivo pessoal
Brasília (DF) 09/05/2025 - Há 35 anos, jornais e sites do país publicam conteúdo da Agência Brasil. (Márcia Dias, editora do PB Agora). Foto Arquivo pessoal

Márcia Dias, editora do PB Agora, diz que a utilização de conteúdos da Agência Brasil permite a ampliação da cobertura do site – Foto: Arquivo pessoal

A Agência Brasil também contribui para um número expressivo de veículos informativos do Nordeste. É o caso do PB Agora, site de notícias da Paraíba, criado em 2009, que tem uma média de 3 milhões de visualizações mensais.

Estender os limites da cobertura diária para além das divisas paraibanas é possível com o apoio da agência pública de notícias, como explica Márcia Dias, editora do PB Agora.

“Utilizamos o conteúdo da Agência Brasil por ser uma fonte oficial, confiável e com cobertura dos principais acontecimentos do país. Além disso, a permissão da repercussão dos textos e fotografias de qualidade em nosso portal nos dá a possibilidade de ampliar a cobertura jornalística no PB Agora, especialmente em temas de relevância nacional que, pela nossa localização, não conseguiríamos cobrir diretamente por limitações logísticas”, diz Márcia.

Comunicação antirracista

Além do alcance geográfico amplo, ao atender veículos de Norte a Sul do país, a Agência Brasil tem entrada em mídias que se posicionam diretamente em defesa da diversidade e da democracia plena.


Brasília (DF), 08/05/2025 - Equipe de redação do Notícia Preta. 
Há 35 anos, jornais e sites do país publicam conteúdo da Agência Brasil.
Foto: TVT News
Brasília (DF), 08/05/2025 - Equipe de redação do Notícia Preta. 
Há 35 anos, jornais e sites do país publicam conteúdo da Agência Brasil.
Foto: TVT News

Equipe de redação do Notícia Preta – Foto: Arquivo do site

É o caso do Notícia Preta, site lançado em 2018 pela jornalista Thais Bernardes. Ela já tinha experiência em outras empresas de mídia tradicionais e decidiu investir em um projeto editorial de combate às desigualdades, com foco antirracista.

A equipe atual tem 23 pessoas e participa também da Escola de Comunicação Antirracista, plataforma de ensino online criada em agosto de 2023. Além da produção própria, o Notícia Preta reverbera alguns dos conteúdos produzido pela Agência Brasil.

“Para uma mídia independente como a nossa, que ainda não conta com uma estrutura de cobertura nacional como a dos grandes conglomerados, a existência de uma agência pública como a Agência Brasil é essencial. Ela nos oferece acesso gratuito a conteúdos de interesse público, com credibilidade, o que fortalece a pluralidade de vozes na imprensa brasileira”, diz Thais Bernardes.

A diretora do Notícia Preta entende uma agência pública de notícias como uma conquista democrática, que permite ao site ter uma cobertura mais completa, coerente com a linha editorial adotada, e o apoio de uma estrutura com informação gratuita e confiável.

“Para veículos como o Notícia Preta, que representam a mídia independente, periférica e antirracista, a Agência Brasil funciona como uma ponte de acesso à informação de qualidade, especialmente sobre o que acontece nas diferentes regiões do país”, diz Thais. “Num momento em que a desinformação cresce e a credibilidade da imprensa está em disputa, o fortalecimento de uma agência pública transparente, plural e acessível é mais necessário do que nunca”, complementa.


Brasília (DF) 09/05/2025 - Há 35 anos, jornais e sites do país publicam conteúdo da Agência Brasil. ( Apresentadores de um dos principais telejornais da TVT News). Foto Arquivo do site
Brasília (DF) 09/05/2025 - Há 35 anos, jornais e sites do país publicam conteúdo da Agência Brasil. ( Apresentadores de um dos principais telejornais da TVT News). Foto Arquivo do site

TVT News utiliza material da Agência Brasil para produzir seus conteúdos – Foto: Arquivo do site

Trabalhadores informados

Há 14 anos, a Rede TVT atua para promover o acesso à informação, à cultura e ao entretenimento, por meio de TV aberta, rádio e internet. Classificada como emissora educativa, ela é mantida pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e pelo Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região.

Conhecida por defender o interesse dos trabalhadores, dos movimentos sociais e das entidades sindicais, a TVT também utiliza os conteúdos produzidos pela Agência Brasil, como explica o presidente da empresa, Maurício Junior.

“A pauta da TVT começa pela leitura da Agência Brasil. No final de cada dia e no início de cada manhã, o editor do site TVT News e os produtores dos telejornais Jornal TVT News Primeira e Segunda edições olham o que foi publicado para definir o que será notícia para a TVT”, diz Maurício Júnior.

“A Agência Brasil é uma âncora de credibilidade. O material é muito importante para pautar o jornalismo em geral. O que é escolhido para ser publicado na Agência vai ser a pauta dos demais veículos de comunicação, o que é essencial para a democracia e para o jornalismo brasileiro”, complementa.

O presidente da TVT destaca como diferenciais o tipo de linguagem e a preocupação em tornar a informação mais acessível. “A Agência Brasil também traduz, para linguagem mais simples e direta, temas que são complicados, como ações ministeriais, lançamento de políticas públicas ou decisões judiciais. É a partir da abordagem da Agência Brasil que temos uma bússola de como falar para nosso público”, diz.

Em sentido semelhante, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) também republica em seu site oficial os conteúdos da Agência. Como principal organização sindical brasileira, a CUT está organizada em todos os 26 estados brasileiros e no Distrito Federal.

Segundo a secretária de Comunicação da entidade, Maria Aparecida Faria, textos e fotografias da Agência são utilizados com frequência, por dialogarem com muitas pautas de interesse da classe trabalhadora.

“Publicamos matérias que tenham como temas trabalho informal, regulamentação do trabalho das cuidadoras, direito das mulheres, combate à violência, ao racismo e outras formas de discriminação, como a LGBTfobia”, diz Maria.

“Matérias de serviço também são muito utilizadas. Como sacar o PIS, antecipação de décimo terceiro de aposentados, o que abre e fecha no feriado, entre tantas outras. Também divulgamos pautas sobre retomadas de políticas públicas, como Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida”, complementa.

Aperfeiçoamento

Assim como tem feito durante estes 35 anos, a Agência Brasil busca aperfeiçoar o trabalho que é feito a partir das redações do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, além de viagens para outras coberturas nacionais. Por isso, ouve com atenção e respeito as sugestões daqueles que ampliam o alcance das notícias produzidas por ela.

“A sugestão é que possam ter mais matérias direcionadas aos estados que compõem a região do Matopiba [Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia], principalmente o Tocantins”, pede Nayara Pires, do Conexão Tocantins.

“Sugerimos a publicação de notícias mais focadas na Região Norte do Brasil. Percebemos que as matérias publicadas são concentradas mais na Região Sudeste e Sul, e ficamos um pouco ‘órfãos’ de assuntos relacionados aos estados do Norte, aparecendo apenas em casos extremos, como crises climáticas”, diz Thais Farias, do ac24horas.

“Acredito que ainda há espaço para avançar em alguns pontos importantes. Uma das sugestões que deixo, com todo respeito e espírito construtivo, é que haja uma atenção maior à linguagem utilizada nos textos, especialmente em coberturas sobre segurança pública ou Justiça. Termos como ‘antecedentes criminais’, por exemplo, muitas vezes reforçam estigmas sobre determinados grupos sociais, principalmente a juventude negra e periférica, e não contribuem para uma narrativa antirracista”, diz Thais Bernardes, do Notícia Preta.




Fonte: Agência Brasil

Agência Brasil: 35 anos com informação de qualidade para o cidadão


 A Agência Brasil completa, neste sábado (10), 35 anos como a principal agência pública de notícias do país, desempenhando um papel fundamental na promoção da cidadania, na cobertura de políticas públicas e na garantia do direito à informação. Com uma trajetória marcada pelo compromisso com a transparência e a democratização do acesso às notícias, a Agência tem sido uma fonte de informações confiáveis e de qualidade, abastecendo jornais, rádios e veículos de comunicação de todo o país e do mundo. 

Diariamente, a Agência Brasil produz mais de 100 notícias e fotos, distribuídas de forma gratuita. Também possui um canal de distribuição de matérias por WhatsApp e uma comunidade na mesma rede social onde são disponibilizados três boletins diários de segunda a sexta-feira. As principais matérias do dia também são traduzidas para o inglês e o espanhol, ampliando o alcance e o público leitor da agência pública.

Em março de 2025, a Agência Brasil atingiu mais de 5,5 milhões de usuários e mais de 9,4 milhões visualizações em sua própria página. Matérias de economia, educação, direitos humanos e saúde estão sempre as mais procuradas no site cuja audiência é bastante jovem – 36% têm entre 25 e 34 anos e 20%, de 18 a 24 anos.

Além disso, o material é reproduzido em centenas de sites, jornais e outros veículos de imprensa. Apenas em abril, mais de 10,8 mil sites utilizaram as matérias da Agência Brasil.

Outra importante vertente da Agência Brasil está na oferta de conteúdo de credibilidade para livros didáticos. Ao longo de 2024, mais de 160 obras educacionais incorporaram textos e áudios produzidos pelo veículo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), reforçando o papel do jornalismo público na disseminação do conhecimento.

Para atender melhor os usuários e ampliar as funcionalidades para acesso via mobile, o site da Agência Brasil passou por uma reformulação de layout em setembro de 2024. O intuito da mudança foi facilitar o acesso às informações, melhorar a leitura e o compartilhamento das notícias, além de oferecer mais conteúdo para o internauta. Também foram lançadas duas novas editorias: meio ambiente e cultura, alinhadas com a estratégia editorial voltada para temáticas urgentes como as mudanças climáticas.


Brasília (DF), 09/05/2025 - Diretora de Jornalismo  de jornalismo, Cidinha Matos, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Brasília (DF), 09/05/2025 - Diretora de Jornalismo  de jornalismo, Cidinha Matos, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A diretora de Jornalismo da EBC, Cidinha Matos, afirma que uma agência de comunicação pública é vital para a democracia. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Na avaliação da diretora de Jornalismo da EBC, Cidinha Matos, uma agência de comunicação pública como a Agência Brasil é vital para a democracia.

“A Agência Brasil desempenha um papel essencial na comunicação pública brasileira ao atuar como uma fonte confiável de informações, promovendo a transparência, democratizando o acesso às notícias e fortalecendo a cidadania. Uma agência de comunicação pública forte contribui para uma sociedade mais bem informada, participativa e democrática.”

Já para o presidente da EBC, Jean Lima, a Agência Brasil é um serviço relevante para a população brasileira, pelo seu alcance e gratuidade.

“É uma agência que fornece informações verídicas, checadas. Em tempos de desinformação isso é muito importante”, afirmou.

“A agência é reconhecida pelos diversos prêmios que já ganhou, tanto no jornalismo quanto no fotojornalismo. Então, é muito importante a gente comemorar os 35 anos, reconhecer o trabalho valoroso de todos os empregados e empregadas que já passaram pela agência. É um veículo que precisa ser alçado e reconhecido pelos serviços que presta à sociedade brasileira.”

Um pouco de história


Brasília (DF), 09/05/2025 - Carlos Zarur, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Brasília (DF), 09/05/2025 - Carlos Zarur, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Em 1998, o jornalista Carlos Zarur assume a presidência da Radiobrás, a convite do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

A Agência Brasil surge no contexto de redemocratização do Brasil em 1990. Mas foi durante a gestão de Carlos Zarur, iniciada em 1998, que a Radiobrás – empresa que, posteriormente, passou a se chamar Empresa Brasil de Comunicação (EBC) – deu o primeiro passo na busca pela independência editorial necessária para uma agência pública de notícias.

“Quando fui convidado para presidir a empresa pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, deixei claro que só aceitaria o convite se tivesse autonomia para indicar todos diretores, sem indicações políticas”, lembrou Zarur, que, na época do convite, era um dos jornalistas do quadro da Radiobrás.

Para chefiar a Agência Brasil, Zarur escalou, como diretora de notícias, a jornalista Marizete Mundim. “Quando eu cheguei na Radiobrás, a agência de notícias praticamente não existia. Não tinha nenhuma relevância”, relembrou Marizete.


Brasília (DF), 09/05/2025 - Marizete Mundim, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Marizete Mundim/Arquivo pessoal
Brasília (DF), 09/05/2025 - Marizete Mundim, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Marizete Mundim/Arquivo pessoal

Marizete Mundim chefiou a Agência Brasil como diretora de notícias da Radiobrás. Foto: Marizete Mundim/Arquivo pessoal

“Para se ter uma ideia, na época, o apelido da Radiobrás era Titanic. Por aí, você tira uma ideia [da situação]. Ela estava afundando, restrita a um galpão. Tudo estava sucateado, com suas equipes desestimuladas”, acrescenta a ex-diretora de notícias.

Segundo Marizete, a aproximação de Zarur com Ana Tavares, então responsável pela comunicação social no governo Fernando Henrique Cardoso, foi crucial para começar “a grande revolução dentro da Radiobrás”.

“Para começar, adotamos um novo conceito, não de agência de governo, mas de agência pública de notícias”, afirmou.

“Nossa referência, para fazermos uma comunicação pública de qualidade, era a BBC de Londres que, a meu ver, é a melhor do mundo. Claro que a gente estava muito longe disso, mas era nosso espelho; nosso molde”, explicou.

A ideia era ampliar horizontes, em vez de fazer apenas matérias positivas para o governo. “Não é falar bem nem falar mal, mas falar os fatos. Claro que isso é um processo lento, porque havia muita resistência”, acrescentou.

Novas tecnologias

Segundo Marizete Mundim, o nascimento da Agência Brasil coincidiu com alguns fatos relevantes para o jornalismo. Com as novas tecnologias que surgiam, as agências de notícias começavam a produzir cada vez mais notícias em tempo real.

“Adquirimos computadores novos para esta que foi uma transição feita a duras penas. Foi uma epopeia, mas conseguimos colocar a Agência Brasil em tempo real”, acrescentou ao citar, também, a melhoria de infraestrutura proporcionada pela mudança da sede da empresa para um prédio mais bem estruturado.

Tudo isso com pouca verba, como lembra o, à época, presidente da empresa. “Tudo que precisávamos, em termos de equipamentos e infraestrutura, era criado e montado pela própria equipe da casa, que vestiu a camisa da empresa. Foi uma verdadeira ginástica financeira”, detalhou Zarur.

Segundo Zarur, o fato de o material ser apresentado em tempo real garantia uma independência editorial que até então não existia na empresa.

“A Agência era a cabeça da Radiobrás; o comando de todo conteúdo jornalístico a ser utilizado pela TV e pelas rádios. Tudo em tempo real”, disse Zarur.

“Ao dar de forma quase imediata a notícia, o tempo real dificultava qualquer censura prévia. As reclamações só vinham após a veiculação da notícia”, completou.

Foco no cidadão

Em 2003, no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o jornalista Eugênio Bucci assumiu a presidência da Radiobrás com o intuito de ampliar o alcance e a relevância dos veículos públicos. Mais do que noticiar o que acontecia no governo, a nova gestão coloca o cidadão no centro da pauta jornalística da empresa.


Brasília (DF), 09/05/2025 - jornalista Eugênio Bucci, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Jose Cruz/Agência Brasil
Brasília (DF), 09/05/2025 - jornalista Eugênio Bucci, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

O jornalista Eugênio Bucci assumiu a presidência da Radiobrás em 2003. Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

“Quando cheguei à Radiobrás, a Agência Brasil já existia. O que fizemos foi dar um impulso muito grande para ela; uma nova configuração”, disse.

“Procuramos fazer com que a Agência Brasil passasse a fornecer informação de qualidade para todos os veículos de comunicação no Brasil, como faziam as agências privadas e comerciais. A diferença é que enquanto elas cobravam pelo serviço, nós o oferecíamos de graça”, explicou Bucci referindo-se à capilaridade das notícias produzidas pela Agência, muito republicadas por outros veículos jornalísticos, em especial do interior do país.

O quadro de empregados aumentou significativamente por meio de concurso público, possibilitando a ampliação de coberturas, dando a elas foco especial à sociedade civil. “Reconfiguramos o índice de assuntos para que ele contemplasse mais aquilo que é relevante para a cidadania”, disse Bucci.

“Nossa intenção era subir o patamar básico de informações disponíveis para [abastecer] todos os veículos jornalísticos e de comunicação no país. Com isso, o material da Agência Brasil passou a ser usado em grande escala”, completou.

Interesse público


Brasília (DF), 09/05/2025 - Rodrigo Savazoni, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Instituto Procomum/Divulgação
Brasília (DF), 09/05/2025 - Rodrigo Savazoni, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Instituto Procomum/Divulgação

Editor chefe da Agência Brasil de 2004 a 2007, Rodrigo Savazoni diz que “o dono da comunicação pública é o cidadão” – Instituto Procomum/Divulgação

Ele lembra que, entre os critérios para a produção de notícias estava o interesse público, “mesmo quando essas notícias contrariassem alguns interesses legítimos do governo”. “Isso aconteceu na cobertura das tropas brasileiras no Haiti e em alguns episódios da cobertura do caso do mensalão”, acrescentou.

Editor Executivo e editor chefe da Agência Brasil, no período entre 2004 e 2007, Rodrigo Savazoni detalha o plano editorial que norteava o veículo na época. A ideia, segundo ele, era cobrir o espaço público político brasileiro, a partir de um triângulo formado pelas três dimensões da República: governo, estado e cidadania, o que inclui os movimentos sociais.

“Também atuamos fortemente na modernização tecnológica, num momento em que a internet era ainda incipiente mas se projetava como a principal mídia do século 21. Fomos pioneiros na operação multimídia no Brasil, criando uma área específica para o desenvolvimento de narrativas interativas, que foi responsável por reportagens especiais fascinantes”.

Credibilidade

O volume de produção jornalística aumentou significativamente. “Chegamos a distribuir mais de 200 notícias por dia, para veículos de todo o país. Tudo aberto, livre e gratuito. O crescimento exponencial do uso de nossos materiais, inclusive por veículos da grande imprensa, se deu por conta da crescente credibilidade da agência”, complementou Savazoni.

Essa credibilidade era fortalecida na medida em que ficava mais clara a autonomia editorial em relação ao governo.

“Procuramos esclarecer [essa separação], estabelecendo uma comparação com uma universidade pública ou um hospital público. O argumento era simples: você acha que uma universidade deve ser partidarizada, um hospital deve perguntar em quem o cidadão votou para atendê-lo?”, explicou Savazoni ao ressaltar que “o dono da comunicação pública é o cidadão”.

Consolidação da EBC

Em 2007, é criada a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A estatal surge a partir da incorporação do patrimônio, do pessoal e concessões de radiodifusão da Radiobrás e dos bens públicos da União que estavam sob guarda da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp). A EBC é criada para fortalecer o sistema público de comunicação e dar efetividade ao princípio constitucional de complementaridade entre o sistema público, privado e estatal de comunicação.


Brasília (DF), 09/05/2025 - Tereza Cruvinel, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Marcelo Carnaval/Agência Brasil
Brasília (DF), 09/05/2025 - Tereza Cruvinel, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Marcelo Carnaval/Agência Brasil

Jornalista Tereza Cruvinel foi a primeira presidente da EBC. Foto: Marcelo Casal Jr./Arquivo Agência Brasil

Para pavimentar o caminho em direção à comunicação pública, foram instituídos, na EBC, o Conselho Curador (com representantes do governo, da sociedade civil e do quadro de funcionários) e a Ouvidoria.

Primeira presidente da recém-criada EBC, a jornalista Tereza Cruvinel afirma que a Agência Brasil “era uma das melhores heranças que a nova empresa recebia da Radiobrás”.

Ela lembra que sua gestão tinha dois desafios para o veículo.

“Primeiro, consolidar sua gestão como agência pública e não governamental, o que já havia começado na gestão de Eugenio Bucci na Radiobrás. Depois, ela carecia urgentemente de investimentos em tecnologia, para melhorar e ampliar o acesso dos leitores e a oferta de conteúdos”, afirma, destacando que, à época, foram destinados importantes recursos financeiros para essa finalidade.

“Também era nosso desafio torná-la multimídia, com maior oferta de vídeos e áudios. Isso avançou um pouco mas creio que ainda falta muito fazer”, afirmou.

Tereza cita ainda os vários acordos de cooperação com agências públicas estrangeiras, como a argentina Télam, a portuguesa Lusa e a chinesa Xinhua.

A jornalista lamenta não ter conseguido avançar na criação da Ulan – a União Latino-Americana das Agências de Notícias Públicas -, uma articulação feita por ela e o então presidente da Télam Sergio Novoa.

“Fizemos uma reunião com 9 agências em Caracas [em 2014] e estávamos avançando para a criação do portal unificado. Nisso, acabou meu mandato na EBC e o de Novoa na Télam. O projeto morreu”, recordou.

Alguns anos depois, em 2016, sob a liderança do jornalista Paulo Totti, à época gerente executivo de Agências da EBC, a Agência Brasil fez seu primeiro programa de correspondentes e enviou repórteres concursados para cinco capitais: Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. O intuito era ampliar a cobertura nacional e dar mais destaque para notícias fora do eixo Rio, São Paulo e Brasília.

Entretanto, logo após o impeachment de Dilma Rousseff, no início do governo do ex-presidente Michel Temer, o Conselho Curador da EBC é extinto por meio de medida provisória e o programa de correspondentes, encerrado. Uma das primeiras coberturas afetadas pelas mudanças foi a do assassinato da vereadora Marielle Franco, que teve o acompanhamento da investigação restringido.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, o diálogo com a sociedade civil também foi reduzido na esfera editorial, com uma série de temas relacionados aos direitos humanos interditada.

Após a retomada do projeto de comunicação pública, no terceiro governo Lula, a Agência Brasil reassumiu sua vocação de cobertura voltada para o debate e políticas públicas.

A jornalista Tereza Cruvinel reconhece a resistência dos funcionários da EBC como importante trincheira para a manutenção do jornalismo público.

“O que posso dizer hoje é que, apesar dos retrocessos e das violências sofridas no período Temer-Bolsonaro, a Agência Brasil resistiu, graças a seu corpo funcional, e continua honrando sua tradição de fazer bom jornalismo público.”

Prêmios


São Paulo SP 04/12//2023 - Entrega do Prêmio Einstein + Admirados da Imprensa de Saœde,Ciência e Bem-Estar, no Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein . Foto Paulo Pinto/Agência Brasil
São Paulo SP 04/12//2023 - Entrega do Prêmio Einstein + Admirados da Imprensa de Saœde,Ciência e Bem-Estar, no Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein . Foto Paulo Pinto/Agência Brasil

Jornalistas da Agência Brasil recebem o Prêmio Einstein + Admirados da Imprensa de Saúde,Ciência e Bem-Estar, em 2023. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Além da reprodução das matérias por diversos veículos, a qualidade do jornalismo da Agência Brasil é chancelada pelos numerosos prêmios que o veículo recebeu ao longo de sua história.

Em 2008, a Agência ganha, pela primeira vez, o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos com o especial Nação Palmares. De lá para cá, dezenas de prêmios foram concedidos a reportagens especiais e aos profissionais que trabalham no jornalismo público.

Apenas em 2024, a Agência Brasil recebeu 6 prêmios jornalísticos pela excelência do seu material e reconhecimento do profissionalismo de seus repórteres e fotógrafos.

>> Veja lista de prêmios conquistados pela EBC

Aperfeiçoamento da democracia


Brasília (DF), 09/05/2025 - Professor de comunicação (UNB) e ex. Ouvidor adjunto da EBC, Fernando Paulino, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Fernando Paulino/Arquivo pessoal
Brasília (DF), 09/05/2025 - Professor de comunicação (UNB) e ex. Ouvidor adjunto da EBC, Fernando Paulino, especial aniversário de 35 anos da agência Brasil
Foto: Fernando Paulino/Arquivo pessoal

Professor da Faculdade de Comunicação da UnB e ex-ouvidor adjunto da EBC, Fernando Paulino, afirma que a Agência Brasil é um instrumento de aperfeiçoamento da democracia. Foto: Fernando Paulino/Arquivo pessoal

Ouvidor adjunto da EBC de 2009 a 2012, o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), Fernando Paulino avalia que, enquanto agência pública de notícias, a Agência Brasil não é apenas um instrumento de acesso e circulação de informações.

É também, segundo ele, um instrumento de prestação de contas e, com isso, “de aperfeiçoamento da democracia, uma vez que promove mais transparência e contribui para o maior envolvimento da população nas tomadas de decisão”.

Na avaliação dele, a Agência tem, enquanto instrumento de comunicação pública, potencial “bastante significativo para tratar de assuntos e temas relevantes que, por vezes, não estão na agenda de outros veículos, com outros interesses e outras finalidades”.

Para Eugênio Bucci, é preciso que as autoridades compreendam que bons serviços de informação difundidos por veículos públicos podem ajudar o governo.

“Temos universidades custeadas por recursos públicos e não sofrem nenhuma interferência da autoridade do Executivo sobre aquilo que está ensinando ou pesquisando. É assim que tem de ser. O mesmo princípio vale para a comunicação pública. O resultado final é que isso é melhor para o próprio governo, que ganha credibilidade, ganha respeitabilidade”, afirmou Bucci.




Fonte: Agência Brasil